Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos continuar falando sobre São Francisco de Assis. Agora o SEGUNDO LIVRO de Tomás de Celano. Sobre a cítara angélica que ouviu.
Mas quando os corações estão cheios de alegria espiritual, a serpente derrama à toa o seu veneno mortal. Os demônios não conseguem fazer mal ao servidor de Cristo quando o veem transbordante de santa alegria. Mas quando o ânimo está abatido, desolado e melancólico é facilmente absorvido pela tristeza ou então é dominado pelos falsos prazeres”. Por isso o santo se esforçava por viver sempre no júbilo do coração, conservando a unção do espírito e o óleo da alegria. Evitava com muito cuidado a horrível doença da acédia, a tal ponto que, era só sentir fraquejar um pouco, ele já corria a rezar. Dizia: “O servo de Deus perturbado por alguma coisa, como acontece, deve levantar-se quanto antes para rezar, e ficar firme diante do Pai supremo até que lhe devolva sua alegria salutar. Porque, se demorar na tristeza, fará desenvolver-se esse mal babilônico que, no fim, se não for lavado pelas lágrimas, acabará deixando no coração uma ferrugem permanente”. Nos dias em que esteve em Rieti tratando dos olhos, chamou um dos companheiros, que tinha sido citaredo no século, e lhe disse: “Irmão, os filhos deste século não entendem os desígnios divinos. A libido humana passou a usar os instrumentos de música, destinados antigamente aos louvores divinos, só para agradar os ouvidos. Por isso eu gostaria, meu irmão, que fosses pedir em segredo uma cítara emprestada para tocar alguma canção bonita e dar algum alívio ao irmão corpo cheio de dores”. O frade respondeu: “Pai, tenho muita vergonha, porque podem pensar que cedi a uma tentação de leviandade”. O santo disse: “Então vamos esquecer isso, irmão. Há muitas coisas que é melhor deixar de fazer para não ferir a boa fama”. Na noite seguinte, estando o santo acordado e a meditar em Deus, soou de repente uma cítara de admirável harmonia e suavíssima melodia. Não se via ninguém, mas dava para perceber pela facilidade do ouvido que o citaredo estava andando para lá e para cá. Afinal, com o espírito dirigido para Deus, o santo Pai sentiu um prazer tão suave com aquela doce música, que parecia ter sido transferido para outro mundo. Quando se levantou de manhã, o santo chamou o frade de quem falamos acima, contou-lhe tudo em ordem e disse: “O Senhor, que consola os aflitos, nunca me deixou sem consolação. Eu não podia escutar as cítaras dos homens e acabei ouvindo uma outra mais suave”. Às vezes, fazia essas coisas. A suavíssima melodia do espírito, quer fervia dentro dele, expressava-se exteriormente num cântico francês. Também a veia do sussurro divino, que recebia furtivamente em seus ouvidos, prorrompia num júbilo francês. Às vezes – como pude ver com meus olhos – pegava um pedaço de pau no chão, punha-o sobre o braço esquerdo, segurava na direita um arco retesado por um fio, passava-o no pedaço de pau como se fosse um violino e, representando os gestos adequados, cantava ao Senhor em francês. Frequentemente toda essa festa toda acabava em lágrimas, e esse júbilo se dissolvia na compaixão para com a paixão de Cristo. Então o santo começava a suspirar sem parar, gemendo muito, e logo, esquecido do que tinha nas mãos, era arrebatado ao céu. …
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.