Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos continuar falando sobre São Francisco de Assis. Agora o SEGUNDO LIVRO de Tomás de Celano. Sobre os frades espanhóis.
Mas sabemos que, em alguns, as doenças da vontade própria estão profundamente arraigadas e precisam de fogo e não de pomadas. É claro que para muitos é mais saudável quebrar com uma verga de ferro que acariciar com as mãos. Mas o óleo e o vinho, a vara e o cajado, o zelo e a piedade, a queimadura e a unção, o cárcere e o colo, tudo tem seu tempo. O Deus das vinganças e Pai das misericórdias quer tudo isso, mas deseja mais a misericórdia que o sacrifício. Às vezes, este homem santíssimo arrebatava a mente para Deus e se rejubilava no espírito quando o bom odor de seus filhos chegava até ele. Aconteceu que um espanhol, clérigo devotado a Deus, teve uma vez a alegria de fazer uma visita e de conversar com São Francisco. O qual, entre outras coisas sobre os frades que estavam na Espanha, alegrou o santo com este relato: “Em nossa terra, os teus frades moram em um eremitério pobrezinho e organizaram a vida de maneira que metade deles cuida dos trabalhos domésticos e metade se entrega à contemplação. Desse modo, cada semana os que estavam na atividade passam para a contemplação, e os contemplativos substituem o recolhimento pelos trabalhos”. “Certo dia, posta a mesa e dado o sinal para chamar os ausentes, compareceram todos menos um, que era dos contemplativos. Depois de esperar um pouquinho, foram à sua cela chamá-lo para comer, apesar de estar sendo servido pelo Senhor numa mesa muito mais rica”. “Encontraram-no prostrado no chão sobre o rosto, estendido em forma de cruz, sem demonstrar que estava vivo por movimento nenhum, nem respiração. Duas velas ardiam a seus pés e junto da cabeça, iluminando admiravelmente a cela”. “Deixaram-no em paz para não perturbar sua unção, ‘para não acordar a esposa enquanto ela não quisesse’. Os frades ficaram espiando pelos buracos da cela, ‘ficando atrás da parede e olhando pela fechadura. Que mais? Enquanto ‘os amigos auscultavam aquela que morava nos jardins’, a luz desapareceu de repente e o frade voltou a si. Levantou-se depressa, foi à mesa e deu sua culpa por causa do atraso”. “Isso aconteceu em nossa terra”, disse o espanhol. São Francisco não se aguentava de alegria, inebriado com esse perfume de seus filhos. Levantou-se imediatamente para louvar e, como se sua única glória fosse essa de ouvir coisas boas sobre os frades, falou da plenitude de seu coração: “Dou-vos graças, Senhor, que sois o santificador e o guia dos pobres, que me alegrastes por esta notícia a respeito de meus irmãos! Eu vos peço que abençoeis com a maior bênção aqueles frades e que santifiqueis com um dom especial todos os que valorizam sua profissão pelos bons exemplos! ”. Embora tenhamos visto até agora como a caridade do santo se alegrava com os sucessos de seus amados irmãos, sabemos que não deixou de corrigir com energia os que, nos eremitérios, não viviam de acordo. Porque há muitos que transformam o lugar da contemplação em lugar de ociosidade, fazendo do modo de vida eremítico, inventado para aperfeiçoar as almas, uma sentina de seus maus desejos. …
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.