Da esquerda para a direita: Eurípedes Mesquita Rodrigues, Ozório Gonçalves Nogueira e João da Silva Cravo

Povoado da Estação x Invernada – Uma Queda-de-Braço de Três Anos

Walter de Oliveira*

Como dito no artigo anterior, era grande a preferência das pessoas – quer as que moravam na “Invernada” ou as que chegavam à região – em morar no “povoado da estação”. O seu contínuo e surpreendente crescimento levou Eurípedes, Ozório e outras lideranças locais a reivindicarem desde logo a transferência para ele, da sede do Distrito Judiciário, com o que e de forma veemente se opunham as lideranças da “Invernada”, sobretudo João Cravo. Sabia ele, que se isso acontecesse, “Invernada” perderia para o novo povoado (como acabou perdendo) todos os serviços públicos que sediava (correio, cartórios, coletoria, etc.). Para vencer tal resistência, Eurípedes e Ozório tiveram que jogar duro e Ozório, perspicaz e ágil no pensar e agir, sugeriu a Eurípedes uma estratégia de ação, que, aceita por este, funcionou como um insumo em favor do novo povoado, puxando, de vez “Invernada” para trás. O plano se resumia em oferecer, gratuitamente, aos proprietários de casas na “Invernada”, sobretudo aos comerciantes, um terreno no “povoado da estação”, do mesmo tamanho do terreno que possuíam lá, desde que, dentro de seis meses, eles transferissem para o novo povoado as suas casas ou lojas. Foi tal o êxito da estratégia adotada, que mesmo contra a vontade das lideranças de “Invernada”, o que se viu em pouco tempo foi um verdadeiro êxodo da população da “Invernada” rumo ao “povoado da estação”.

O fato é, que em menos de um ano de existência, o novo “povoado” contava com uma expressiva população, na qual pontuavam pessoas que teriam grande destaque na primeira fase da vida de Bandeirantes, como José Gabelone, Antenor Moretti, Pedro Rosa Ruiz, os irmãos Antônio, Luiz, Carlos e Vitório Storer, Josué e José Aranha, Estevão Leite de Negreiros, Amiral Henriques, João Afonso, Idalino Cipriano Carneiro, Toyoso Arai, Kaito Ussai, João Batista de Souza (1º hoteleiro), João Pavão e tantos outros. Não obstante fosse mais do que evidente a força do “povoado da estação”, as lideranças invernadianas, sempre encabeçadas por João Cravo, não davam o braço a torcer e não concordavam com a transferência da sede distrital para o povoado de Eurípedes e Ozório, uma preocupação para estes. Essa transferência da sede distrital era de suma importância para ambos, que pensavam e agiam tendo por meta a criação do município, cuja sede importava em abrigar a estação ferroviária e não em se situar a três quilômetros dela. Eurípedes, preocupado com o atendimento à população, deixava a cargo de Ozório planejar o que fazer com vistas não só a manter, como elevar o interesse da população a tudo que se referisse ao novo povoado, o que requeria sempre pensar e/ou conceber novas estratégias de ação.

Dessa vez, a bandeira foi criar condições, embora mínimas, para as atividades religiosas da população do nascente povoado. Reuniram então os amigos José Gabelone, irmãos Storer, Antenor Moretti e os outros acima nominados, os quais, mangas arregaçadas, empunharam foice, machado e enxada e fizeram uma limpeza num terreno, no qual ergueram uma construção rústica (um rancho) onde, a 3 de maio de 1932, o padre João Belchior, da paróquia de Cambará, celebrou a primeira missa. Nesse ano foi também fundado o primeiro clube recreativo-esportivo local, e em 3 de outubro de 1933, o Bispo da Diocese de Jacarezinho, D. Fernando Tadei, inaugurava a primeira capela do novo povoado. A estratégia dera resultado e a população da “estação”, crescente a cada dia, não escondia o seu contentamento, menos as lideranças de “Invernada”, que não disfarçavam um visível mau humor com toda aquela situação.

Todavia, eis que um importante fato decidiu, de vez, aquele impasse: a visita do Interventor Manoel Ribas ao “povoado da estação”. Encontrando-se no Distrito de Cornélio Procópio em visita de inspeção às obras da estrada de ferro, Sua Excelência resolveu vir até a nossa região e ver de perto o propalado desenvolvimento do novo povoado. O Interventor Manoel Ribas, também um desbravador e cujo lema de trabalho era “governar é abrir estradas”, ficou impressionado com o que viu, e a partir daí o “povoado da estação” passou a contar também com as graças do próprio Interventor. Mas, não obstante tudo isso e com todos os ventos soprando a favor do novo povoado, foi preciso ainda muito esforço para vencer a resistência pétrea de João Cravo à transferência da sede distrital para o “povoado da estação”. A difícil, mas finalmente obtida concordância daquele lendário lusitano com a dita transferência, deveu-se muito ao trabalho de um seu grande amigo, também vindo de além-mar, Joaquim Carreira, a quem Cravo incumbiu de levar à sua casa, e finalmente “fumarem o cachimbo da paz”, as seguintes pessoas (segundo informações obtidas pelo autor, de Ozório Nogueira): Eugênio Macaco, Eurípedes Rodrigues, o próprio Ozório, Estevão Leite de Negreiros, Otacílio Arantes Pereira, Pedro Belan, José Pinhão, Hamilton Oliveira Filho, Gilberto Freire, José Gabelone, Pompeo Tomasi, Vicente Forcinetti, Benedito Manso, Ernesto Fischer, Antenor Moretti, Leandro Maciel, Josué Alves Aranha, Guilherme Knoll, Alberto Faria Cardoso, Asdrúbal de Figueiredo Gizzi e outros pioneiros, que em clima festivo relaxaram os ânimos e alegraram o espírito com um legítimo vinho do Porto e a boa cerveja Brahma, que João Cravo sempre tinha em sua venda para os amigos e para ocasiões especiais. Afastada afinal aquela longa e empedernida rixa, todos se deram as mãos e vestiram a mesma camisa. A camisa de Bandeirantes.

(Conclusão no próximo artigo)

* Walter de Oliveira, 88, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.

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