Glaucea Santana Santos: de professora a artesã

A arte de fazer trabalho com as mãos encanta desde sempre. Com os laços não é diferente e a cada dia as ‘laceiras’ trazem mais arte para a ‘cabeça das bonecas’ de verdade

Regiane Romão

A mulher exerce um papel fundamental na sociedade. Muitas vezes, são a única fonte de renda de uma casa, e além de trabalhar fora, cuida dos filhos, marido, as vezes dos pais, dos sogros. Toda essa dedicação muitas vezes é considerada uma forma ‘guerreira de ser’, mas apenas quem passa por essa situação sabe o quão é difícil ser a única provedora do lar.

A mulher está em constante busca do aprendizado. O mercado de trabalho é competitivo e apesar de estarmos no século 21, as mulheres ainda sofrem discriminações, normalmente o salário é menor, com cobranças maiores. Ela sabe o quanto é complicado sair para trabalhar, deixar o filho doente, chorando e ele pedindo para não ir. Por isso que, mesmo quando exercem os trabalhos mais simples, o fazem com maestria.

O artesanato, que no tempo das avós era uma forma de ‘agradar o marido’, atualmente é uma fonte de renda para muitas mulheres e por que não dizer de alguns homens também? Eles já se dedicam aos trabalhos manuais para sobreviver.

Quando crianças, as meninas usam as bonecas para brincar e treinam, de certa forma, para serem mães. Nas bonecas, elas usam acessórios para embelezar as ‘filhinhas de brinquedo’. E essas menininhas crescem e tornam mães. Começam a enfeitar uma ‘bonequinha’ de verdade.

É aí que entra a ‘laceira’. Uma artesã que usa as mãos para criar acessórios que encantam os olhos das mamães e fazem com que as suas meninas fiquem ainda mais bonitas. Esta é a arte de Glaucea Santana Santos, uma baiana carismática e determinada de 36 anos. Formada em pedagogia, trabalha com crianças que cursam do primeiro ao quinto ano do fundamental.  Viu nos laços uma forma de aumentar a renda e encantar as pessoas.

Com as atividades de professora na parte da manhã, a tarde ela se divide entre ser mãe, artesã, dona de casa.

Perfil na rede social é ‘Boneca Vaidosa Laçarotes’, no Instagram

FAMÍLIA – Casada há 10 anos, Glaucea tem um filho de 2 anos e 10 meses, o Isaque, que segundo ela não veio de uma gravidez planejada, mas de uma gravidez muito desejada. “Estava casada há sete anos quando o Isaque chegou. Meu marido é fotógrafo e não havíamos planejado a gestação, mas desde o princípio meu filho foi muito amado”.

INÍCIO DOS TRABALHOS – Há dez anos Glaucea fazia artesanatos com biscuit e também trabalhava com feltro (um tipo de tecido usado principalmente em decorações infantis já que é maleável e de fácil manuseio). A confecção de acessórios para cabelo veio um tempo depois. “Comecei a fazer laços porque a mãe de uma aluna sempre me pedia para consertar os lacinhos da filha dela que por vezes soltavam as fitas, eu sempre arrumei, eu trabalhava na educação Infantil nessa época”.

Com esses consertos ela descobriu um novo dom, o de reformar laços. A mãe da criança então incentivou Glaucea a fazer os laços. “Disse a ela que não levava jeito para essas coisas não, que eu fazia biscuit, mas laço eu não tinha certeza se conseguiria”, recordou. Ela começou a testar alguns modelos de tecido e fazia inclusive acessórios para os pets, usava muitas pérolas, flores, fazia arcos, de maneira totalmente artesanal.

Dessa forma começou a aparecer clientes e então, ela decidiu investir, começou a assistir vídeos no YouTube, já que nunca fez cursos específicos, e a vender os seus trabalhos. “Desde que decidi fazer laços sempre busco me aperfeiçoar, nunca fiz um curso de ‘laceira’, mas assisto vídeos no YouTube e estou sempre aprendendo, quero melhorar cada dia mais”.

Ela percebeu que estava se tornando uma ‘laceira’ quando, em 2017, o marido ficou desempregado e eles resolveram vender os laços nas portas das escolas em Salvador. “Pesquisamos as escolas e de manhã eu dava aulas e a tarde e à noite eu produzia os laços. Meu marido ia, três vezes por semana na porta das escolas e montava a nossa barraquinha. Eu precisava produzir bastante para ter variedade para as clientes”.

As mães e as meninas já conheciam a banquinha e falavam que era o ‘Tio do Laço’. Glaucea e o esposo fizeram esse tipo de venda durante quase um ano. O empreendimento teve que ser pausado porque Glaucea engravidou e o pequeno Isaque já estava para nascer.

Em março de 2020, início da pandemia, a baiana se viu em meio a um novo conflito: como manter esse trabalho sem estar em contato com outras pessoas? Ela então criou kits promocionais de faixas para recém-nascidas, já que, como ela mesmo diz, não para de nascer crianças.

O mais difícil, nesses 10 anos foi manter o pequeno negócio e com a chegada da pandemia o aumento do preço dos materiais. “Foi difícil também a fase em que eu tinha que esperar o Isaque dormir para então trabalhar. Produzia durante toda a noite e tinha que estar de pé no outro dia de manhã para dar aula. Esse período foi bem cansativo, mas passou”.

Com o passar do tempo, as redes sociais passaram a fazer parte do trabalho da artesã. Ela então criou o perfil ‘Boneca Vaidosa Laçarotes’ no Instagram e a partir daí seu trabalho ficou ainda mais conhecido. Porém, com a exposição na internet, surgem as propostas absurdas. “Certa vez uma mãe me procurou e me propôs uma parceria, ela me contou que o Instagram da filha dela tinha muitos seguidores e que era para eu enviar dez laços para que ela fizesse publicidade, eu ri e disse que não tinha interesse, já que não me interessa apenas aumentar o número de seguidores”.

Para quem quer se aventurar nesse mundo dos laços, Glaucea deixa eu mensagem de carinho e persistência: “Seja persistente, seja forte e foque no que você ama fazer de coração. Nunca se deixe levar pelo pessimismo, mas acredite no seu potencial e lute para conquistar o seu objetivo. Vai valer a pena”.

1 COMENTÁRIO

  1. Opa consegui achar a informação correta que estava
    procurando. Infelizmente tem muita informação errada na
    internet. Compartilhei no meu facebook. Obrigado.

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