Jayme Canet Júnior, Governador do Estado do Paraná, 1975 a 1979.

Águas Yara – A “Deusa das Águas”

(Décima Quarta Parte)

*Walter de Oliveira

O passo a passo para o asfaltamento da “Estrada da Yara” – IV

No relato dos nossos fragmentos históricos, o capítulo sobre Águas Yara será por certo um dos mais extensos. Podemos hoje afirmar com certeza, ser este o penúltimo ou, no máximo, o antepenúltimo sobre a “Deusa das Águas”.

Superada a questão dos custos do projeto do balneário, que foram assumidos pelo Comendador Luiz Meneghel, pusemo-nos de novo na estrada e fomos à Poços de Caldas buscar o eminente cientista mineiro, já então contratado para realiza-lo, uma operação que se repetiu por dez vezes durante os dois anos gastos no detalhado e apurado trabalho de projetar o balneário, do qual, além do doutor Mourão e sua equipe, participaram os funcionários municipais Kunio Ochiai, Rachel de Freitas Bueno (hoje senhora Valdir Bittencourt), Anita Balduino (atualmente morando na Espanha) e Nelson Garcia, afora os autônomos Mustafa Alfatah Salli e Iunes Salli, contratados para isso pelo município, que tinha grande interesse na sua realização.

Já instalado no Hotel Termas Yara, doutor Mourão reuniu as referidas pessoas, assim como nós, o prefeito Jamil, Paschoal D’Andrea e seus filhos Júlio César e Márcio Antônio, às quais expôs as linhas e diretrizes que norteariam o projeto, durante cuja exposição, todos perceberam a razão do governo francês tê-lo recomendado ao governo paulista para projetar o balneário de Águas da Prata. Embora versando sobre um assunto que sugeria ser monótono e pouco atrativo, aquela longa exposição absorveu de tal forma a atenção dos presentes, que estes nem sentiram o passar das duas horas de sua duração. Atestando o seu “status” de professor emérito da USP, doutor Mourão não apenas conseguiu mostrar aos seus ouvintes o que seria o balneário de Águas Yara, como ao evidenciar os seus conhecimentos técnicos e pelo entusiasmo de sua fala, os contagiou ao ponto de ganhar de cada um a total adesão e engajamento até o ato final do projeto sob o seu comando. Como se diz na conhecida e bastante usada expressão popular, em termos de projeção de balneário, doutor Mourão “era o cara”.

Sem entrar em maiores detalhes sobre o projeto, mas apenas para que os leitores que nos honram com a sua atenção tenham ideia da sua magnitude, o capítulo socioeconômico trazia um levantamento estatístico (contendo população, profissionais liberais, indústrias, bancos, rádios, jornais e outros) de “todos” os municípios paranaenses e paulistas situados num raio de 200 quilômetros a partir de Bandeirantes (isso foi feito através de questionários enviados a cada município). Escusado dizer das previsões para os setores de banhos terapêuticos, saunas, alimentação, sítios e locais de lazer e passeios, enfim, tudo o mais que se possa encontrar num balneário propriamente dito. Não por acaso, o projeto foi considerado o mais moderno e bem elaborado da Região Sul do país.

Encerrados os trabalhos e feitas as suas encadernações, o deputado estadual Fuad Nacli, atendendo pedido do prefeito Jamil Fares Midauar, marcou audiência com o Governador Jayme Canet Júnior para a entrega à Sua Excelência, do projeto do balneário e um ofício do prefeito contendo as reivindicações pertinentes, com destaque para o asfaltamento da estrada Bandeirantes-Águas Yara, sobre o qual vimos muitas pessoas fazerem ar de mofa e zombaria, numa clara demonstração da descrença na possibilidade do governo estadual fazer tal obra. Na referida audiência, à qual também comparecemos, estavam presentes o deputado Fuad Nacli, o prefeito Jamil, D’Andrea, doutor Mourão e o empresário Serafim Meneghel (presidente do diretório municipal da ARENA, partido político ao qual pertenciam o prefeito e o governador do estado). Visivelmente entusiasmado com o projeto, Sua Excelência disse que tanto ele, como as reivindicações apresentadas pelo prefeito, seriam objeto da mais acurada análise pelos setores oficiais competentes, a fim de que o governo se pronunciasse a respeito no mais curto prazo possível.

Decorridos já três meses (que mais pareceram três anos) daquela audiência, chegou a tão aguardada resposta do governo e coube a nós, como chefe de gabinete, tomarmos ciência de seu teor, o qual, não sendo bem o que esperávamos, não nos causou nem de perto, o bombástico efeito que causou no prefeito e também em D’Andrea, que só veio a se inteirar da notícia à noite, quando fomos – nós e o prefeito – jantar com ele. Após os mais generosos elogios sobre o projeto, dizia o ofício do governador, que embora o lazer (foi essa a interpretação – lazer – que o governo deu ao projetado balneário) fosse um setor a ser contemplado com ajuda oficial, no tocante ao asfaltamento de estradas, a prioridade do governo paranaense naquele momento, era asfaltar as vias de “escoamento agrícola”. A notícia teve o efeito de uma pancada na cabeça de D’Andrea, que literalmente abatido em seu ânimo e brioso como era, disse do seu profundo arrependimento, especialmente, por haver levado o Comendador Luiz Meneghel a um milionário desembolso ao custear um projeto que deu em “águas de barrela”, ou seja, em nada. Para D’Andrea, o sonho do balneário tornara-se um pesadelo.

Até ali, o clima do jantar estava mais para clima de velório, tão cabisbaixos e desarvorados estavam D’Andrea e o prefeito Jamil. Esse clima, todavia, não nos incluía, posto que a leitura que fazíamos do ofício do governador era diametralmente oposta à dos nossos dois ilustres amigos. E nesse instante, e não mais movidos por qualquer vislumbre inspiratório senão por convicção absoluta de que não éramos derrotados, mas vencedores, propusemos um brinde aos dois amigos, que ante à essa nossa posição, ficaram perplexos e preocupados, achando que não estávamos passando bem, visto – segundo a ótica de ambos – estarmos propondo um brinde ao azar. E para aumentar a estupefação de ambos, levantamo-nos e, de copo na mão dissemos: “Um brinde ao nosso asfalto”.

(Continua na próxima edição)

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui