Os Pioneiros, por ramo de atividade no povoado
Segunda Parte
*Walter de Oliveira
No listamento dos nomes dos nossos pioneiros (povoado da estação), segundo seus “ramos de atividade”, encerramos o nosso artigo anterior ao chegarmos nos ALFAIATES, assim chamados os donos de uma ALFAIATARIA ou aqueles que nela trabalhavam. Da geração contemporânea, quase a totalidade nem sabe que uma alfaiataria era o lugar onde se confeccionava um terno ou parelho, ou seja, a roupa masculina social ou de passeio. Em se tratando de roupa feminina, esse mesmo local chamava-se “atelier”, onde a sua dona ou costureiras que ali trabalhavam, eram as “modistas”.
Ambas essas profissões estão hoje praticamente extintas, face à evolução e o aprimoramento das indústrias de confecção. Hoje, à necessidade de um terno ou vestido novos (seja para casar ou ir a um casamento ou a uma solenidade importante), basta procurar uma boa loja de roupas feitas, que o problema estará resolvido. Nos tempos de que hoje falamos, a solução era a ALFAIATARIA ou o ATELIER. Por isso, esses estabelecimentos precisavam contar com estoque próprio de tecidos e conexos. No caso masculino, os tecidos mais procurados eras a casimiras “Inglesa” ou “Aurora”, o linho “S 120”, a “palmicha”, “albene” e “brim cáqui”. Já a preferência das damas era a “seda”, “tafetá”, “organdi suíço”, “gorgurão”, “lamê” e “anarruga”. Mas isso tudo nada valeria, se não tivesse o “toque” (a habilidade, a ciência) do alfaiate ou da modista. Aoperação para se chegar ao êxito esperado (o cavalheiro ou a dama elegantemente trajados) começava por “molhar” o tecido e depois “passá-lo a ferro”, evitando que viesse a “encolher”.
Isto feito, vinha depois a “tomada das medidas” do cliente, que juntamente com o seu nome eram cuidadosamente anotados, marcando-se então a “data” para a “primeira prova” da roupa (terno ou vestido) já “chuleado” à mão, quando se “marcava a giz” alguns ajustes ou correções a serem feitos. Após a “segunda prova”, a roupa ia para a fase da “costura” e “arremates” (caseamento, pregação de botões, feitura de bainhas, colocação de ombreiras e etc.) e entrega ao(à) cliente. Esse era o roteiro seguido para que uma dama ou cidadão daqueles tempos fizesse “boa figura” numa solenidade ou festa. Feito esse “retrato” de uma época, vamos agora a esses(as) operários(as) ou “artistas” da tesoura, agulha, linha e criatividade.
Ao tempo do distrito de Bandeirantes (Invernada) não há notícia referente a esses profissionais, que só apareceram na região com o florescimento do povoado da estação, ou seja, com a chegada da estrada de ferro. O primeiro deles que aqui chegou – e isso ali por 1035/1936 – foi Jacob Ossovski, que a se julgar pelo seu sobrenome devia ser de origem indo-europeia. Pessoa de hábitos e trato refinados, Ossovski angariou muitos amigos em pouquíssimo tempo e também em pouco tempo e mercê da sua mestria profissional, fez freguesia jamais igualada pelos seus muitos concorrentes aqui aportados. Sua alfaiataria – Estrela D’Alva – se situava onde hoje é a farmácia do Roberto. Dentre os seus muitos auxiliares, destacamos o seu sobrinho Carlito Ossovski, que depois migrou para a carreira de cartorário, na qual se aposentou como tabelião e oficial do Registro Civil de Itambaracá.
Trabalhou também com Jacob, o bandeirantense Leonel Sanchez, que aprovado depois em concurso do Banestado, ali trabalhou até se aposentar. Seguiram-se a Jacob Ossovski vários outros da “tesoura” e “costura”, a saber: a) José Lino Filho, também conhecido por Zé Enxerga, estrábico que era. Com ele trabalhavam dois cunhados, José e Lauro Chanca, irmãos da professora Guiomar Chanca Alves Pereira, ainda em nosso convívio; b) Antônio Henrique Cruz, que vem a ser tio da Jussara Nielsen Conter, esposa do Luiz Henrique Conter (o popular Guê-Guê); c) Ricieri Ragazzi, que vem a ser tio-avô do comerciante Carlos Gôngora; d) José Alves, conhecido por “Nenê Boca Preta”, que foi casado com a já falecida professora Norma De Carli Alves (e cujo neto, Francisco, trabalha na Casa Renascença); e) Edilberto Onça (conhecido por Nenê), que tinha entre seus auxiliares, a esposa Aparecida Pavão, neta do “pioneiro” em olaria, João Pavão; f) os irmãos Aristeu (Ari Careca) e Benedito Bernardino, cuja alfaiataria ficava na Avenida Bandeirantes, ao lado da barbearia do “Bichinho”, nome pelo qual era conhecido Francisco Cosmo Nunes, e g) José Portes. Este, a par do bom profissional que inicialmente foi, se entregou depois ao alcoolismo, encerrando prematuramente a sua carreira e a vida. Contudo, por conta do seu permanente bom-humor e perspicácia, logrou entrar para o folclore da nossa história, atribuindo-se a ele bons e picantes chistes.
Embora fugindo da ORDEM ALFABÉTICA que adotamos para a listagem dos pioneiros, nos obrigamos, por se tratar do mesmo ramo de atividade, a listar agora as “MODISTAS” pioneiras do povoado da estação e da cidade, a saber: a primeiríssima delas (1936), foi Maria Nogueira de Freitas, com vasta descendência na cidade e filha mais velha do presbítero Francisco Nogueira de Souza (nome de rua na Vila Maria). Seguem-se a ela: a) Floriza Lucena (1940), que foi casada com Basílio Lucena; b) irmãs Leontina e Leonor de Mello; c) Margarida Martins, fundadora (1950) da loja de roupas infantis “Paraíso das Crianças”, cujo marido, doutor Hazael Martins, fundou a “Casa de Saúde Santa Margarida”, em prédio que ele mandou construir, e que posteriormente foi transformado no Palace Hotel; d) Ruth de Oliveira Leiroz, nossa irmã, 92 anos de idade, aqui residente e que iniciou a sua carreira em 1950, na referida loja “Paraíso das Crianças”; f) Alice Nielsen Olstan (mãe da popularíssima professora aposentada Solange Olstan Veiga, esposa de Dino Veiga Filho). Dona Alice, ainda em nosso convívio, também foi “modista” na loja “Paraíso das Crianças” e, g) as irmãs Luiza e Ivone Húngaro, esta última hoje residindo em Curitiba.
(continua…)
* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932