Os Pioneiros, por ramo de atividade no povoado
Terceira Parte
* Walter de Oliveira
Antes de prosseguirmos listando, por “ramo de atividade”, os pioneiros da estação (posteriormente sede do município), cumpre-nos lembrar, que PIONEIRISMO é um atributo exclusivo de quem PRIMEIRO chegou ou atuou num lugar ou atividade. Assim, parece-nos justo e razoável termos por pioneiros nos diversos ramos de atividade da nossa comunidade, quantos, “até a década de 1950”, foram atores nesse cenário. O intuito de tal lembrança é deixar claro e patente que a não menção de um ou vários nomes de conceituados e destacados profissionais nas atividades em epígrafe, não pode e nem deve ser tido ou visto como desconhecimento ou negação dos seus méritos e valores. Como frisado anteriormente, a história continuará a ser escrita, dia após dia, pelas mulheres e homens do seu universo-alvo, os quais, por certo, a atualizarão de época em época. Por outro lado, e como não dispomos dos nomes de todas as pessoas que atuaram, até o final da década de 1950, nas atividades aqui listadas, ficaremos imensamente agradecidos a quantos se dignarem em nos fornecer nomes que eventual e involuntariamente omitirmos.
Isto posto, listaremos agora e obedecida a mesma sequência alfabética, os nomes dos proprietários (e/ou empregados) dos ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS, onde se vendiam desde gêneros alimentícios, bebidas, utensílios domésticos e manufaturados, até armas de fogo e munição e não raro se comprava e vendia cereais. Os dois primeiros desses pioneiros foram os irmãos Toyoso e Tosaburo Arai, que já eram comerciantes desse ramo na sede do distrito de Bandeirantes (Invernada). Descendentes da seis vezes milenar civilização japonesa, ao receberem de Eurípedes e Ozório a oferta de doação de um terreno no novo povoado para ali transferirem, em um prazo de até seis meses, o “fundo comercial” que tinham no distrito, mostraram logo a “visão de águia” dos irmãos. Contava Iuzo Ochiai (pai de Kunio Ochiai), ex-bancário no Japão e imigrante do Kasato-Maru, 1908 e à época morador da Fazenda Nomura, que ouvida a oferta de Eurípedes e Ozório, os irmãos a aceitaram, mas, sob condição: o terreno em que se instalariam devia “fazer frente para as duas principais ruas do povoado, as hoje avenidas Benedito Leito de Negreiros e Bandeirantes. Afora as lojas de esquina, a Casa Arai foi a única com frente para as duas avenidas.
Seguiram-se aos irmãos Arai, mais os seguintes donos de armazéns de secos e molhados: a) Estevão Leite de Negreiros, que com seu filho Benedito, eram os donos da “Casa Renascença” (a mais antiga marca comercial da cidade – desde 1927). Hoje de propriedade de Elias Leite de Negreiros, essa tradicional loja, que já vendeu secos e molhados, segue atuando no ramo de ferragens e materiais de construção; b) Carmo Jarrus, também comerciante no tempo do distrito de Bandeirantes (Invernada), escolheu para a instalação da sua loja o terreno de esquina onde hoje se acha o Banco Bradesco. Ainda no final da década de 1930, Carmo Jarrus vendeu seu armazém para Joaquim Gil e Carvalho, mais conhecido por Quinca Lages. Com residência aqui e em Jacarezinho, Quinca Lages pôs termo à própria vida, assumindo a gestão da loja a sua viúva, dona Dijair, que na década de 1950 a vendeu para a família Jorge Salomão (ainda com descendentes na cidade), última a geri-la até vender o imóvel ao referido conglomerado financeiro; c) Casa São Carlos – pertencente a Carlos Ribeiro da Silva (grande fazendeiro da região) e a Antônio Braga Xavier, que foi um atuante político local pelo partido PSD (Partido Social Democrático), sendo eleito vereador e presidente da Câmara. Outra particularidade histórica da Casa São Carlos, foi ali ter trabalhado como “caixeiro” (atendente de balcão), Eurides Brandão, pai do conhecido e destacado político do Paraná, Hermas Eurides Brandão. A Casa São Carlos foi construída na Avenida Bandeirantes, esquina com a hoje Praça Deputado Valderi Mendes Vilela, também conhecida como Praça Brasil-Japão; d) Casas Unidas – essa casa, uma das primeiras a serem edificadas em alvenaria no povoado, situava-se na Avenida Bandeirantes, exatamente onde hoje se situa a “Pernambucanas”. Seu proprietário era o japonês Taro Miyashiki (ou Mário Miyashiki), que além do ramo de secos e molhados, trabalhava também com bar, sorveteria, ferragens e compra e venda de cereais. Lembramos de ali haver trabalhado, pelo final da década de 1940, (não sabemos se como dono ou empregado) José de Carvalho Henriques, importante liderança política local nos anos de 1960/70, e que empresta seu nome a um conjunto habitacional; e) Casa Paraná – situada na Avenida Bandeirantes, entre onde hoje se situa o Estacionamento Bandeirantes e a loja Zé Maria Calçados, essa casa, além de secos e molhados, era também de tecidos, calçados, chapéus, louças e ferragens. Seu primeiro proprietário foi Elpídeo Salgueiro, que depois a vendeu a Delcides Constantino Miguel, o primeiro comerciante a introduzir na cidade a chamada “entrega a domicílio”. Passados anos, Delcides desativou a loja e a transferiu para Campo Mourão, onde viria a fundar a hoje nacionalmente conhecida Estância Águas de Jurema; f) Casa Ragazzi – essa bandeira designativa deriva do sobrenome do fundador dessa loja de secos e molhados: Leandro Ragazzi. Com farta e ilustre descendência na cidade, Ragazzi foi, ao lado de outros ilustres pares (Antenor Moretti, Pompeo Tomasi, Eurípedes Rodrigues, Ozório Nogueira, Domingos Regalmuto e outros), uma grande liderança empresarial de Bandeirantes dos idos tempos. A despeito de tudo isso e sem se saber o “porquê”, não há, no livro “O Município de Bandeirantes”, 1950, de Solano Medina, qualquer menção ao nome dessa ilustre figura.
(continua…)
* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.