Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos falar de Santa Clara “Plantinha” do Pai Seráfico.
Milagre da multiplicação do pão
Conto dois casos admiráveis que a namorada da pobreza merecesse realizar. Havia no mosteiro um só pão e já apertavam a fome e a hora de comer. A santa chamou a despenseira e mandou cortar o pão, enviando uma parte para os frades e deixando a outra em casa para as Irmãs. Dessa metade, mandou tirar cinquenta fatias, de acordo com o número das senhoras, para servi-las na mesa da pobreza. A devota filha respondeu que iam ser necessários os antigos milagres de Cristo para que tão pouco pão desse cinquenta fatias, mas a mãe a contestou dizendo: ”Filha, faça com confiança o que falei”. Apressou-se a filha a cumprir o mandato da mãe, que foi dirigir a seu Cristo piedosos suspiros em favor das filhas. O pedaço pequeno cresceu por graça de Deus nas mãos de quem o cortava e cada uma da comunidade pôde receber uma bela porção. Certo dia, acabou tão completamente o azeite das servas de Cristo que não havia nem para o tempero das doentes. Dona Clara pegou uma vasilha e, mestra de humildade, lavou-a com as próprias mãos. Colocou-a lá fora, vazia, para que o irmão esmoler a recolhesse, e chamou o frade para ir conseguir o azeite. O devoto irmão quis socorrer depressa tanta indigência e correu a buscar a vasilha. Mas essas coisas não dependem de querer e correr, e sim da piedade de Deus (Rm 9,16). De fato, só por Deus, a vasilha ficou cheia de óleo, pois a oração de Santa Clara foi à frente da ajuda do frade, para alívio das pobres filhas. O frade, crendo que o haviam chamado à-toa, comentou num murmúrio: “Essas mulheres me chamaram por brincadeira, pois, olhe, a vasilha está cheia!”. Da admirável mortificação da carne, talvez seja melhor calar que falar, já que fez tais coisas que o estupor dos ouvintes porá em dúvida a veracidade dos fatos. Não era o mais notável que, com uma simples túnica e um rude manto de pano áspero, mais cobria que abrigava seu corpo delicado. Nem era o mais admirável que desconhecesse por completo o uso de calçado. Não era grande coisa que jejuasse todo o tempo e não usasse colchão de penas. Nisso tinha outras semelhantes no mosteiro e talvez não mereça louvor singular. Mas, como combinam uma carne virginal e uma roupa de porco? Pois tão santa virgem tinha arranjado uma peça de pele de porco e a usava secretamente debaixo da túnica, com o áspero corte das cerdas aplicado à carne. Usava algumas vezes um duro cilício, trançado em nós com crina de cavalo, que com ásperas cordinhas apertava fortemente ao corpo de lado a lado. A pedido emprestou-o a uma de suas filhas, mas, quando ela o vestiu não aguentou tanta aspereza e o devolveu depressa depois de três dias, não tão alegre como quando o pediu. Sua cama era a terra nua; às vezes, uns sarmentos. Como travesseiro usava um toco duro embaixo da cabeça. Com o tempo, de corpo já enfraquecido, estendeu uma esteira no chão e teve a clemência de dar à cabeça um pouco de palha. Amém.
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.