Ginásio de Esportes ‘Chinelão’. Origem do Nome
Walter de Oliveira
Após três semanas sem falarmos dos fragmentos da nossa história, retornamos hoje, porém, com a novidade de não nos ocuparmos da listagem dos nossos pioneiros (1931/1950) por ramo de atividades, o que voltaremos a fazer na próxima semana.
Hoje iremos ao ano de 1976, para contar a origem do apelido (Chinelão) do Ginásio de Esportes 14 de Novembro, do nosso município, o que fazemos em atenção a uma indagação da prezadíssima titular da pasta municipal dos esportes, Mônica Moskado. Pois bem! Estávamos em setembro do sobredito ano, que como o atual, era ano de eleição e em nível municipal disputavam a prefeitura os candidatos Daniel Meneghel e José Fernandes da Silva, ambos então e hoje sobejamente conhecidos da nossa população.
Daniel Meneghel, que tinha por vice o seu primo Roldão Zambon, era tido como o franco favorito, eis que, dado seu poderio econômico-financeiro, contava com o apoio de Jamil Fares Midauar, prefeito em final de mandato e muitíssimo bem avaliado popularmente, mercê do seu excelente desempenho à frente da prefeitura. À parte de tudo isso, estimado como era (e continua sendo) pelos seus milhares de funcionários, Daniel contava com os votos deles e também dos familiares, assim como com os votos de grande parte do funcionalismo municipal, simpático e tendendo a acompanhar o prefeito Jamil.
José Fernandes, tendo por vice em sua chapa o conceituado e estimado médico Ilton de Souza Guerra, embora não dispusesse de muitos recursos financeiros, contava com o apoio de importantes lideranças, tais como os ex-prefeitos José Mário Junqueira e Moacyr Castanho, ambos com grande estima e conceito popular, resultantes da sua bem-sucedida, profícua e respectiva gestão municipal. Funcionário do Banco do Brasil (onde exerceu a função de Chefe da Carteira de Crédito Agrícola), professor e advogado, Zé Fernandes, como era e é conhecido, contava ainda com o apoio de outras importantes lideranças políticas locais e estaduais, como por exemplo, doutor Benedito Bernardes de Oliveira, doutor Celso Fontes, empresários João Mesquita, Hermínio Guedes de Moura, José de Carvalho Henriques, famílias Cravo, Moretti e Lomba, deputado federal Norton Macedo, deputado estadual Rubem Valduga e outros apoiadores de igual jaez.
Em tempos diferentes dos de hoje e de legislação eleitoral menos rígida e restritiva, os períodos eleitorais eram também diferentes. Os comícios eram diários e realizados tanto no centro e vilas da cidade, quanto nos bairros rurais, à época densamente povoados. Cabos eleitorais em profusão, de dia distribuíam “santinhos” dos seus candidatos e à noite agitavam e balançavam bandeiras nos comícios, onde os oradores se sucediam, desfiando elogios e qualidades dos seus candidatos. Afora isso tudo, os muros e locais baldios de maior visibilidade eram tomados por letreiros e painéis, estes permitidos até na então única e, portanto, principal praça pública da cidade, a nossa saudosa Praça Marechal Deodoro (hoje Valderi Mendes Vilela).
E assim, num dos comícios do candidato Daniel Meneghel, fez-se presente o deputado estadual Fuad Nacli, por muitos anos representante do município na Assembleia Legislativa Estadual. Ao usar da palavra e procurando enaltecer as qualidades e atributos do seu candidato, Fuad Nacli estabeleceu um paralelismo entre Daniel Meneghel e José Fernandes. De Daniel, ele disse ser esse o mais competente dos concorrentes, posto que fora forjado na lide administrativa, coadjuvando, desde sua juventude, a gestão da usina de açúcar e álcool de que era sócio. E concluindo a comparação, o deputado orador perguntou: – E o outro candidato (referindo-se a José Fernandes), o que se tem a dizer a seu respeito, a não ser que ele é apenas alguém que ainda não tem história na cidade, na qual chegou há pouco tempo, trazendo somente uma mala na mão?
Foi o suficiente. Perspicaz como poucos, já no dia seguinte José Fernandes fez circular na cidade e por todos os cantos do município, um panfleto com o bonequinho, seu símbolo de campanha, tendo ao seu lado uma mala de viagem, um par de chinelo de dedos e a frase: “o ZÉ DA MALA, o PÉ DE CHINELO, veio para ficar”.
A última expressão (pé de chinelo) Fuad Nacli não a pronunciou, O afirmamos porque estávamos no referido comício. A frase foi acrescentada ao discurso do orador e mais tarde usada por Zé Fernandes (que venceu o pleito por apenas 143 votos) como um apelido para o ginásio de esportes, uma das obras da sua primeira administração, porquanto ele foi eleito três vezes prefeito do município. Foi assim que nasceu o apelido “Chinelão” do Ginásio de Esportes 14 de Novembro.
(continua…)
* Walter de Oliveira, 90, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932