Letícia Bernadete da Silva é formada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) e em Pedagogia pela Unicesumar. Mestranda em Ciências Biológicas na Universidade Estadual de Londrina (UEL), seguirá para o doutorado na mesma instituição.
– Do que trata a sua dissertação?
Minha dissertação é dividida em duas partes: a primeira trata da produção do sangue artificial para uso em grande escala (massal) em estudos e pesquisas. Essa técnica é nova e há poucas pesquisas sobre seu uso; a segunda versa sobre a utilização da bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis israelenses para o controle biológico do inseto. Nesse caso, a bactéria é colocada em ambientes aquáticos que poderiam ser usados para reprodução dos mosquitos e provoca a sua morte. Essa segunda tecnologia, em breve, será oferecida à comercialização por empresas e governos.
– Quais foram os resultados obtidos?
Sabe-se que o Aedes aegypti é um inseto vetor de agentes etiológicos como vírus responsáveis por ocasionar doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana, prejudiciais tanto para humanos quanto para animais domésticos e silvestres. Atualmente a metodologia de controle mais empregada é a química, porém, os inseticidas químicos são generalistas, afetando não apenas o inseto-alvo, como demais insetos. Além disso, a utilização de inseticida químico à base de piretróide aumenta a seleção de indivíduos resistentes. Acrescenta-se ainda os danos ao ambiente e à saúde humana e animal pela exposição a estes produtos.
Neste contexto, é necessária uma metodologia menos danosa e específica para o inseto-alvo, como é o caso da bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis israelensis (Bti) que produz endotoxinas que, ao serem digeridas pelo vetor e ativadas em seu intestino, ocasionam a paralisação das funções digestivas do inseto e a paralisação dos músculos, entre outras consequências, resultando na sua morte. O Bt não acomete outros insetos devido ao seu mecanismo de ação. No momento, tem-se uma parceria em Manaus para a produção em larga escala e comercialização do Bti BR101, que está em processo de transferência de tecnologia.
A dissertação também propõe uma alternativa, o sangue artificial, para a criação de Aedes aegypti em laboratório, diminuindo ou substituindo a utilização de animais em experimentos, destacando ainda o baixo custo do sangue artificial se comparado com o sangue animal.
Com a tecnologia da microtomografia computadorizada por raio x (Micro-Ct), usada no estudo a partir de uma parceria com o Laboratório de Física Nuclear e aplicada sob a supervisão de Eduardo Inocente e do doutorando Mateus Gruener Lima, foi possível observar imagens tridimensionais em escala micro em grande definição, permitindo a avaliação de diversas estruturas e órgãos internos do mosquito. Com a micro-CT, observei um aumento de sete vezes maior do ovário da fêmea alimentada com o sangue artificial em comparação com a fêmea não alimentada.
– Por que essa descoberta é importante para a sociedade?
Com a minha dissertação comprovou-se que o sangue artificial é uma ferramenta eficaz para a produção de Aedes aegypti em laboratório, essencial para pesquisar o vetor. Ademais mostrou-se que a micro-Ct é uma técnica que permite uma observação detalhada do vetor, fornecendo informações sobre sua morfologia e biologia. Acrescenta-se ainda que o Bti estudado tem se mostrado eficaz para o controle do mosquito e, futuramente, será produzido em larga escala e comercializado.
Qual a importância da bolsa da CAPES na sua carreira?
Sou bolsista CAPES desde o início do mestrado. A bolsa me possibilitou investir na minha capacitação acadêmica e profissional e na compra de materiais necessários para a execução deste projeto, além da minha dedicação exclusiva para a pesquisa. Sem ela, seria difícil prosseguir na pós-graduação e na realização de projetos.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC). (CGCOM/CAPES)