João da Silva Cravo - Pioneiro no ramo de produção de leite “in natura”.

OS PIONEIROS NO POVOADO (DE 1930/1950)

QUINQUAGÉSIMA QUINTA PARTE

Walter de Oliveira*

Como fazíamos há quinze meses, voltamos hoje aos registros dos pioneiros do “povoado da estação” (anos 1930/1950), por ramo de atividade, e o fazemos em continuação (e conclusão) aos exploradores do ramo do “leite in natura”, cujo último pioneiro registrado estava na letra “d”, e se chamava Justino Linardi, do qual não logramos conseguir foto, mas sim uma história das mais incomuns. Passemos, então, adiante.

e) João Cravo. Já registrado como “comerciante” e “dono de hotel”, no tópico sobre a Invernada, o português João da Silva Cravo foi também produtor de leite “in natura”, entregue tanto aos moradores da Invernada, quanto aos habitantes do povoado da estação. Como bem o conhecemos (anos mais tarde), sabemos que era ele o “vendedor” e o “entregador” do produto, uma vez que a ninguém (a não ser à esposa Emília) confiava o manuseio dos seus recursos. A exemplo dos seus demais concorrentes, o leite do seu rebanho era da mais alta qualidade.

Embora o livro de Solano Medina (Município de Bandeirantes – 1950) nada adiante sobre informações familiares do ilustre pioneiro, graças à ajuda do registrador civil Silmar Cordeiro, sabemos que João Cravo foi casado duas vezes. A primeira, em Portugal, com dona Rosa Maria, de cujo casamento nasceu o filho Manoel, que veio a casar-se com Marina Pedro (neta do pioneiro da Invernada, João Pedro, do qual se originaram todos os bandeirantenses que possuem os sobrenomes “Pedro” e “Matheus”).

O seu segundo casamento foi com dona Emília, que sendo bastante longeva, foi conhecida por muitos dos atuais bandeirantenses. Desse casamento, nasceram os filhos Vilma e João, sendo que este ficou popularmente conhecido por Zito Cravo, que se dedica ao ramo da agricultura. A filha Vilma foi casada com Douglas Ferro (já falecido) e é mãe de Priscilla Ferro Schultheis (administradora de empresa), e de Rodrigo e Patrick Ferro, empresários que estão à frente do grandioso e sofisticado empreendimento “Resort Morro dos Anjos”, em estágio avançado de construção e em vias de ser inaugurado.

f) José Pereira da Silva. Deste pioneiro, malgrado os nossos esforços, temos apenas o seu nome para registrar, única forma de homenagem pela nossa história.
g) Fausto “de tal”. Assim nominamos esse pioneiro, porquanto omitido no livro de Medina, lembramo-nos dele e do seu primeiro nome, assim como de haver sido um dos pioneiros no ramo em destaque.

Também português, o pioneiro Fausto explorava a atividade de um modo singularíssimo. Morador da Invernada, ele ia à pé para o “povoado da estação”; o leite ele não trazia nem às costas, em embornais contendo os litros do produto, nem em latões, como o faziam os demais do ramo; era a própria “fonte produtora” (isto é, a vaca) que o trazia consigo, ainda em seu corpo, quentinho, e à espera de ser “tirado”. Fausto vinha para o povoado puxando a sua vaca por uma corda presa ao cabresto preso a ela, e que tinha também pendurado no pescoço, um sonante sincerro (uma espécie de sineta), que de longe anunciava a sua chegada, para a alegria dos consumidores – principalmente crianças – que aguardavam ansiosas a hora de tomar o seu copo de leite quentinho e adoçado com uma colher de mel, que as mães haviam comprado do próprio Fausto.

Esta era uma das formas mais engenhosas que ele achara de vender, em copos das próprias famílias, o leite “tirado na hora”. A produção era pequena (5 a 6 litros diários), mas vendida em copos, o preço de um litro era igual ao de dois; o resultado das vendas no dia era mais que suficiente para as despesas diárias de Fausto, que vivia e morava sozinho. A única desvantagem é que ele não tinha domingo, feriado e nem nada; era de segunda a segunda. Uma, porque a vaca não “armazena” o leite por mais de um dia, e duas, por exigência da sua freguesia.

Embora singelo, mas por sua própria singularidade e romantismo, achamos ser injusto passarmos ao largo e deixar tal fato sem registro. O leiteiro Fausto, mortal como todos nós, um dia deixou o povoado sem o costumeiro fornecimento de leite; nenhum outro se animou a sucedê-lo, mas transportadas para a história, a sua imagem e as alegrias que ele proporcionou, passam a ter vida e se perpetuarão.

E com o registro desse “sui generis” leiteiro, encerra-se a listagem desse ramo, vindo a “seu reboque” o registro do nome de Juvêncio Manzini, único pioneiro que o livro de Medina lista como explorador ambulante do ramo de laticínios, atendo-se tão somente ao seu nome.
Passamos então ao ramo das “lavanderias” (ou tinturarias), a saber: a) Anísio dos Santos;

b) Emílio Kitake, e c) Hortêncio Ferreira. Infelizmente, e não obstante os esforços envidados na busca de maiores informações sobre esses pioneiros, a única homenagem que a nossa história lhes presta é o registro dos seus nomes. E na continuidade, chega a vez de listarmos os pioneiros “vendedores da sorte grande”, como eram chamadas as pessoas que vendiam bilhetes de loteria, dos quais Solano Medina menciona em seu livro:

a) Francisco dos Santos, que na verdade era Francisco Manoel dos Santos. Pessoa das mais gentis, ele era popularmente conhecido e chamado por “Duque”, apelido que ganhara não só pelo seu cavalheirismo, mas também pelo esmero com que se trajava (sempre de um bem cuidado terno, colete e gravata, além de um impecável e caro chapéu de feltro). Naqueles idos, esses vendedores de bilhete “gastavam a sola dos sapatos”, percorrendo ruas e praças, visitando casa, lojas, bares e restaurantes; sobretudo nestes últimos, que é onde se encontravam os seus potenciais clientes.

Duque não veio para a região ao tempo do “povoado da estação”; veio antes, ao tempo da Invernada, junto com o irmão mais velho, Elísio Manoel dos Santos, personagem de destaque da nossa história, como já registrado no tópico sobre o “Povoado da Invernada”.

*Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.

Continua.

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