SEXAGÉSIMA PRIMEIRA PARTE
Walter de Oliveira*
Continuamos com a listagem dos pioneiros do povoado da estação, por ramo de atividade (anos 1930/1950), quando os nossos protagonistas são os “oleiros”, aqueles que se dedicaram em transformar a argila (o barro) em telhas e tijolos.
- g) Olaria Fazenda Vera Cruz. Desta olaria (que a exemplo das demais fazendas, não foram citadas no livro de Solano Medina), vamos nos referir ao pioneiro Marino Faganello, e isto porque e embora ainda éramos um garoto de 11 anos, o conhecemos pessoalmente. “Seo” Marino era homem alto e de compleição robusta; a figura de um trabalhador, na acepção da palavra. Apesar dos vários auxiliares com que contava, ele, literalmente, “botava a mão na massa”, sendo um exemplo para todos os que compunham a sua equipe, que era das melhores da região, tanto no índice de quantidade, quanto de qualidade – a olaria produzia apenas tijolos. Íamos levar almoço para o nosso tio, que, usando apenas enxadão e machado, destocava uma área para o cultivo de alfafa; o nosso caminho passava encostado à olaria. Entregue a comida ao tio (que a devorava com um apetite que ainda hoje lembramos com admiração), no retorno nos detínhamos à porta do barracão, onde gastávamos um bom tempo vendo “seo” Marino e o seu pequeno exército de ajudantes, ajustado e sincronizado no corre-corre, que começava no fazer da massa (barro), e depois disso o “corte” e a “formatação” dos tijolos, e o seu acondicionamento em algo semelhante a prateleiras, onde permaneciam até ganhar o “ponto da queima” nos diversos fornos dispostos ao lado do barracão, onde eram depositados depois de prontos. Para nós, era algo que despertava a nossa curiosidade, e inconscientemente, informações que se acumulavam em nossa memória, que hoje as repassa aos nossos leitores. “Seo” Marino Faganello foi casado com dona Idalina Camargo Faganello e o casal teve os filhos Maria Regina, Marina, Leni, Mercedes, Iria, Herondina, Marta, Celso, Alcides e Paulo.
- h) Olaria Fazendinha. Esse era o nome da olaria do pioneiro Ozório Gonçalves Nogueira, citado no livro de Solano Era o mesmo nome da fazenda em que moramos nos anos 1940/1943, onde nosso pai foi colono e nós (ainda criança), tocávamos a parelha de burros que movia a prensa de alfafa (isso, depois da volta da escola). Todavia, não temos o nome do oleiro (e pioneiro) que fazia a formatação e “queimava” os tijolos.
- i) Olaria Usina Bandeirante do Paraná Ltda. Embora listada com esse nome no livro de Solano Medina, essa olaria pertencia à empresa agrícola Fazendas Reunidas Bandeirante Ltda, do grupo Meneghel/Zambon. Daqui, foi uma das olarias mais conhecidas, por situar-se praticamente dentro da cidade, cujo local em que funcionou (e por muitas décadas), outro não é senão o atual “Parque do Povo”. Por informações passadas pelo empresário ruralista e professor universitário aposentado Paulo Sidney Zambon (um dos sócios da empresa dona da olaria), dois foram os oleiros seus pioneiros, a saber: 01) Moniz (ou Muniz) Bedin Lino: desse pioneiro, a única informação que obtivemos, é a de que ele era de origem italiana; 2) Fiorello Rui – também de origem italiana, esse pioneiro foi casado, mas não obtivemos o nome da sua esposa. O casal teve os filhos Sérgio Bruno e José.
- j) José Camargo. Não registrado no livro de Solano Medina e o último a ser listado, o pioneiro José Camargo, instalou a sua olaria no sítio que possuía no bairro conhecido por Cinzas. O nome do bairro deriva do nome do mais importante dos dois rios que banham o nosso município; o outro, seu tributário, e com cujas águas deságua no Rio Paranapanema (na divisa com o estado de São Paulo), é o Laranjinha. Foi em meados da década de 40 que “seo” Camargo aqui chegou, procedente da cidade paulista de Ibitinga. Além da fabricação de tijolos, ele se dedicava também ao cultivo de cereais e à criação de gado, embora em pequena escala.
Seo Camargo foi casado com dona Aparecida Porte Camargo e o casal teve os filhos Augusta, Jacira, Venícia, Catarina, Cacilda e Venício. Destes, ao que sabemos, Augusta foi casada com Otávio Trevisani (exator estadual de Bandeirantes) e Luzia foi casada com o bandeirantense Mário Henrique da Cruz (Queixinho). Catarina, também foi pioneira no ramo de salão de beleza e o filho Venício é registrador público na comarca de Manoel Ribas/Pr.
Quanto à filha Cacilda, permitam-nos os leitores, uma pequena digressão, uma vez que o inusitado fato que narramos teve origem com o surgimento desta série de “fragmentos”. Lendo um dos nossos artigos, ela fez contato e disse que aqui havia passado a sua infância e sua adolescência, e que aqui nasceu a sua filha Fernanda, motivo pelo qual tinha muito apreço e carinho por Bandeirantes. Após isso, muitas outras vezes a leitora Cacilda Camargo se comunicou conosco, quando então disse que aguardava ansiosa pelo término do nosso livro; e fez mais. Ao saber que escrevíamos à mão estes fragmentos, ela nos presenteou (em um dos nossos aniversários), com uma bela caneta “bic dourada” (com a qual, em sua homenagem, continuamos o nosso trabalho de resgate).
Infelizmente, Cacilda foi vitimada por grave enfermidade, de formas que apenas as suas duas filhas (Fernanda e Paula) e as filhas e filhos destas lerão o trabalho que ela ansiava por ver. Ela era jornalista, advogada, funcionária pública aposentada e residia em Curitiba. Assim, e com este registro, prestamos à sua memória o nosso preito de amizade e agradecimento.
Continua.
* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932