SEXAGÉSIMA SEGUNDA PARTE
Walter de Oliveira*
Encerrado o artigo anterior com o registro do nome de José Camargo, último pioneiro no ramo de “olarias”, vamos iniciar o de hoje com a listagem dos pioneiros do povoado da estação (anos 1930/1950), do ramo de “panificação”, ou “padarias”.
Contudo, para conhecimento das gerações modernas, é mister se diga que naqueles tempos, esses profissionais não apenas faziam e assavam os pães (cujos mais consumidos eram o “francês”, o “mandi” e o “sovado”), como o entregavam nas residências dos seus clientes. Por isso – e por muitos anos – era comum se ver, a partir de quatro e meia ou cinco horas da manhã, os carrinhos de tração animal (com uma abertura de folha de zinco), a percorrer as ruas, parando em certos pontos, e o condutor descendo com sacos de papel nas mãos, e correndo, os entregava de casa em casa; essa operação se repetia até o final do estoque do carrinho. Era a simples entrega do pão (e às vezes também do leite). O pagamento não era feito na entrega, era feito quinzenal ou mensalmente, e a cada dez pães comprados, o cliente recebia um de bonificação. Feito isso, o condutor retornava à padaria, reabastecia o carrinho e ia, às novas entregas, até terminar a lista de clientes. À exemplo das caixas de correio de hoje, as casas tinham o local certo (protegido contra chuva), onde os pães eram deixados. Era um tempo em que não se falava em furtos e roubos, e os pães lá ficavam, até o dono da casa ir pegá-los.
Vamos então, aos nossos três primeiros pioneiros, segundo o livro de Solano Medina: a) Eliseu Mancine, b) Hilário Ximenes Bonacela, e c) João Luiz Ferreira. Para esses pioneiros, a única homenagem que a história de Bandeirantes lhes presta é a menção dos seus nomes, baldados que foram os nossos esforços em buscar outras referências a eles.
- d) José Jurkevicz. De origem europeia (talvez alemão ou polonês), esse pioneiro (que mais tarde seria também fiscal do município e pessoa de destaque na cidade) foi estabelecido à Avenida Bandeirantes, onde hoje é o ponto comercial “José Salgados”, vizinho do Escritório Bandeirantes. O pioneiro Jurkevicz foi casado com dona Agnês Knoll Jurkevicz, e o casal teve os filhos Juarez, Inês (Sussi) e Iracema.
- e) Salvador Amadeo Forcinetti. Esse pioneiro foi estabelecido também à Avenida Bandeirantes, no mesmo quarteirão e lado que se estabelecia o pioneiro Jurkevicz. De origem italiana, seu sobrenome, de fato (e como o atesta o registrador Silmar Cordeiro de Souza), era Forciniti. Ele foi casado com dona Elvira Bastos Forciniti, e o casal teve os filhos Gilson e Valdir.
- f) Sim-Ito Monoo. Assim registrado no livro de Solano Medina, o nome certo desse pioneiro era Shin-Iti Monno, como nos informa o registrador público Silmar Cordeiro de Souza, conforme o respectivo registro em suas notas. A panificadora desse pioneiro se situava à Avenida Bandeirantes, no local onde depois funcionou o bar do Zé Lino Filho (o popular “Zé Enxerga”, apelido que carregava devido ao seu estrabismo) e cujo endereço mais se notabilizou quando se tornou o “Bar do Kojó”. Como ficou anotado, Monno (ou Monoo) tinha um bar e padaria; tanto isso é verdade, que ele mantinha ali 2 ou 3 mesas de bilhar (e sinuca), em cujos jogos, o seu filho José terminou por ser tido – e considerado (até onde sabemos) – como e melhor jogador da história de Bandeirantes. E comporta aqui, por sua singularidade, registrarmos um fato ocorrido no início dos anos 50.
O Cine Clipper – o primeiro a trazer para Bandeirantes as novidades da “sétima arte”, com “Jim das Selvas” (Johnny Weismiller) e beldades hollywoodianas (Liz Taylor, Kim Novak e outras) -, contratou o cantor Nelson Gonçalves – ídolo top da época – para fazer um show. Sendo o dito astro um aficionado do bilhar, resolveu jogar umas partidas antes de se apresentar em palco (cuja sala teve naquela noite, uma das maiores plateias de toda a sua história). O local escolhido para as históricas partidas foi o “Bar Pinheiro”, na esquina da Avenida Bandeirantes e a atual rua Dino Veiga, pertinho de onde estava o cinema. E quem foi o adversário de tacos do cantor? Isso mesmo: José Monno. Foram somente três partidas e depois de cada um ganhar uma, foram para a “melhor de três” (o politicamente correto nos impede hoje de dizer o nome mais usado), e o Zé Monno “levou a taça”! O pioneiro Shin-Iti Monno foi casado com dona Naoye Monno e ao que sabemos, o casal teve os filhos Jorge e José.
- g) Michel Kalil Abrão. Conhecido e popularizado por “Michelão” (em razão do seu avantajado porte físico), este pioneiro já foi objeto das nossas mais detalhadas descrições nas “nona” e “décima” partes destes “fragmentos”.
- h) Vicente Luiz Duarte. Este pioneiro foi, ao que sabemos, quem sucedeu o pioneiro José Jurkevicz, já referido por nós na letra “d” deste artigo, e então a sua panificadora ficava no mesmo endereço daquele referido pioneiro. Também dos tempos das entregas de pães através dos já citados “carrinhos”, o pioneiro Vicente Luiz estendeu as suas entregas à região rural (nas “vendas” e “sedes” de fazenda). Com o mesmo nome adotado pelo pioneiro antecessor – Padaria União -, a panificadora de Vicente Luiz Duarte era gerida por ele, que contava, inicialmente, com a ativa participação do filho mais velho, José Luiz (que mais tarde, com a ida do pai para Cornélio Procópio, assumiu o negócio) e depois também com a ajuda do filho Fábio (este, anos mais tarde mudou-se para Maringá, onde tornou-se um próspero empresário). O pioneiro Vicente Luiz Duarte foi casado com dona Ernestina da Costa Duarte e o casal teve ainda a filha Aparecida, que viria a ser esposa de Eurides Moura, à cuja exemplar história já nos reportamos na “nona parte” destes “fragmentos”.
Do pioneiro Duarte, guardamos uma tão grata lembrança, que omitir o fato que a gerou seria uma cabal prova de nossa deslealdade. Enquanto que narrá-lo, reforça a seriedade deste nosso trabalho e até lhe aumenta a verossimilidade. À época, éramos recém-casados e motorista de um caminhão de toras da Serraria São José, que ficava na antiga estrada do cemitério (hoje Avenida João da Silva Cravo), onde é hoje a sede da empresa Band Frios.
Continua.
* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932