Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos falar sobre o bem-aventurado Francisco.
SEGUNDO LIVRO de Tomás de Celano.
Lamento dos frades e sua alegria ao vê-lo portando os sinais da cruz, e das asas do Serafim.
Contemplavam sua pele, escura em vida, brilhando de alvura, e confirmando por sua beleza o prêmio da bem-aventurada ressurreição. Viam seu rosto como o de um anjo, como se estivesse vivo e não morto, e seus membros tinham adquirido a flexibilidade e a contextura de uma criança. Seus nervos não se contraíram, como acontece com os mortos. A pele não se endureceu e os membros não se enrijeceram, mas dobravam para onde se quisesse. Resplandecendo essa admirável beleza diante de todos os que assistiam, e como sua carne tinha ficado mais alva, era admirável ver em suas mãos e pés não as feridas dos cravos, mas os próprios cravos, formados por sua carne, com a cor escura do ferro, e o seu lado direito rubro de sangue.
Os sinais do martírio não incutiam horror nos que olhavam, mas emprestavam muita beleza e graça, como pedrinhas pretas num pavimento branco. Acorriam os frades seus filhos e, chorando, beijavam as mãos e os pés do piedoso pai que os deixava, e também o lado direito, cuja chaga era uma lembrança preclara daquele que também derramou sangue e água desse mesmo lugar e assim nos reconciliou com o Pai. As pessoas do povo achavam que era o maior favor serem admitidas não apenas para beijar, mas até só para ver os sagrados estigmas de Jesus Cristo, que São Francisco trazia em seu corpo. Quem, diante dessa visão, não seria levado mais à alegria do que ao pranto? Se alguém chorava era mais pela alegria que pela dor.
Quem teria um coração de ferro para ficar sem gemer? Quem teria um coração de pedra, que não se partisse de compunção, não se acendesse pelo amor divino, não se enchesse de boa vontade? Quem poderia ser tão duro e insensível que não chegasse a entender que o santo, honrado na terra por esse privilégio especial, devia ser exaltado no céu com uma glória inefável? Percebendo que muitos queriam alcançar cargos e honrarias e detestando sua temeridade, tentou afastá-los dessa peste por seu próprio exemplo. Dizia que seria coisa aceitável e boa diante de Deus assumir o governo dos outros, mas só deveriam assumir o cuidado das almas os que em tal ofício não buscavam seus interesses, mas acima de tudo atendiam à vontade de Deus.
Que não deveriam antepor coisa nenhuma à sua própria salvação nem esperar de seus súditos aplausos, mas aproveitamento, nem deviam querer os favores dos homens, mas a glória de Deus. Não deveriam ambicionar cargos, mas temê-los. O que possuíam não devia orgulhá-los, mas humilhá-los, e o que lhes fosse tirado não os devia abater mas exaltar. Dizia que mandar era coisa muito perigosa, especialmente neste tempo em que a maldade transbordou e a iniquidade superabundou, mas que obedecer era sempre melhor. Sofria porque alguns tinham abandonado os primeiros trabalhos e se haviam esquecido da simplicidade antiga para seguirem novos rumos. …
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa
Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.