O pioneiro Antônio Ferrer Moreno, sua esposa Angelina e o filho Antônio (foto de arquivo familiar)

SEXAGÉSIMA QUARTA PARTE

Walter de Oliveira*

Como já dito muitas vezes, o início desta nossa mais que ousada iniciativa de resgatar a história de Bandeirantes data já de quase uma década e meia, o que, por si só, se traduz num bem justificado motivo de dúvida quanto ao término da obra por parte de muitos. Quando dizemos de “uma iniciativa mais que ousada”, é porque ela o é realmente. Isso tanto pelo valor extrínseco do trabalho (perpetuar a odisseia de um povo bravo e indômito – motivo da origem do nome da cidade, segundo a visão de Alberto Faria Cardoso, em 1928), quanto pela nossa pouca qualificação para tanto.

Somou-se (e soma) para confirmar ser o trabalho uma nossa ousadia, o também já referido e lamentável desinteresse do poder público local em nos apoiar (e nos referimos ao apoio pecuniário, distribuído às vezes a mancheias para outras iniciativas certamente mais prioritárias, no entender de alguns, mas ao final de nenhum interesse ou significado). Imaginem as milhares de pessoas que nos seguem/leem (pelas nossas redes sociais e nas do jornal que nos publica semanalmente, bem como pela versão impressa deste), que em todo esse tempo (15 anos), a única ajuda financeira que o erário público de Bandeirantes nos concedeu (não dele, município, mas da Lei Aldir Blanc), foi de 5 mil reais, muito inferior ao que já gastamos com correio (e isso, graças à boa vontade e o interesse do Diretor Cultural Everton Bonfim Romano e seu coadjutor funcional Adriano Ribeiro, aos quais agradecemos a ajuda). Mas o “Hino ao Trabalho” (cantado nas escolas no nosso tempo), dizia, em uma de suas estrofes: “sem esforço, a vitória é mesquinha; e se é mesquinha, o que vale vencer?”

Feito esse explicativo e necessário introito, voltemos aos nossos pioneiros do povoado da estação e da cidade (anos de 1930/1950), sendo agora a vez dos donos de “quitandas” de hortifrutigranjeiros, que além de oferecer ao público verduras frescas e frutas do “momento”, foram os primeiros a vender sucos e vitaminas feitas na hora, precursores dos atuais especialistas no ramo, como por exemplo, o “Sancré” e outros que hoje nos servem. Dos donos de quitandas daqueles idos, o livro de Solano Medina (“O Município de Bandeirantes” – 1950) registra três deles: a) Abílio Nascimento, b) Augusto Dias Néia e c) Francisco Andrade. Dado o longo hiato temporal daqueles idos para hoje, infrutífera é toda busca e empenho para a obtenção de outras referências desses três pioneiros. Por este motivo, a nossa história (de Bandeirantes) – a exemplo da registrada por Solano Medina – os homenageia apenas com o registro de seus nomes, a menos que recebamos novas informações deles até a conclusão do nosso trabalho.

E retomamos a listagem a partir da letra “d”.
d) Antônio Ferrer Moreno. Conquanto prazeroso, é sempre difícil nos referirmos a alguém de fundamental importância para nós, como o foi esse pioneiro, a partir de haver sido o pai de nossa saudosa esposa Elza. Ou seja, estamos nos referindo a alguém que temos e consideramos como nosso “segundo pai”. “Seo” Palomares, como era mais conhecido (Palomares era o sobrenome de sua esposa Angelina, que era muitíssimo popular), era espanhol da Andaluzia, com passagem pelos Estados Unidos e Cuba, antes de aportar no Brasil, onde conheceu e casou com Angelina Palomares Marques.

Especialista em metalurgia (uma profissão que seria seguida pelos filhos Ricardo e Paulo), ele veio para Bandeirantes nos idos de 1942; primeiramente residiu e trabalhou na Usina Bandeirante e depois mudou-se para a cidade e se estabeleceu com o ramo de serralheria, juntamente com os filhos Antônio e Ricardo. Posteriormente (1948), já um pouco cansado para trabalhos mais pesados, deixou a oficina para os filhos Ricardo e Paulo (o filho Antônio já se casara e tomara outro rumo na vida), e foi quando decidiu se estabelecer como “quitandeiro”. Sua quitanda ficava na esquina da antiga rua Rio Grande do Sul (atual Arthur Conter) com a rua Maranhão (hoje Juvenal Mesquita), onde atualmente está instalada a Escola de Música de Antônio Cosmo Nunes, mas era então, uma construção de madeira.

Era pessoa das mais simples, porém muito atencioso no trato com o público, o que, unido ao devotamento e capricho naquilo que fazia, tinha uma clientela tamanha, que mal sobrava tempo para alimentar-se, o que fazia, já por hábito, de modo frugal. Dentre suas clientes mais fiéis, figurava dona Geni Zulmires de Campos, professora das mais conhecidas na história da cidade; e quem era o “portador” para as compras (segundo ele próprio nos conta) era o seu filho caçula, Maurício, hoje morador de Araraquara-SP, e cuja tarefa lhe era muito prazerosa, porque, ainda segundo ele, o “seo” Palomares sempre o agradava com uma pera, maçã ou uma deliciosa fruta-do-conde. Além da filha Elza, o casal Antônio e Angelina teve os filhos Antônio (Tunico), Assunção (Nena), Ricardo e Paulo – sendo os dois primeiros nascidos na Espanha também, uma vez que após o casamento, o casal retornou àquele país, voltando em definitivo para o Brasil após residir por lá alguns anos.

O pioneiro Yasusuke e esposa Luíza, ladeados pelos filhos (foto enviada pela neta Rafaela Garcia)

e) E como, talvez, o último pioneiro do ramo de “donos de quitanda”, temos Yasusuke Fujii. De origem japonesa, embora o seu nome em português fosse Alberto Fujii, foi o seu sobrenome que o popularizou. Solícito e atencioso, como costumam ser todos os originários do Império do Sol-Nascente, “seo” Fujii estabeleceu-se na rodoviária velha, que ficava na esquina da antiga Praça Marechal Deodoro, hoje deputado Valderi Mendes Vilela (Praça Brasil-Japão), local para onde convergiam não apenas os passageiros, que já conheciam as suas deliciosas vitaminas e saborosos sucos, bem como muita gente da cidade, que se tornaram seus “fregueses cativos”. Passados alguns anos, o seu “movimento” exigiu que ele expandisse o estabelecimento; e como não houvesse no prédio da rodoviária espaço disponível, “seo” Fujii mudou-se para a esquina, próximo onde é hoje o escritório do advogado Maikon Richter, de onde, muitos anos depois mudou-se para a esquina oposta, em frente onde viria a funcionar a sede e república do União Bandeirantes, transformando-se no Minimercado Fujii, que funcionou até 1999, quando ele encerrou as atividades.

O pioneiro Yasusuke Fujii foi casado, em segundas núpcias, com dona Luiza De Grandi, que já era mãe dos filhos Odécio, Moacyr, Osmar, Maria Helena (Marilene) e Leonice (Nicinha), estes, portanto, enteados do pioneiro.

Continua.

* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui