Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos falar sobre o bem-aventurado Francisco.
SEGUNDO LIVRO de Tomás de Celano.
Do pranto das senhoras em São Damião e como foi sepultado com louvor e alegria
Quando o cortejo, formado pelos filhos que levavam o pai e pelo rebanho que acompanhava o pastor em busca do Pastor supremo, chegou ao lugar em que ele tinha fundado a Ordem das santas virgens e senhoras pobres, depositaram-no na igreja de São Damião, em que moravam aquelas suas filhas, por ele conquistadas para o Senhor. Abriu-se então a janelinha pela qual as servas de Deus costumavam receber a comunhão no tempo determinado. Abriu-se também a arca em que o tesouro de virtudes supercelestes estava guardado e em que estava sendo levado por poucos aquele que costumava arrastar tanta gente.
Então a senhora Clara, verdadeiramente clara pela santidade de seus merecimentos, primeira mãe das outras porque tinha sido a primeira plantinha da Ordem, aproximou-se com suas filhas para ver o pai, que já não lhes falaria e estava a caminho de outras paragens, para não mais voltar. Suspirando e gemendo muito, olhavam para ele em lágrimas e começaram a clamar com voz embargada: “Pai, pai, que vai ser de nós? Pobres de nós, por que nos abandonas? A quem nas entregas, assim desamparadas? Por que não nos deste a alegria de ir à tua frente e nos deixaste sofrendo deste jeito? Que mandas que façamos, presas neste cárcere, pois nunca mais virás visitar-nos, como costumavas?
Contigo vai-se embora toda a nossa consolação. Não haverá mais conforto igual para nós que nos enterramos para o mundo! Quem nos acudirá em tamanha pobreza, não só de méritos como de bens materiais? Ó pai dos pobres e amigo da pobreza! Quem nos socorrerá nas provações, diz-nos tu, que passaste por tantas e eras um precavido conhecedor desses males! Quem nos consolará nas tribulações, diz-nos tu, que nos socorreste em tantas que nos assaltaram! Amarga separação, cruel ausência! Ó morte horrorosa, que trucidas milhares de filhos e filhas, privando-nos desse pai, apressando-te em levá-lo para longe sem retorno, ele a quem devemos o grande florescimento de nossos esforços, se é que alguma coisa temos!
” Mas o virginal pudor lhes embargava o pranto, e não ficava bem chorar demais por ele, quando em sua morte tinham acorrido multidões de anjos, alegrando-se os cidadãos dos céus e os que moram na casa de Deus. Entre a tristeza e a alegria, beijavam suas mãos esplêndidas, ornadas de pedras preciosas a brilhar. Quando ele foi levado, fechou-se para elas a porta, que jamais poderá ser aberta para outra dor comparável.
Que compaixão enorme tiveram todos pelo seu sofrido e piedoso lamento! Os maiores gemidos foram, principalmente, os de seus filhos entristecidos! Todos partilhavam sua dor, porque era impossível reprimir as lágrimas quando os anjos da paz choravam com amargura. Por fim, chegando à cidade, colocaram com grande alegria e júbilo o seu corpo santíssimo no lugar sagrado, que passou a ser mais sagrado. …
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa
Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.