À direita, Comendador Luiz Meneghel, ao centro o seu filho Serafim Meneghel, e à esquerda, Jamil Fares Midauar (foto tirada na convenção partidária que homologou os 3 candidatos a prefeito pela ARENA)

DÉCIMA PARTE

Walter de Oliveira*

Eis-nos trazendo novos “fragmentos” da nossa de Bandeirantes, cujo enredo, a seu tempo, tem papel para cada um de nós, como agora, em que estão em cena os nossos gestores e legisladores e os destaques de alguns fatos surgidos por iniciativas suas, e que foram importantes na vida da comunidade e/ou o contrário; é o papel da história: narrá-los.

Falávamos em nosso relato anterior (que às vezes também o comparamos a uma viagem no tempo e na história) das eleições de outubro de 1968, que elegeram prefeito pela segunda vez, o Comendador Luiz Meneghel e os treze vereadores que compuseram aquela legislatura, cujo quadriênio, como veremos, foi de muito proveito para Bandeirantes. Sem o intuito de superestimar ou subestimar postulantes de outros pleitos até hoje aqui ocorridos, voltamos à nossa afirmação do artigo anterior, de que as eleições de 1968, foram uma “luta de titãs”.

No comício de José Mário Junqueira, o eleitor se impressionava com o rol de personalidades do porte do próprio candidato, que além de ser um próspero fazendeiro no município, era seu ex-prefeito, e à época, diretor da Junta Governativa do Instituto Brasileiro do Café – IBC, afora o poder persuasivo do seu vibrante discurso. À sua imponente figura, somava-se o endosso e a credibilidade de seu vice, Francisco Teixeira Ribeiro, Moacyr Castanho (prefeito em final de mandato), Hermínio Guedes de Moura, Eurípedes Rodrigues, os irmãos Mauro e João Mesquita e vários outros, como o dentista e militante político Benedito Bernardes de Oliveira, cuja oratória hipnotizava o seu público ouvinte.

Se o comício fosse o de Dino Veiga, este já era, por si só, uma força política e eleitoral das mais respeitáveis, posto que além de ser o grande farmacêutico que era, tinha também sido prefeito do município e deputado estadual por duas vezes, numa das quais chegou à presidência da Assembleia Legislativa, até hoje, o único deputado de Bandeirantes a assumir tão honroso cargo. Complementava o reforço do “palanque” de Dino Veiga, dentre outras, presenças como Wladimir Alves Aranha, Ildefonso Faria, o seu candidato a vice, Issamu Matida, que como um dos maiores e tradicionais cerealistas do município, era muitíssimo bem relacionado com todos os produtores rurais do mesmo.

E por último, o leitor não menos que se abismava ante o clima festivo, reinante nos quarenta e cinco comícios realizados pela campanha de Luiz Meneghel. Isso o dizemos, por nos ter cabido a tão honrosa quanto difícil tarefa de ser seu coordenador. Homem prático, ele nos chamou e disse que iria visitar, pessoalmente, o maior número possível de famílias do município – o que realmente o fez, sobretudo na área rural -, isso afirmamos, porque, salvo raras exceções, sempre o acompanhávamos, eis que éramos candidato a vereador em sua chapa. Quanto aos discursos de palanque, a cada comício, quatro candidatos a vereador usavam da palavra, e jamais por mais que seis minutos cada um. O único discurso não cronometrado, era o de Jamil Fares Midauar, candidato a vice na chapa do comendador. A par de um invejável acervo cultural, Jamil era um tribuno sem retoques; o soar firme da sua bem timbrada voz, o ordenamento e a clareza de seu discurso e a sua seriedade de semblante ao falar, exerciam um fascínio sobre quantos o ouviam, do adolescente ao mais idoso.

Vista parcial do público presente em um comício da campanha de Luiz Meneghel (foram 45 comícios, sendo 80% na zona rural – foto tirada à época da campanha).

Mas os comícios não se resumiam a apenas discursos. Entre um e outro orador, era a vez das “duplas sertanejas”, uma forma – ou artifício – usado para atrair o público, e então permitido pela legislação eleitoral. Foi a partir dessa época que os bandeirantenses passaram a conhecer de perto, duplas famosas como Tonico e Tinoco e Tião Carreiro e Pardinho (que fizeram o “showmício” de encerramento da campanha de Luiz Meneghel), e também Pedro Bento e Zé da Estrada, presentes no comício de encerramento da campanha de José Mário Junqueira. Dino Veiga fez o encerramento sem atração artística. Um detalhe: Luiz Meneghel jamais teve outra participação nos seus comícios a não ser a sua forte e marcante presença no ato e os “acenos” aos espectadores, com ambas as mãos, feitos de momentos a momentos, e seguidos sempre de calorosos aplausos. Terminado o comício, o que os eleitores – sobretudo a juventude – queriam saber, era quando e onde seria o próximo.

E foi assim que, embora muito perspicaz, simpático e repercutido nos quatro cantos do município, o slogan “queira ou não queira é José Mário Junqueira” (lembrado pelo leitor Antônio Marcos Corder), acabou falhando em seu prognóstico, e no dia 31 de janeiro de 1969, Moacyr Castanho, com a simpatia e solenidade que o caracterizavam, passou a faixa de primeiro mandatário ao seu sucessor Luiz Meneghel, sugerindo claramente que, campanha política encerrada, dar-se as mãos, para o bem do município.

É bem possível e mesmo compreensível, que muitos dos nossos leitores não vejam sentido em narrarmos tais detalhes de uma campanha política. Longe de nós lhes negarmos razão. Mas ocorre, que são fatos ocorridos à época, eis que não mais se repetirão; e registrá-los aqui, nada mais é que trazer a lume, hoje e de futuro, coisas daqueles tempos.

Vereadores Eleitos: Nelson Santos, Moacyr Castanho, Walter de Oliveira, Celso Fontes, Paulo Sidney Zambon, Olívio Mioto, Santo Parizotto, Antônio Ranazzi Bentivenha, Benedito Bernardes de Oliveira, Wladimir Alves Aranha, José Primo Vicente, Yoricide Miyoshi e Geraldo de Souza Guerra. Com a morte prematura de Antônio Ranazzi Bentivenha, assumiu a sua vaga o suplente, Floriano Nascimento Trindade, o mesmo vindo a acontecer quando veio a falecer Wladimir Alves Aranha num trágico acidente de carro, assumindo a sua vaga o suplente Ildefonso Faria.

Uma vez empossado no cargo, uma das primeiras providências de Luiz Meneghel foi reunir-se com o advogado e professor Thomaz Nicoletti, e que fora nomeado por Moacyr Castanho presidente da Fundação Educacional de Bandeirantes, instituída na gestão anterior, com o fim precípuo de criar uma faculdade de agronomia no município. Pauta da reunião: ouvir da boca de Nicoletti, a quantas andavam as tratativas a seu cargo, com vistas àquele tão propalado e aguardado fato.

Continua.

* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

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