
DÉCIMA PRIMEIRA PARTE
Walter de Oliveira*
Retornamos aos nossos “fragmentos históricos” semanais, quando nos ocupamos de listar os nomes dos gestores e legisladores do município e alguns fatos marcantes por iniciativas suas, e a cujos fragmentos comparamos como uma viagem no tempo e na história, o que é uma realidade – tanto que já imaginamos de incorporar tal dizer (uma viagem no tempo e na história), como subtítulo em nosso livro.
Paramos o artigo anterior quando, em sua primeira reunião de trabalho após assumir o cargo, o Comendador Meneghel indagava ao professor Thomaz Nicoletti a quantas andavam as tratativas a seu cargo, com vistas à criação de uma faculdade de agronomia em Bandeirantes, um dos fatos mais propalados no município. O que não dissemos no artigo anterior e o fazemos agora, é que assim que instituiu a Fundação Educacional de Bandeirantes, Moacyr Castanho nomeara Thomaz Nicoletti como seu presidente, e este, de imediato (e ainda no mandato de Moacyr), deu início às sondagens para as iniciativas que conduzissem à almejada criação da faculdade).
E ao que nos lembramos, o Conselho Federal de Educação era extremamente cauteloso e exigente para autorizar a criação de uma faculdade nessa área educacional, e ao fazê-lo, dificilmente ia além de uma autorização por estado da federação. E ao fazer tais sondagens, Nicoletti viu, que além de Bandeirantes, também Apucarana, Londrina e Ponta Grossa almejavam criar a mesma categoria de faculdade, lembrando que a que fosse autorizada, seria a primeira do interior do estado.
Acontece – e é a coisa mais óbvia – que da lista dos municípios pleiteantes daquela mercê, Bandeirantes era o que tinha menor chance de êxito, a partir do PIB (Produto Interno Bruto) de cada um. E Apucarana, além dessa dita vantagem, contava com as bênçãos de Paulo Pimentel, então governador do estado, e que mantinha as mais estreitas ligações com as lideranças daquele município, que havia, inclusive, lhe homenageado ao nominar o seu estádio de futebol, de “Governador Paulo Pimentel”.
À pergunta do Comendador, Nicoletti deu-lhe todas as informações, literalmente descrente de que Bandeirantes conseguisse “virar esse jogo”. Contava-nos ainda Nicoletti, que durante toda a difícil exposição, o Comendador ouviu-o atento e impassivo, e terminado o relato, lhe perguntou: – “O que você acha que poderá pesar na decisão do Conselho”? Ao que Nicoletti respondeu: – “O que poderá pesar nessa decisão, pelo que observei, será uma “contrapartida” (ou doação) de peso, de considerável valor; isso poderá sim, ser o fiel da balança dessa autorização”.
Sempre muito atento ao que ouvia, o Comendador Meneghel ficou absolutamente ciente dos obstáculos a serem transpostos para a realização do seu sonho de fundar uma faculdade de agronomia em Bandeirantes. Com toda a experiência acumulada em uma vida de trabalho e realizações, ele jamais, em tempo algum e nem por um átimo de segundo pensou em desistir da realização desse sonho, e não seriam essas altas cartas na manga dos seus três referidos adversários que o fariam ensarilhar as armas. E foi quando Nicoletti – segundo sempre dizia – viu que estava diante de alguém que nascera para ser um vencedor.

Pois, ainda segundo Nicoletti (e depois comprovado pelos fatos), o Comendador Meneghel o autorizou a informar ao Conselho Federal de Educação, com vistas à consecução da autorização solicitada, que o município de Bandeirantes, através de doação da Família Meneghel, se comprometia a transferir para a solicitada escola, além da extensão territorial necessária às suas atividades acadêmicas, os valores que iriam bancar os custos de construção dos prédios que abrigariam essas atividades, desde as despesas com projetos arquitetônicos, compra de materiais, mão-de-obra e outros custos conexos; isso tudo (os compromissos) foi formalizado e encaminhado ao Conselho Federal de Educação.
A partir daí, teve início a incansável e competente atuação de Thomaz Nicoletti (falando como presidente da Fundação Educacional de Bandeirantes) e de dona Carlota Rensi Meneghel, cuja eficiência e oportunismo no agir, levaria o professor Toledo Pizza, emérito mestre da ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a saudá-la, em sua aula inaugural, como a “alma da faculdade”, e pelo mesmo motivo, os fundadores do centro estudantil da escola homenagearam-na, nominando-o de “Centro Acadêmico Carlota Meneghel”.
Um maior detalhamento da criação da faculdade de agronomia constará de capítulo próprio do nosso livro de resgate da história de Bandeirantes. Por hoje, o que podemos adiantar, é que foi graças a esse passo a passo – desde a criação da Fundação Educacional de Bandeirantes, por Moacyr Castanho, a generosa e alentada doação da Família Meneghel e mais o duro e bem conduzido trabalho de Thomaz Nicoletti e a vigorosa atuação de dona Carlota Rensi Meneghel, que a nossa cidade é sede da talvez mais importante unidade da UENP – Universidade do Norte do Paraná – Campus Luiz Meneghel, e que segundo informações do professor pós-doutor Leopoldo Sussumu Matsumoto, disponibiliza, gratuitamente, à juventude de todo o Brasil, cursos de graduação em agronomia, ciência da computação, ciências biológicas, bacharelado em computação, enfermagem, medicina veterinária, tecnologia em fruticultura e sistemas de informação, e também cursos de pós-graduação em agronomia e enfermagem e de residência em medicina veterinária e enfermagem.
Com relação ao curso de graduação em agronomia, Bandeirantes já é uma tradição, como o provam os milhares de profissionais saídos dos bancos da sua faculdade, e seus campos experimentais e sofisticados laboratórios, levando os seus conhecimentos aos quatro cantos do país. Foi da faculdade plantada por Luiz Meneghel, que saiu um dos responsáveis pela implantação da cotonicultura nos cerrados da região centro-oeste do país. Falamos do engenheiro agrônomo Jonas de Souza Guerra (vitimado pela pandemia de Covid-19) e que por sua atuação nos cerrados, recebeu o título de “Cidadão Matogrossense”.
Achamos que ficou bastante claro – face ao que foi narrado – o porquê de o Conselho Federal de Educação ter atendido ao pleito de Bandeirantes e não os de Apucarana, Londrina e Ponta Grossa. Afora esse feito, vários e importantes outros, marcaram a segunda gestão de Luiz Meneghel frente à nossa prefeitura.
Continua.
* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932