
DÉCIMA SEGUNDA PARTE
Walter de Oliveira*
Hoje, como todas as quartas-feiras, estamos de volta aos nossos “fragmentos” históricos, quando listando os gestores e legisladores do município, fomos, no artigo passado, até o ponto em que falando da segunda (e última) gestão de Luiz Meneghel à frente da prefeitura, fizemos uma síntese de uma das suas grandes realizações: criar a nossa faculdade de agronomia, hoje “Campus Luiz Meneghel” da UENP. Passemos agora à listagem dos eleitos suplentes de vereadores no pleito de 1968.
Suplentes: Além dos dois já citados em artigo anterior, foram eleitos Renato Delben, José Macias Nogueira, Opércio Moretti, José Alves Machado da Cunha, Manoel Alves de Freitas Filho, Abdalla de Oliveira Chueire, José Washington Santana, José Alves Cabral, Erich Umbehaum, Victório Bertachi e Sebastião Nogueira da Silva.
Diferentemente das listagens anteriores de vereadores, em que nos limitamos a relacionar os seus nomes, ou fazer pequenas referências a fatos a eles ligados (como no caso dos vereadores Olívio Mioto e Victório Bertachi, que tinham de cobrir longas distâncias para virem às cinco sessões semanais – e não apenas uma, como é atualmente), hoje registraremos um fato que, independentemente tenha sido iniciativa nossa, foi seguramente – e nos desculpem a falta de modéstia – dos mais significativos da história do legislativo bandeirantino.
Estamos nos referindo à estrutura administrativa da Câmara Municipal de Bandeirantes, que, até 1973, não tinha sequer um funcionário do seu quadro próprio, eis que o encarregado de lavrar as atas e cuidar do expediente de secretaria era um funcionário da prefeitura, colocado à disposição da câmara. Ou seja, até 1973, o nosso poder legislativo, administrativamente falando, era como um “apêndice” do poder executivo; não tinha um quadro pessoal, nem organograma administrativo, e obviamente, nenhum plano de carreira, muito menos dotação orçamentária e contabilidade. E assim, de legislatura em legislatura (e estávamos já na sétima legislatura, passados, pois, 39 anos de criação do município), foi que a Câmara Municipal de Bandeirantes veio a contar com sua estrutura administrativa, o que, como veremos, não aconteceu por um “passe de mágica”.
Tudo começou ao encerrar a gestão de Wladimir Alves Aranha na presidência da casa, e os vereadores José Primo Vicente e Santo Parizotto resolveram formar uma chapa para a Mesa Diretora, tendo, sem que o soubéssemos, o nosso nome por “cabeça”, ou seja, para presidente. Inconformado, o vereador (e companheiro de sublegenda) Nelson Santos se compôs com a oposição e formaram outra chapa, na qual ele figurava como presidente. Realizada a votação (escrutínio secreto) e tendo um eleitor votado em branco, o resultado foi de “6 x 6” (empate); como éramos o mais velho, fomos declarado vencedor.
Uma vez empossado na presidência, decidimos conhecer outras câmaras municipais da região, porquanto não nos conformávamos em presidir um poder que não era poder, já que a nosso sentir, padecia de um “vício de origem”: ser dependente do poder executivo, eis que a própria funcionária que à época cuidava da lavratura das atas e serviços conexos (a competente e caríssima amiga Anita Balduíno – hoje aposentada e vivendo em Santa Pola, cidade da província de Alicante, na Espanha), era do quadro da prefeitura, que a designou para aquelas funções.
Com vistas à tal e necessária mudança em nossa câmara, fomos visitar as suas congêneres de Cornélio Procópio, Londrina, Arapongas e Apucarana, sendo esta última que mais chamou a nossa atenção – por tudo quanto nos foi mostrado – e nos serviu de modelo para a estruturação administrativa da nossa casa de leis. O que nos fez eleger a Câmara Municipal de Apucarana como modelo para a nossa, não foi apenas a fidalguia com que nos recebeu o seu então Diretor Executivo, professor Waldomiro Camargo Mariano, que além de um “gentleman”, possuía nada menos que quatorze diplomas das mais diversas disciplinas, mas sim o que vimos da visita a cada departamento daquela modelar câmara. À cada constatação, mais nos convencíamos de que era chegada a hora de dar à Câmara Municipal de Bandeirantes, as feições e dimensões de um efetivo poder legislativo.
Todavia, seria ingênuo pensar que, uma tal metamorfose adviesse apenas e tão somente do convencimento de sua necessidade. Assim como a instalação de uma planta industrial, ou o erigir de um edifício, requerem, respectivamente, para a sua perfeita funcionalidade e solidez – além do planejamento, conhecimento e capacidade necessários daqueles que as têm a seu cargo – o mesmo valia para a implantação de uma efetiva estrutura administrativa numa câmara legislativa, que como tal, tinha, até então, somente o nome. A certeza da necessidade de fazer a mudança, bem como a vontade e a decisão de levar isso a um bom termo, eram nossas. Porém, igual certeza tínhamos de não dispor do conhecimento necessário para isso, o qual tampouco existia em Bandeirantes e cidades vizinhas. E daí, desistir?
Desculpem os nossos leitores se nos falta modéstia, mas em nossa formação de roceiro (habituado às adversidades), essa palavra – desistir – é de uso o mais restrito, para não dizer, de nenhum. E foi assim, que após muito insistirmos, o professor Waldomiro Camargo Mariano ficou de ver com seu pessoal, a possibilidade de conduzir os trabalhos que levariam à pretendida criação da estrutura administrativa da nossa câmara. Ele pediu que formalizássemos um pedido, que ele responderia, dando, inclusive, o prazo de implantação, com publicação de editais para concursos de preenchimento dos cargos, plano de carreira, sistema de contabilidade, e enfim, tudo o que indispensável fosse ao fim almejado.
Com a proposta em mãos, a apresentamos ao executivo para a liberação da verba necessária e no dia 02 de janeiro de 1 973, obedecido o disposto no edital de concurso, foram assinados os primeiros Atos da câmara, de nomeação dos aprovados no concurso, dentre outros: Alfredo Luiz César de Oliveira, diretor executivo; Anita Balduíno, oficial legislativo; Roberto de Oliveira, adjunto legislativo e Stewalt Camargo Filho – contador (que viria a prestar concurso no judiciário, tendo se aposentado como desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná). No entanto, para que isso acontecesse, foi necessário que o professor Camargo e sua equipe se deslocassem por quinze finais de semana para Bandeirantes, e que não foram viagens de passeio, mas de muito trabalho; trabalho que valeu a pena.
Eis como e graças a que, o nosso poder legislativo passou a existir, de fato, como tal. Foi graças ao nosso trabalho seu presidente, e do qual – e sem nenhum pejo – nos orgulhamos, não obstante sequer a nossa foto conste do “quadro de presidentes” da Câmara Municipal de Bandeirantes. Coisas da vida, ou da “escala de valores” usada para estimar ou classificar alguém pelo que possa ter realizado.
Continua.
* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932