Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos falar sobre o bem-aventurado Francisco.
Segunda Vida, Primeiro Livro de sua conversão, de Tomás de Celano.
Da imagem do crucifixo que falou com ele, e da honra que lhe prestou.
Sob a roupa secular já tinha espírito religioso e preferindo aos lugares públicos os solitários, era freqüentemente visitado por inspirações do Espírito Santo. Sua fundamental doçura o atraíra e arrebatara tão transbordante desde o início, que nunca mais o abandonou durante toda a vida. Mas quando freqüentava lugares escondidos por ser melhor para a oração, o demônio tentava perturbá-lo com diabólica falsidade.
Despertou-lhe a lembrança de uma mulher monstruosamente corcunda que havia em sua cidade e que tinham um aspecto horroroso diante de todos. Dizia que o tornaria igual a ela se não desistisse de seus propósitos. Confortado pelo Senhor, teve a alegria de uma resposta de salvação e de graça: “Francisco, disse-lhe Deus em espírito, se queres o meu conhecimento, tens que trocar as coisas vãs e carnais pelas espirituais, tem que preferir as coisas amargas às doces, tens que desprezar a ti mesmo.
Haverá uma transformação e tudo isso vai te parecer delicioso”. Sentiu-se imediatamente obrigado a obedecer ao que Deus mandava e enfrentou a experiência. Ele, que tinha natural aversão pelos leprosos, julgando-os a monstruosidade mais infeliz do mundo, encontrou-se um dia com um, quando andava a cavalo por perto de Assis. Ficou muito aborrecido e enjoado, mas, para não quebrar o propósito que fizera, apeou e foi beijá-lo. O leproso estendeu-lhe a mão para receber alguma coisa e recebeu de volta o dinheiro com um beijo. E montando logo no cavalo, olhou para todos os lados, mas, apesar de estar em campo aberto, e não viu mais o leproso.
Cheio de admiração e de alegria por causa disso, poucos dias depois tratou de fazer algo semelhante. Dirigiu-se para onde moravam os leprosos, deu dinheiro a cada um deles e beijou-lhes a mão e a boca. Assim substituiu o amargo pelo doce e se dispôs corajosamente para o que ainda estava por vir. Já inteiramente mudado de coração, e a ponto de mudar no corpo, passou um dia pela igreja de São Damião, que estava abandonada por todos e quase em ruínas. Levado pelo Espírito entrou para rezar e se ajoelharam suplicante e devoto diante do crucifixo.
Tocado por uma sensação insólita, sentiu-se todo transformado. Pouco depois, coisa inaudita desde séculos, a imagem do Crucificado, abrindo os lábios da pintura, falou com ele. Chamando-o pelo nome, disse: “Francisco, vai e repara minha casa que, como vês, estão se destruindo toda”. A tremer, Francisco espantou-se não pouco e ficou fora de si com o que ouviu. Tratou de obedecer e se entregou todo à obra.
Mas, como nem ele mesmo conseguiu exprimir a sensação inefável que tivemos também nós temos que nos calar. Sua santa alma foi tomada desde então de compaixão pelo Crucificado e, como podemos julgar piedosamente, os estigmas da paixão ficaram profundamente gravados nele desde esse dia: no corpo ainda não, mas sim no coração...
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa
Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.