Walter de Oliveira*
Após uma breve pausa (uma semana!!) em nossa imaginária viagem no tempo e na história, voltamos aos registros dos nossos gestores e legisladores municipais, e de fatos que de uma ou outra forma marcaram as respectivas administrações. Ao pararmos o artigo anterior falávamos da eleição de 1976, polarizada entre os candidatos Daniel Meneghel e José Fernandes da Silva, e cujo tenso clima reinante durante a equilibradíssima votação, teve seu ápice na noite da apuração, como aliás, bem lembrou nosso leitor, o advogado Carlos Roberto Ghirelli Pires, fiscal da justiça eleitoral naquele evento.
Sem entrarmos em detalhes de como foram os comícios daquele certame, é mister lembrar aos leitores, e sobretudo aos não contemporâneos de então, que um pouco antes daquela efeméride (talvez dois ou três anos), havia começado um considerável êxodo da nossa população (quer urbana, quer rural), rumo às cidades paulistas de Limeira, Americana e Mogi das Cruzes. Embora à primeira vista isolado do resultado do pleito, se considerada a estreita margem de vantagem do candidato José Fernandes (146 votos), esse êxodo, segundo muito se comentava à época, teve “tudo a ver” com o resultado das urnas. E isto porque a grande maioria dos emigrantes (jovens, em sua maioria) demandava àquelas localidades pela facilidade de lá se empregar nas várias atividades industriais e comerciais, então num acelerado ritmo de expansão. Mas – perguntar-se-á – por que esse detalhe teve influência?
Com a permissão dos leitores – e por ser fato histórico –, lembramos que o assunto foi hábil e legalmente explorado pelo candidato não favorito e que se sagrou vencedor. Dono de uma retórica das mais primorosas, José Fernandes fazia questão de lembrar (tanto em comícios, quanto em pronunciamentos de rádio) aquilo que à época era uma verdade: que Bandeirantes tinha somente uma grande indústria (a usina), e que esta, por muito grande empregadora que fosse, não poderia empregar o número de pessoas necessitadas de emprego; as outras indústrias existentes no município (as algodoeiras), também eram limitadas na sua capacidade de gerar empregos. O argumento era verdadeiro e o candidato oponente – o favorito Daniel Meneghel – não tinha argumentos para se contrapor ao oportuno e eficaz discurso do seu hábil adversário, que dia a dia foi ganhando densidade eleitoral.
Por último, tão empolgado estava José Fernandes com o bom andamento e crescimento da sua campanha, que se encorajou, e passou à promessa, de que se eleito, iria lutar para dotar a nossa cidade de um “parque industrial” capaz de gerar empregos o suficiente, dizia, para que os nossos jovens não tivessem que deixar a sua cidade, em busca de um futuro melhor e mais seguro. O jogo foi um jogo limpo.
“Zé da Mala”. Para encerrar o relato da capacidade e oportunismo do candidato José Fernandes em “virar o jogo” a seu favor, usando “brechas” deixadas por seu oponente e apoiadores, temos o “escorregão” dado por um ilustre deputado estadual, representante do município na Assembleia Legislativa (cujo nome omitimos em homenagem à sua memória). No seu discurso, o deputado, que apoiava Daniel Meneghel, após se demorar dizendo da competência e das qualidades (reais) de Daniel Meneghel, como grande industrial e administrador, se referiu “ao outro candidato” (que era José Fernandes) e perguntou: – Quem é ele? -, dizendo em seguida: – ao que sabemos, é alguém que “chegou ontem aqui, com uma mala na mão” (José Fernandes viera do estado de Minas Gerais, da cidade de Inhapim). Foi o suficiente. No dia seguinte, José Fernandes inundou a cidade com um panfleto, no qual se via um boneco que estilizava a sua imagem, ao lado do qual estava uma mala de viagem, encimada por um par de chinelos havaianas, e a frase (fatal) dizendo: “ZÉ DA MALA VEIO PARA FICAR”.
O tempo passou, e a cidade viu no pleito municipal do ano passado (2024), Daniel Meneghel Júnior apoiando o candidato (não vitorioso) José Fernandes da Silva Júnior (Zé Bolinha) à prefeitura municipal. A realidade mostrando que as arestas se aparam e que é possível e salutar viver sob o império da fraternidade e da racionalidade.
Isto posto, e antes de listarmos os nomes dos vereadores que comporiam a legislatura, e que aprovariam as leis durante a gestão de José Fernandes e a fiscalizariam, precisamos atender a oportuna observação feita pelo nosso ilustre leitor, doutor Luiz Marcelo Mafra, bandeirantense, promotor de justiça e atuando hoje na comarca de Foz do Iguaçu. Lembrou-nos ele – e pelo que lhe somos muito gratos – que José Fernandes da Silva não completou os dois anos finais dos seus seis anos daquele mandato (acrescidos pela Emenda Constitucional nº 14/1980), isso porque em 1982, ao faltar nove meses para o término de sua gestão, ele renunciou ao seu cargo para concorrer (e concorreu, sem ser eleito) a deputado estadual. Ato contínuo, o seu vice-prefeito, o médico Ilton de Souza Guerra, renunciou também ao seu cargo, o que levou o então presidente da Câmara Municipal, Moacyr Castanho Filho (o popular comerciante Cir Castanho) a assumir o cargo, exercendo o chamado “mandato tampão”, sucedendo-o na câmara, o suplente Olívio Mioto.
Assim sendo, e por um senso de justiça e equidade, registraremos Moacyr Castanho Filho como um dos gestores do município (embora não eleito para o cargo), e após fazermos referências às obras de José Fernandes da Silva, fá-lo-emos também das ocorridas no “mandato tampão” de Cir Castanho. Passemos agora ao registro dos treze vereadores e suplentes escolhidos pela população no pleito de 1976.
Vereadores eleitos: Ademir Vieira, Antônio Carlos da Silva, Nelson Santos Moacyr Castanho Filho (que ao assumir a prefeitura foi sucedido pelo suplente Olívio Mioto), Celso Menandro Silveira Fontes, Alécio Zamboni Neto, Aparecido Ribeiro Richter, Sebastião Oliveira do Amaral, João Maria Brandão, Paulo Sidney Zambon, João Mendes Vilela, José Elias do Carmo e Antônio Gusmão.
Suplentes: Olívio Mioto, José Ferreira da Rosa, José Martins Marinho, Moacir Martins da Silva, João do Carmo Santiago, Valdir Bitencourt, Edson Hélio Bernardes da Silva, Hélio Kajiwara, Luiz Fernandes da Silva, Mauro Freitas, Issamu Matida, Geraldo de Souza Guerra, Pedro Ferraz da Silva, Jurandir de Souza Guerra, Odair Buzatto, Jairo Sodré, Áurea Afonso Motta, Joaquim Pereira Bueno, Pio Bellan, Fernando Ponce, José Primo Vicente, Antônio Cosmo Nunes Sobrinho, Pedro de Oliveira, Arthur Emílio Leopoldo Conter Júnior, Raimundo Luz Silveira Fontes e Geraldino de Almeida e Silva.
Continua.
* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932