José Fernandes da Silva Advogado, vereador e ex-prefeito de Bandeirantes Artigo publicado no extinto Jornal Folha de Bandeirantes na edição 59, em 19 de setembro de 1976

Quanto vale o voto?

Incalculável, inestimável, imensurável o valor do voto. Desculpem, a sequência destes adjetivos provoca um eco, uma quase rima, mas não são os melhores que encontro para dizer que não se pode dosar o valor de um voto.

Como votamos?

Votamos em quem é mais capaz?

Em quem é mais querido?

Em quem é mais correto?

Em quem é mais prestativo?

Em quem é mais agressivo?

Em quem tem mais dinheiro?

Em quem põe seu poder na conquista do voto?

Votamos no compadre?

No padrinho?

No parente?

No que mais promete?

Votamos por protesto?

Votamos em branco?

Votamos no governo?

Votamos contra o governo?

Votamos em nós?

Votamos na comunidade?

Afinal, em que, em quem e por que votamos?

Votamos porque é um dever, ou porque exercermos um direito? Ou porque se não votarmos há multa?

O voto é o instrumento de que nos valemos para corrigir os governos, para dizer que não estamos satisfeitos com o que a administração pública tem realizado, ou para dizer que com ela concordamos; por isso deveria ser o mais livre possível, isento de qualquer coação, pressão, promessa o favor. Poucas são as medidas que nos nivelam, que nos equiparam, que nos põem em igualdade condições. O voto é uma delas:

Tem o mesmo valor o voto do proprietário de terra e do ‘bóia-fria’; do atleta e o do torcedor; do industrial e o do operário; do comerciante e o do balconista; do padre e o do fiel; do pastor e o do irmão; do mecânico e o do dono do automóvel; do bancário e o do banqueiro; do prefeito com o do funcionário mais humilde da prefeitura; do médico com o do paciente; do advogado com o do réu; da vítima, do Juiz e das testemunhas; do pedreiro e do mestre de obras; do governador e o dos governados; do Presidente da República e dos seus Secretários, Ministros e Conselheiros; do chefe de seção e o do contínuo; do autor e o do cantor; do radialista e dos ouvintes…

Enfim, o voto que é secreto, uma vez colocado na urna tem o mesmo valor, independentemente da condição social, funcional, religiosa, de instrução ou posição econômica de quem o depositou.

Vale ainda, a mesma coisa, o voto do branco, do preto, do rico, do pobre, do sadio, do doente, do católico, do protestante, do espírita, do umbandista, do sarava, enfim, todos os votos têm o mesmo valor – o voto é a unidade que padroniza o valor de quem o dá.

Embora tenham intrinsicamente o mesmo valor, várias são as formas que usam para buscar, conquistar o voto: às vezes, e não é raro acontecer, o eleitor estar depositando o seu voto com toda a honestidade, julgando estar atendendo um amigo que lhe recomendou este ou aquele candidato, sem saber que foi ludibriado por um cabo eleitoral que ganhou um bom dinheiro pelo seu voto…

Há votos que valem receitas, roupas, compras, sapatos, automóveis, empregos, jogos de camisas de futebol, óculos, relógios, violões, escrituras, terrenos, aval em notas promissórias, viagens,

Há votos que valem respeito, dignidade, honradez, companheirismo, solidariedade, confiança, esperança.

Os titulares dos votos mensuráveis por valores concretos, passado o pleito, sentem que sua vidinha volta à rotina, sem nem mesmo se cuidar quem foi o vencedor; aqueles que votam nos valores abstratos, na dignidade, na honradez, no companheirismo, na solidariedade, na confiança e na esperança, passado o pleito caminham de cabeça erguida e realizados, porque têm a consciência tranquila, certos de que escolheram quem lhes parecia melhor, e seu sagrado direito de escolha não foi pago, porque não poderia mesmo sê-lo, uma vez que o voto não tem preço.

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