Regiane Romão

O amor pela arte. Arte em todas as formas, seja em notas musicais extraídas do violão ou em um objeto antigo que carrega consigo milhares de histórias.

O estúdio do professor e colecionador Ercole Martelli, 32 anos, é um cantinho assim.

Músico por formação e colecionador por paixão, ele se divide em profissão e hobby em tempos de pandemia.

Natural de Andirá, Ercole foi aluno da primeira turma do curso Técnico em Música do Estado de SP, na ETEC Jacinto Ferreira de Sá, em Ourinhos. Ele trabalha com violão popular, guitarra e piano erudito.

Desde que se formou, trabalha com performance, tocando em bandas, e sempre lecionando instrumentos. Após o curso técnico em música, foi para Londrina e se graduou em música pela Universidade Estadual de Londrina, formalizando e se estabelecendo como professor. Ainda na UEL cursou especialização em Arranjo musical, com trabalho voltado à canção popular.

VIDA DE COLECIONADOR – De acordo com Ercole, as coleções surgiram de forma natural. “Então, essa coisa de colecionar é algo que descobri, de fato, quando me mudei para Londrina. Sempre fui apaixonado pelas culturas populares, pelo saber popular, histórias de tradição oral, no entanto desconhecia esse universo do colecionismo, que, grande parte, é a materialização dessas práticas que citei”, conta. Ele recorda que ao chegar em Londrina teve contato com muita informação e que era novidade para quem vinha de uma cidade pequena. “O museu histórico, o museu de arte, os sebos, os prédios históricos da cidade, tudo aquilo me despertou o interesse em querer preservar e materializar as histórias que eu ouvia e que, acredito, são importantes de serem preservadas. Particularmente minha coleção faz referência direta ao saudoso Vilão Bar, de Londrina. Era o bar mais antigo da cidade e preservava uma atmosfera muito especial no que diz respeito ao colecionismo”, menciona.

Sobre o que coleciona, ele diz que os objetos são diversos e desconexos. “E é assim que gosto. São câmeras fotográficas, objetos de secos e molhados, tais como baleiro, balanças, rádios, radiolas, gramofone, cadeira de barbeiro, discos, canecas”, citou.

Para ele, até a organização é caótica. “Gosto dessa coisa meio empilhada, que te olha de todos os lados, que te abraça. Creio que é um jeito de sentir a história te envolvendo. De olhar para qualquer canto e encontrar alguma informação”, relata. Questionado sobre algum objeto preferido, ele disse que gosta de tudo, pois considera que cada peça evoca memórias, histórias e possui uma significação, seja pessoal, coletiva, emocional, afetiva. “Na coleção, por exemplo, tenho alguns documentos de família com mais de 150 anos. Dizem respeito à minha história, porém também tenho objetos como cadeados antigos e ferramentas, que contam a respeito da história particular de outras pessoas. Creio que, não é só o objeto que me interessa, mas aquilo que ele evoca. A materialização de afetos e memórias”, considera.

Para o músico, o mais interessante é se conectar com o objeto, ou seja, quando as pessoas vão até seu estúdio, conseguem se vincular em algum grau, maior ou menor, com determinado objeto. “Sempre tem alguém que cita: ‘nossa, na casa da minha avó tinha uma TV dessas’, ou ‘quando eu era criança ouvia rádio num desses’. Daí é só o ponto de partida para horas de papo, de conversas e descobertas”, dimensiona.

DISCOS E KOMBI – De toda a quantidade de objetos, que ele nem imagina quantos são, em 2019, o colecionador resolveu contratar uma amiga para ajudar a catalogar, ao menos, os discos de vinil, estes que têm atualmente 823 na coleção, sendo que grande parte do acervo são LP (Long Play) de 78 rotações, aqueles mais antigos, os preferidos de Ercole.

Sobre uma exposição dos seus objetos, Ercole disse que as pessoas iam bastante ao seu estúdio antes de pandemia, e que assim que tudo isso passar, ele acredita que haverá o retorno do público para visitação ao local.

Além de todos os objetos, existe também a sua ‘kombinha’, referência ao veículo Kombi 72 que comprou enquanto cursava música. “Comprei a ‘kombinha’, mas ela estava nos últimos suspiros, quase indo para o ferro velho. Ao longo desses 10 últimos anos, junto com meu pai, fomos reformando e trazendo vida nova a ela. Hoje já está toda original”, orgulha-se. Para ele, o melhor programa de domingo era mexer na Kombi.

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