Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos falar sobre o bem-aventurado Francisco.
SEGUNDO LIVRO de Tomás de Celano.
Como foi recebido em Rieti pelo senhor Hugolino
Sua carne estava tão de acordo e obedecia de tal forma ao seu espírito que, enquanto ele procurava atingir a santidade, o corpo não só não impedia, mas até corria na frente, de acordo com o que está escrito:
“Minha alma teve sede de vós, e o meu corpo mais ainda”. A sujeição já era tão costumeira que se tornara voluntária, e pela humilhação diária tinha conquistado toda essa virtude, porque muitas vezes o hábito passa a ser natureza. Mas, como é uma lei inelutável da natureza e da condição humana que o homem exterior vá perecendo cada dia, enquanto a interioridade se renova sem cessar, aquele vaso preciosíssimo, em que estava o tesouro escondido, começou a ceder por todos os lados e a se ressentir da perda de forças. Entretanto, “quando o homem crê estar no fim, é então que começa” (cfr. Eclo 18,6), seu espírito se tornava mais disposto na medida em que a carne estava mais fraca (cfr. Mt 26,4).
Tão vivo era seu zelo pela salvação das almas e tão grande sua sede pelo bem do próximo que, quando não podia mais andar, percorria as terras montado num jumento. Os frades lhe pediam constantemente que desse um pouco de alívio ao corpo enfermo e tão debilitado, recorrendo ao auxílio dos médicos. Mas ele, com seu nobre espírito voltado para o céu, desejando apenas dissolver-se para estar com Cristo, recusava-se terminantemente a isso. Entretanto, como não tinha completado em sua carne o que faltava na paixão de Cristo, embora carregasse no corpo os seus estigmas, teve uma grave moléstia dos olhos, como se nele Deus quisesse multiplicar sua misericórdia.
A doença crescia cada vez mais e parecia aumentar dia a dia pela falta de cuidado. Frei Elias, a quem escolhera como sua mãe e colocara como pai dos outros frades, acabou obrigando-o a aceitar o remédio pelo nome do Filho de Deus, por quem tinha sido criado, de acordo com o que está escrito: “O Senhor fez sair da terra os remédios, e o homem sensato não os rejeita” (Sir 38,4).
Então o santo pai acedeu de bom grado e obedeceu com humildade aos que o aconselhavam. Não conseguiu alívio, apesar de serem muitos os que lhe levaram medicamentos para ajudá-lo, e foi para Rieti, onde constava haver alguém muito capaz de curar aquela doença. Ao chegar, foi muito bem recebido, com toda a honra, pela Cúria Romana, que estava na cidade nesse tempo, mas especialmente por Hugolino, bispo de Óstia, famoso por sua honradez e santidade.
Ele já tinha sido escolhido por São Francisco como pai e senhor de toda a Ordem dos seus irmãos, com o consentimento e por vontade do Papa Honório, porque gostava muito da santa pobreza e tinha uma reverência especial pela santa simplicidade. Conformava-se em tudo com os costumes dos frades e, desejando ser santo, era simples com os simples, humilde com os humildes e pobre com os pobres….
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa
Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.