Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos falar sobre o bem-aventurado Francisco.
Segunda Vida, Primeiro Livro de sua conversão, de Tomás de Celano.
Da vergonha que venceu, e da profecia das virgens pobres.
Sua santa alma foi tomada desde então de compaixão pelo Crucificado e, como podemos julgar piedosamente, os estigmas da paixão ficaram profundamente gravados nele desde esse dia: no corpo ainda não, mas sim no coração. Coisa admirável e inaudita em nosso tempo! Quem não se há de admirar? Quem já viu coisa parecida? Quem não acreditará que Francisco apareceu crucificado quando já estava indo para a pátria se, mesmo quando não tinha desprezado plenamente o mundo exterior Cristo lhe falou da cruz, em um milagre novo e inaudito? Desde essa hora, derreteu-se a sua alma quando o amado se dirigiu a ele.
Pouco depois, o amor do coração padeceu pelas feridas do corpo. Mas desde essa época foi incapaz de conter o pranto, e chorou a paixão de Cristo, colocada quase sempre diante de seus olhos. Enchia os caminhos de gemidos, e não admitia consolação alguma lembrando-se das chagas de Cristo. Um dia encontrou um amigo íntimo e também o levou a chorar amargamente quando contou a causa de sua dor. Mas não se esqueceu de cuidar daquela santa imagem nem deixou, por alguma negligência, de obedecer a sua ordem. Na mesma hora deu dinheiro a um padre para comprar uma lâmpada e óleo, para que a imagem não ficasse um só momento sem a devida honra de luz. E, sem preguiça, tratou de fazer o resto, trabalhando sem cessar na reparação daquela igreja.
Porque, embora lhe tivesse sido falado divinamente da Igreja que Cristo conquistou com seu próprio sangue, não quis ir de repente ao alto, porque devia passar aos poucos da carne para o espírito. Já entregue às obras de piedade, foi perseguido por seu pai que, julgando uma loucura seu serviço a Cristo, despedaçava-o por toda parte com maldições. Por isso o servo de Deus tomou como pai um homem do povo, muito simples, e pediu que lhe desse a bênção cada vez que seu pai o amaldiçoasse. Executou, assim, concretamente, demonstrando-o com fatos, o que foi dito pelo profeta: “Eles amaldiçoarão e tu abençoarás” (cfr. Sl 108,28). Devolveu ao pai o dinheiro que, como homem de Deus, gostaria de ter gasto na reforma daquela igreja.
Fez isso a conselho do bispo da cidade, homem muito piedoso, que lhe disse não ser lícito gastar em coisas sagradas bens mal adquiridos. E disse, na frente de muitas pessoas que se tinham ajuntado: “Agora poderei dizer livremente: Pai nosso, que estais nos céus, e não pai Pedro de Bernardone, a quem devolvo tanto o dinheiro como a minha roupa toda. Irei nu para o Senhor”. Ó homem de alma livre, para quem só Cristo já era suficiente! Descobriu-se que o homem de Deus usava então um cilício embaixo da roupa, alegrando-se mais com a existência do que com a aparência das virtudes. Seu irmão de sangue também o perseguia com palavras envenenadas, a exemplo do pai...
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa
Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.