Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos continuar a falar de Santa Clara “Plantinha” do Pai Seráfico.
Ardente amor ao crucificado
Na hora do Natal, em que o mundo se alegra com os anjos diante do Menino recém-nascido, todas as senhoras foram à capela para as Matinas, deixando a madre sozinha, oprimida pela doença. Ela começou a meditar sobre o pequenino Jesus e, sofrendo muito por não poder assistir seus louvores, suspirou: “Senhor Deus, deixaram-me aqui sozinha para Vós”. E eis que de repente começou a ressoar em seus ouvidos o maravilhoso concerto que se desenrolava na igreja de São Francisco. Escutava o júbilo dos irmãos salmodiando, ouvia a harmonia dos cantores, percebia até o som dos instrumentos. O lugar não era tão próximo que pudesse chegar a isso humanamente: ou a solenidade tinha sido amplificada até ela pelo poder divino, ou seu ouvido tinha sido reforçado de modo sobre-humano.
Mas o que superou todo esse prodígio foi que mereceu ver o próprio presépio do Senhor. Quando as filhas vieram, de manhã, disse a bem-aventurada Clara: “Bendito seja o Senhor Jesus Cristo, que não me deixou quando vocês me abandonaram. Escutei, por graça de Cristo, toda a solenidade celebrada esta noite na igreja de São Francisco”. Era-lhe familiar o pranto pela paixão do Senhor: ou hauria das sagradas chagas a amargura da mirra, ou sorvia os mais doces gozos. Embriagavam-na veementemente as lágrimas de Cristo sofredor, e a memória reproduzia frequentemente aquele que o amor lhe gravara fundo no coração. Ensinava as noviças a chorar o crucificado dando junto o exemplo do que dizia.
Muitas vezes, ao exortá-las a isso em particular, vinham-lhe as lágrimas antes de acabarem as palavras. Entre as horas do dia, em geral era mais tocada de compunção em Sexta e Noa, para imolar-se com o Senhor imolado. Uma vez, rezava na cela na hora Nona, e o diabo lhe bateu no rosto, enchendo um olho de sangue e a face de marcas. Para nutrir a alma sem cessar nas delícias do Crucificado, ruminava frequentemente a oração das cinco chagas do Senhor. Aprendeu o Ofício da Cruz composto por Francisco, o amante da cruz, e o repetia com o mesmo afeto. Cingia embaixo da roupa, sobre a carne, uma cordinha com treze nós, lembrança secreta das feridas do Senhor. Chegou, uma vez, o dia da Sagrada Ceia, em que o Senhor Amou os seus até o fim (cfr. Jo 13,1).
Pela tarde, aproximando-se a agonia do Senhor, Clara, entristecida e aflita, fechou-se no segredo de sua cela. Acompanhando em oração o Senhor que rezava, sua alma triste até a morte (cfr. Mt 26,38) embebeu-se da tristeza dele, a memória foi se compenetrando da captura e de toda derrisão: caiu na cama. Ficou tão absorta durante toda aquela noite e no dia seguinte, tão fora de si que, com o olhar ausente, cravada sempre em sua visão única, parecia crucificada com Cristo, totalmente insensível. Uma filha familiar voltou diversas vezes para ver se precisava de alguma coisa e a encontrou sempre do mesmo jeito. Amém.
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.