Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos continuar falando sobre São Francisco de Assis. Agora o TRATADO DOS MILAGRES de Tomás de Celano. Sobre o milagre dos estigmas.
Uma dessas senhoras, que unia a nobreza da virtude à do sangue, escolhera por patrono a São Francisco, cujo quadro tinha no seu oratório particular, onde ela rezava a Deus no oculto (Mt 6,6). Certo dia, devotamente entregue à oração, procurou atentamente com os olhos os sinais sagrados, mas, não conseguindo encontrá-los, começou a ficar dolorosamente admirada. Mas não era de admirar que não houvesse no quadro o que o pintor não pintara. A mulher levou aquilo em seu coração por diversos dias sem falar com ninguém, olhando sempre para o quadro e se afligindo. Mas eis que, de repente, apareceram um dia aqueles sinais magníficos nas mãos, como costumam colocar nas outras figuras, suprindo a virtude humana o que fora negligenciado pela arte. Trêmula e muito maravilhada, a mulher chamou depressa sua filha, que também seguia a mãe no santo propósito e, mostrando-lhe o que tinha acontecido, perguntou diligentemente se até então tinha visto a imagem sem os estigmas. A jovem afirmou e jurou que antes não havia estigmas, mas que agora as chagas apareciam. Entretanto, como a mente humana muitas vezes nos leva a cair e põe a verdade em dúvida, a senhora ficou outra vez com uma dúvida ansiosa, achando que a imagem podia ter tido os sinais desde o começo. Então a virtude de Deus fez um segundo milagre para que o primeiro não fosse desprezado. Os sinais desapareceram de repente, a imagem ficou despida de privilégios, para que o fato seguinte confirmasse o que já tinha acontecido. Eu mesmo conheci essa senhora cheia de virtudes e confesso que vi nela, vestida com as roupas do século, uma alma consagrada ao Cristo Senhor. Entretanto, desde o seu despertar, a razão humana se deixa enredar por sensações grosseiras ou por fantasias falaciosas, e, dominada por uma imaginação instável, se vê obrigada, às vezes, a pôr em dúvida o que tem que acreditar. É por isso que não só achamos difícil crer nos gestos maravilhosos dos santos, mas nossa própria fé encontra muitas dificuldades nas coisas da salvação. Um frade menor, pregador por ofício e de vida louvável, firmemente convencido dos santos estigmas, começou a sentir o escrúpulo da dúvida sobre o santo milagre, quando estava fazendo o que costumava ou pensando em outras coisas. Podes imaginar a luta que se levantou dentro dele, com a razão defendendo a verdade, mas a fantasia sugerindo o contrário. A razão sustentada por muitos apoios, admite que é assim como se diz, e, na falta de ulteriores argumentos, crê na verdade proposta pela santa Igreja. Do outro lado, conjuram as sombras sensuais contra o milagre, que parece totalmente contrário à natureza e algo inaudito desde todos os séculos. Uma noite, entrou na cela cansado dessa luta, levando consigo uma razão enfraquecida e uma imaginação ainda mais forte. Quando estava dormindo, São Francisco lhe apareceu com os pés cheios de barro, humildemente duro e pacientemente irado. …
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.