Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos continuar falando sobre São Francisco de Assis. Agora Tomás de Celano. Da discrição de São Francisco.
A prole abundante e formosa era a multidão dos frades, rica de toda virtude. O rei era o Filho de Deus, de quem se tornaram parecidos pela santa pobreza, em cuja abundante mesa real foram alimentados por terem desprezado toda vergonha das coisas vis, pois estavam contentes com a imitação de Cristo e viviam de esmolas, sabendo que haveriam de conquistar a bem-aventurança através dos desprezos do mundo. O papa ficou admirado com a parábola que lhe foi proposta e reconheceu sem dúvidas que Cristo tinha falado no homem. Lembrou-se de uma visão que tivera poucos dias antes e, iluminado pelo Espírito Santo, afirmou que haveria de cumprir-se naquele homem. Tinha visto em sonhos que a basílica de Latrão prestes a ruir, mas sendo sustentada por um religioso, homem pequeno e desprezível, que a sustentava com seu ombro para não cair. E disse: “Na verdade este é o homem que, por sua obra e por sua doutrina, haverá de sustentar a Igreja”. Foi por isso que aquele senhor acedeu tão facilmente ao seu pedido e, a partir daí cheio de devoção de Deus, sempre teve especial predileção pelo servo de Cristo. Concedeu-lhe imediatamente tudo que queria e prometeu que ainda haveria de fazer mais concessões. Com a autoridade que lhe foi concedida, começou a lançar as sementes das virtudes e a percorrer as cidades e vilas pregando com fervor. O servo de Deus Francisco, pequeno de estatura, humilde de pensamento e menor por profissão, escolheu para si e para os seus um pedacinho deste mundo, enquanto neste século tinha de viver, pois não poderia servir a Cristo sem ter alguma coisa do mundo. Pois não deve ter sido sem a presciência do oráculo divino que foi chamado de Porciúncula o lugar que devia cair por sorte para aqueles que não queriam ter absolutamente nada do mundo. Nele também tinha sido construída uma igreja da Virgem Mãe, aquela que, por sua humildade singular, mereceu ser cabeça de todos os santos logo depois de seu Filho. Nela teve início a Ordem dos Menores, e sobre ela se ergueu, como em sólido fundamento, sua nobre estrutura de inumerável multidão. O santo teve um amor especial por esse lugar mais do que por todos, quis que os frades o venerassem de maneira toda particular e quis que fosse conservado na humildade e na altíssima pobreza, como espelho de toda a sua Ordem, deixando a propriedade para outros e reservando para si e para os seus apenas o uso. Aí se observava a mais rígida disciplina em tudo, tanto no silêncio e no trabalho, como nos outros pontos da vida regular. A ninguém se deixava entrar, a não ser os especialmente recomendados aos frades, os quais, reunidos de todas as partes, queria o santo que fossem devotados a Deus e perfeitos de todos os lados. Era absolutamente proibida a entrada de pessoas seculares: ele não queria que os frades, vivendo ali em número reduzido, poluíssem seus ouvidos com o relacionamento dos seculares, para não deixarem a meditação das coisas celestes, arrastados para assuntos menos dignos por divulgadores de boatos. …
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.