Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos continuar falando sobre São Francisco de Assis. Agora Tomás de Celano. De como viviam São Francisco e os irmãos. Do rigor da disciplina.
Era absolutamente proibida a entrada de pessoas seculares: ele não queria que os frades, vivendo ali em número reduzido, poluíssem seus ouvidos com o relacionamento dos seculares, para não deixarem a meditação das coisas celestes, arrastados para assuntos menos dignos por divulgadores de boatos. Nesse lugar ninguém podia dizer coisas ociosas, nem narrar as que tinham sido contadas por outros. Se alguma vez isso acontecia através de alguém, para que não acrescentasse mais nada, ensinando com um castigo, precavia-se para o futuro. Os que ali moravam ocupavam-se sem intermissão, dia e noite, com os louvores divinos, levando uma vida angelical, trescalando um admirável perfume. E com razão. Pois pelo testemunho dos antigos habitantes era conhecida pelo outro nome de Santa Maria dos Anjos. O feliz pai dizia que lhe tinha sido revelado por Deus que a bem-aventurada Virgem amava com um amor especial aquele lugar, entre todas as outras igrejas construídas no mundo em sua honra. E era por isso que o santo gostava mais dela que das outras. Um devoto irmão tinha tido, antes de sua conversão, uma visão a respeito dessa igreja, que merece ser contada. Viu que muitos homens feridos de cruel cegueira, com o rosto voltado para o céu estavam de joelhos ao redor dessa igreja. Todos, com voz chorosa, de mãos estendidas para o alto, clamavam a Deus pedindo misericórdia e a visão. E eis que veio de céu um esplendor enorme, que se difundiu por todos e a cada um deu luz e a desejada saúde. O valoroso soldado de Cristo nunca poupava o corpo, expondo-o, como se não fosse o seu, a toda espécie de injúrias, por atos ou palavras. Se alguém tentasse numerar todos os seus sofrimentos, ultrapassaria os que nos são referidos pelo Apóstolo sobre os santos. Da mesma maneira, toda aquela sua primeira escola submetia-se a todos os incômodos, a ponto de julgar mal se alguém ambicionasse alguma outra coisa que não fosse a consolação do espírito. Pois como se cingiam e vestiam com círculos de ferro e cilícios, macerados por muitas vigílias e jejuns contínuos, muitas vezes teriam desfalecido, se não abrandassem um pouco o rigor de tamanha abstinência pelas admoestações atentas do piedoso pastor. Certa noite, quando todos descansavam, uma daquelas ovelhas começou a gritar: “Estou morrendo, irmãos, estou morrendo de fome! ” O valoroso pastor levantou-se imediatamente e se apressou a acudir sua ovelhinha doente com o devido remédio. Mandou preparar a mesa, embora cheia de rústicas iguarias, onde havia água no lugar de vinho, como era frequente. Ele mesmo começou a comer e, por caridade, para que o irmão não ficasse envergonhado, convidou também os outros irmãos. Depois de terem tomado o alimento no temor do Senhor, para que nada faltasse ao dever da caridade, contou-lhes o pai uma longa parábola sobre a virtude da discrição. …
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.