Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos continuar falando sobre São Francisco de Assis. Agora o SEGUNDO LIVRO de Tomás de Celano. Da fome que predisse para depois de sua morte.
Foi por essa razão que, um dia, o santo Pai a um frade a quem tinha grande estima contou esta palavra que tirara então de seu segredo familiar com a Majestade: “Em nossos dias, existe na terra um servo de Deus, por quem o Senhor não vai permitir que a fome se abata sobre a humanidade enquanto ele viver”. Não tinha vaidade nenhuma, mas expressou o santo relacionamento, para nossa edificação em palavras santas e modestas, aquela santa caridade que não busca o que é seu. E nem devia mesmo esconder com um silêncio inútil tão admirável prerrogativa da predileção de Cristo para com seu servo. Todos os que vimos sabemos como foram calmos e pacíficos os tempos enquanto o santo viveu, e como transbordaram na fertilidade de todos os bens. Não havia fome da palavra de Deus, porque as palavras dos pregadores eram então cheias de maior virtude, e os corações de todos os ouvintes eram mais aprováveis por Deus. Refulgiam os exemplos de santidade na figura dos religiosos, a hipocrisia dos “caiados” ainda não tinha atacado tantos santos, e a doutrina dos “transfigurados” ainda não tinha despertado tanta curiosidade. Era justo que houvesse abundância dos bens temporais quando todos tinham tanto amor pelos bens eternos. Quando ele nos foi tirado, houve uma alteração e tudo ficou diferente. Guerras e revoluções se espalharam por toda parte, e de uma hora para outros muitos reinos foram invadidos por calamidades mortais. Uma fome atroz se estendeu em todas as direções, e sua crueldade, superando todos os males, acabou com muita gente. A necessidade transformou tudo em alimento, e os homens puseram nos dentes o que nem os animais costumam comer. Chegaram a fazer pães com cascas de nozes e de árvores. Para falarmos um tanto veladamente, há testemunhas para confirmar que nem a morte de um filho chegou a comover um pai torturado pela fome. Mas, para que fique bem certo quem era aquele servo fiel, por cujo amor a mão de Deus estava suspendendo a vingança, o bem-aventurado Pai Francisco, poucos dias depois de sua morte, apareceu ao frade a quem tinha predito a desgraça e afirmou claramente que era ele aquele servo do Senhor. Certa noite, estando o frade a dormir, chamou-o com voz clara e disse: “Irmão, já chegou a fome que Deus não permitiu que viesse sobre a terra enquanto eu estava vivo”. Acordado pela voz, o frade contou depois tudo por ordem. Mas na terceira noite depois disso o santo apareceu de novo e repetiu palavras semelhantes. Ninguém deve estranhar que o profeta de nosso tempo gozasse de tais privilégios. Pois livre da escuridão das coisas terrenas, não submisso aos desejos da carne, sua inteligência voava livre para as alturas mais sublimes e penetrava na luz com pureza. Iluminado pelos resplendores da luz eterna a, tirava da Palavra eterna o que ressoava em suas palavras. Ai, como somos diferentes hoje! Envolvidos nas trevas, ignoramos até o necessário! Por que motivo, crês, a não ser porque somos amigos do cerne e nos metemos no pó dos mundanos. …
Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.