Paz e Bem, meu amigo e irmão, vamos continuar falando sobre São Francisco de Assis. Agora a Primeira Biografia de Tomás de Celano. Do fervor do bem-aventurado Francisco e de sua doença dos olhos.

 Pelo contrário, para que o favor humano não lhe roubasse a graça recebida, procurou escondê-la de todos os modos possíveis. Tinha decidido não revelar a quase ninguém o seu segredo extraordinário, temendo que, como costumam fazer os privilegiados, contassem a outros para mostrar como eram amigos, e isso resultasse em detrimento da graça que tinha recebido. Por isso guardava sempre em seu coração e repetia aquela frase do profeta: “Escondi tuas palavras em meu coração, para não pecar contra ti”. Tinha até combinado um sinal com seus irmãos e filhos: quando queria interromper a conversa de pessoas de fora que o visitavam, recitava aquele versículo e eles tratavam de despedi-las delicadamente. Sabia por experiência como fazia mal contar tudo a todos e que não pode ser homem espiritual quem não possui em seu coração outros segredos, mais profundos do que os que podem ser lidos no rosto e julgados por qualquer pessoa. Tinha percebido que algumas pessoas concordavam com ele por fora e discordavam por dentro, aplaudiam na frente e riam-se por trás, levando-o a julgar os outros e até a suspeitar de pessoas irrepreensíveis. Infelizmente, muitas vezes deixamos de acreditar na sinceridade de poucos porque a maldade procura denegrir o que é puro e porque a mentira se tornou natural para a maioria. Por esse tempo, seu corpo começou a padecer diversas doenças, mais graves do que as que já sofrera. Ele sempre tivera alguma enfermidade, pois tinha castigado duramente o corpo, por muitos anos, para reduzi-lo à servidão. Durante dezoito anos completos, seu corpo não tivera quase nenhum descanso, pois tinha andado por várias e extensas regiões, lançando por toda parte as sementes da palavra de Deus com aquele espírito decidido, devoto e fervente que nele residia. Tinha enchido a terra inteira com o Evangelho de Cristo: num só dia chegava a passar por quatro ou cinco povoados, ou mesmo cidades, anunciando a todos o Reino de Deus, e edificando os ouvintes tanto pela palavra como pelo exemplo, pois toda a sua pessoa era uma língua que pregava. Sua carne estava tão de acordo e obedecia de tal forma ao seu espírito que, enquanto ele procurava atingir a santidade, o corpo não só não impedia, mas até corria na frente, de acordo com o que está escrito: “Minha alma teve sede de vós, e o meu corpo mais ainda”. A sujeição já era tão costumeira que se tornara voluntária, e pela humilhação diária tinha conquistado toda essa virtude, porque muitas vezes o hábito passa a ser natureza. Mas, como é uma lei inelutável da natureza e da condição humana que o homem exterior vá perecendo cada dia, enquanto a interioridade se renova sem cessar, aquele vaso preciosíssimo, em que estava o tesouro escondido, começou a ceder por todos os lados e a se ressentir da perda de forças. Entretanto, “quando o homem crê estar no fim, é então que começa” (cfr. Eclo 18,6), seu espírito se tornava mais disposto na medida em que a carne estava mais fraca (cfr. Mt 26,4). …

Para louvor de Nosso Senhor Jesus Cristo Amém. (Continua na próxima edição – Programa Francisco Instrumento da Paz). Paz e Bem.

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