Café renasce no Paraná; cidade produz atualmente 10,4 mil toneladas do grão por ano, espalhados por cerca de 5 mil hectares
Assessoria
O aroma inconfundível do café pode ser sentido da rodovia que liga o Paraná a São Paulo, em Carlópolis, no Norte Pioneiro. Às margens da estrada, dentro do sítio Teixeira, uma pequena torrefação encravada entre cafezais completa mais uma fornada do café gourmet de gosto singular. É a última etapa do processo comandado com maestria por Marcelo Valdevino da Luz.
Ali, na área de 63 hectares, nada foge ao olhar atento do agricultor, o que ajuda a explicar a qualidade do produto final, referência no País. Marcelo tem uma vida dedicada aos pequenos grãos avermelhados. Começou de “calça curta” a acompanhar o pai na roça.
Quando sentiu que as coisas não estavam indo bem na propriedade, com as vendas estagnadas e as parcelas dos financiamentos pressionando o orçamento familiar, deu um jeito de arrumar as malas para fazer a vida no Japão, ali pelos meados da década de 1990.
Virou um faz-tudo da construção civil do outro lado do mundo para juntar dinheiro suficiente capaz reerguer o pequeno sítio de café. Uma jornada de 15 anos que permitiu a ele comprar a parte de terra que cabia aos sete irmãos, arrendar mais 50% de chão dos vizinhos e, principalmente, mecanizar a produção. O combo revolucionou o dia a dia do local, um caminho sem volta.
“Decidi por conta e risco ir trabalhar no Exterior, o que nos permitiu modernizar o plantio de café e realmente focar em entregar um café de qualidade”, diz ele, que com o recurso das máquinas e da tecnologia consegue produzir entre 90 a 120 sacas de 60 quilos por hectare, a maioria destinada para a exportação. “Café agrega muito valor e consegue segurar o agricultor no campo. Na época de colheita, tem muita gente trabalhando”.
Somente ali no sítio Teixeira, o quadro funcional salta de 6 para mais de 20 pessoas entre os meses de maio e agosto – a época do café.
A opção pela mecanização logo ganhou corpo na pequena Carlópolis. E, em questão de anos, a cidade se transformou no principal polo do café no Paraná. Atualmente, de acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), o município produz 10,4 mil toneladas do grão por ano, espalhados por cerca de 5 mil hectares. É mais quase o dobro da vizinha Pinhalão, também no Norte Pioneiro, com 5,6 mil toneladas/ano.
“Recebemos muito apoio do Estado para fazer com que o café de Carlópolis se firmasse como um produto de qualidade”, afirma Antônio Aparecido Rosolem, 38 anos dedicados ao “ouro negro” em uma área de 210 hectares, próxima ao sítio Teixeira.
RETRAÇÃO – A produção do café no Paraná estimada para esse ano é de 870 mil sacas – 10% a menos que em 2020, resultado da estiagem e de uma pequena redução na área de plantio. O valor da saca, em algumas localidades, ultrapassou R$ 1 mil, tendência reforçada com as geadas recorrentes durante o inverno.
Atualmente, o Paraná é o sexto maior produtor do grão no País, atrás de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Rondônia.
“O governador Ratinho Junior sempre nos desafia a sermos mais criativos, mais assertivos, mais presentes na construção de uma densidade maior na economia do Norte Pioneiro a partir do agro, a partir do rural. Por isso nos somamos aos que participam do esforço de valorização da cafeicultura”, destaca o secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.
Para o presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater (IDR-Paraná), Natalino Avance de Souza, a fórmula empregada no Norte Pioneiro, de agregação de valor, qualidade e eficiência na comercialização é vencedora.
“É importante reconhecer esse movimento de resiliência do Norte Pioneiro, é importante reconhecer esse esforço de produzir o melhor café do Brasil, é importante reconhecer essa parceria que faz a diferença”, ressalta. “Isso faz o café do Paraná, do Norte Pioneiro, ser conhecido, ser lembrado no Brasil inteiro e em outras partes do mundo”.