Idealizada e criada pelo padre Roberto Medeiros, a Casa de Acolhida recebe mulheres grávidas que estão desamparadas e precisam de ajuda
Regiane Romão
O período da gestação deve ser mágico para todas as mulheres, porém, em alguns casos, esse sonho pode se tornar um pesadelo, e a mulher se vê sozinha e desamparada. Quando o desespero bate à porta, a mãe, movida por fortes emoções, pode desejar interromper a gravidez, deixando de lado o sonho de viver a maternidade.
Por essa razão, em Bandeirantes, foi criada a Associação Casa de Acolhida Colo de Maria, um local que abriga mulheres grávidas (caso elas tenham mais filhos com idade até sete anos, as crianças também são recebidas na instituição) e que tenham a intenção de abortar o bebê que está para chegar. O projeto tem como finalidade atuar no suporte psicológico da mãe para evitar que ela interrompa a gestação.
A Casa de Acolhida Colo de Maria foi idealizada e criada pelo padre Roberto Medeiros, um homem simples que pratica a benevolência entre os seus iguais, recebeu durante sonho, quando ainda era seminarista, a missão e a necessidade de iniciar tal projeto para ajudar essas mães e esses bebês, principalmente os que se encontram em vulnerabilidade.
Durante a entrevista que concedeu ao jornal Folha do Norte, padre Roberto contou que, em seu sonho, havia muitas crianças vestindo fraldinhas e andavam pelo corredor dos quartos. E ele pensava na sua quimera: ‘será que essas crianças vão entrar aqui?’. E quando percebeu, muitas delas já estavam subindo na sua cama e, nesse momento, uma criança alcançou o pescoço dele e o abraçou. Foi quando notou que se tratava do Menino Jesus. “Acordei e passei o dia como se estivesse pisando nas nuvens. Senti uma felicidade sem tamanho. Sabia que Jesus queria me dizer alguma coisa, mas ainda não estava pronto para entender”, recordou.
Com o passar dos anos, padre Roberto assumiu o Santuário de São Miguel Arcanjo, em Bandeirantes. Nesta época, uma irmã o procurou e o chamou para trabalhar com gestantes, entretanto teve que recusar, pois naquela ocasião ele se encontrava muito atarefado. A irmã não desistiu e o procurou por três anos.
Padre Roberto sabia que a hora de trabalhar com gestantes chegaria e um dia conversando com os meninos que frequentam o projeto ‘Ninguém como Deus’ ouviu a história de uma jovem que estava sendo catequisada pelo pai de um dos internos, que estava grávida, e não tinha para onde ir. Ele, então, disse que não poderia acolher essa menina lá na casa, já que o local é destinado para meninos que querem seguir o sacerdócio.
Passaram alguns dias, durante almoço com outro pároco vindo de fora, este disse ao padre Roberto: “Padre, tem uma Nossa Senhora atrás do senhor. O estranho é que é uma Nossa Senhora grávida”. Ele ficou em silêncio, mas sabia que mais uma vez era o chamado de Deus para esse projeto. Foi, então, que ele resolveu procurar a irmã para dar andamento no projeto, todavia, acabou descobrindo que a freira estava doente e não poderia assumir o projeto com ele. Após esse episódio, o sacerdote recebeu o telefonema de um casal que queria conselhos sobre um curso que tinha como tema ‘Como trabalhar com mulheres grávidas’. Ele disse ao casal: “façam o curso e depois me contem como foi”, indicou. Na semana seguinte, o casal ligou e contou ao padre o teor do curso. Como havia pedido em oração pessoas para trabalhar no projeto, ele entendeu ser mais um sinal, que foi confirmado com a vinda e a moradia do referido casal para Bandeirantes, nascendo assim o sonho da Casa de Acolhida Colo de Maria.
Com a ideia na cabeça e o desejo no coração, mais uma vez padre Roberto foi avisado em sonho que algo grande aconteceria, e durante a revelação ele viu um muro bem alto, com um portão grande e uma casa a qual lhe era entregue. Dias se passaram e uma pessoa bem conhecida da cidade o chamou. Ele foi levado até a casa e lhe foi perguntado: ‘foi esse muro e essa casa que o senhor viu no seu sonho?’. Ao ouvir a resposta afirmativa do padre, a pessoa o convidou para entrar na casa. E ali foi fundada a Associação Casa de Acolhida Colo de Maria.
COLO DE MARIA – A Associação é um local que recebe gestantes maiores de 18 anos, em qualquer período da estação, e pode permanecer na Casa com o bebê até ele completar seis meses. Lá, a gestante e o bebê recebem todo o apoio necessário, médico, psicológico e financeiro (com doação do enxoval, assim como acomodações para a mãe e o bebê). Não há custos para a permanência no local, porém, existem regras que devem ser cumpridas. As mulheres que estão na casa não podem sair do local e em caso de receber visitas, essas devem ser agendadas com antecedência e os visitantes têm que passar por uma consulta com o psicólogo que atende a Casa.
Como muitas delas vêm de fora, quando demonstram vontade de permanecer em Bandeirantes, a equipe (todas voluntárias) tenta recolocar no mercado de trabalho, arrumar vagas em centros de educação infantil para o bebê e, também, quando possível, doam alguns móveis (vindos também de donativos) para que a família possa se reestruturar.
Além disso, as gestantes (independente das internas ou não) têm encontros semanais na casa com profissionais que orientam sobre os cuidados com a gravidez e com o bebê. São palestras ministradas por enfermeiras e outros profissionais de saúde que dão dicas às futuras mamães.
DO SONHO PARA REALIDADE – O sonho do padre Roberto é uma realidade que acontece há alguns anos em Bandeirantes e tem salvado vidas em todos os seus sentidos, dando uma chance, uma oportunidade e tirando as gestantes do desespero que, por alguma razão, não conseguem, em um primeiro momento, cuidar do filho que vai chegar. A Associação Casa de Acolhida Colo de Maria traz esse acalento, ajudar quem precisa, sendo da cidade de Bandeirantes ou não.