O Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Acadêmicos Capiau prepara para 2025 o maior Carnaval da sua breve história de existência. O enredo deste ano será “Jacarezinho Preta: uma história não contada”, tema que faz homenagem à cultura negra do município e propõe reflexão sobre o silenciamento dessa população na cidade. O desfile será realizado no dia 2 de março, a partir das 22h, na avenida Manoel Ribas, em Jacarezinho.
O enredo do Carnaval deste ano foi concebido a partir das pesquisas realizadas pelos professores James Rios de Oliveira Santos, presidente e carnavalesco da Capiau, e Carol Goulart, diretora de comunicação da Escola de Samba. “Desde maio do ano passado, temos trabalhado muito, incansavelmente, para levar à comunidade um desfile que há muito tempo Jacarezinho não vê. A população pode esperar um espetáculo a céu aberto”, disse o presidente.
Este ano, a Capiau aumentou o número de alas, pela necessidade apresentada pelo enredo. A comissão de frente da Escola trará coreografia que irá rememorar a “romaria das iaôs” – um cortejo afrorreligioso que, por décadas, fora conduzido por Pai Toninho, do terreiro dele a uma igreja Católica. Já a ala das baianas, neste Carnaval, representará as mães de santo da cidade e sua vinculação ao samba.
Outras alas irão compor a narrativa e ajudarão a contar a história. “Atividade Cafeeira”; “Corte Afro-bantu: viva os Candomblés e Umbandas de Angola”; “Batucada: Jacarezinho percussiva”; “Maracá Pedreira: música no sangue, África na veia” e “Pretas-senhoras-ancestrais” vêm para a avenida para “homenagear a existência do povo preto que trabalhou por esta terra, que plantou o axé e o samba nesta cidade”, enaltece James Rios.
A novidade neste ano será a presença de dois casais de mestre-sala e porta-bandeira, que trarão, respectivamente, representações de uma África ressignificada no território e do movimento hip-hop. O desfile da Capiau contará ainda com três alegorias que recuperam aspectos culturais importantes da cidade: o Candomblé, o Carnaval e a Patolândia. Cerca de 200 pessoas devem desfilar com a Capiau este ano.
“O enredo ‘Jacarezinho Preta’ é uma aula antropológica sobre a história econômica e cultural de uma cidade que ainda desconhecemos. É comum ouvirmos nas ruas e na universidade que ‘a história negra ainda não foi contada’. Já virou um mantra. Então nossa contribuição para as instituições e para a vida cultural da cidade é quebrar o lamento histórico e contar um pouco dessa história”, destaca Carol Goulart. “Esse enredo é uma homenagem às mulheres e aos homens negros da nossa cidade. A mensagem que deixaremos é: reconheçam a nossa ancestralidade, a nossa cultura, os nossos saberes”, acrescenta James Rios.
SAMBA – “Jacarezinho Preta, eu sou! / Sou a voz que o tempo não cala/ Tambor que ressoa, Kitembo entrega/ Capiau é kilombo, É o chão/ Onde vou renascer” canta o refrão do samba-enredo 2025 da Capiau, composto por James Rios e Pedro Henrique Garcia Dias. Os compositores da música acentuam o desafio que foi a construção do samba que destaca algumas figuras pretas importantes para a edificação da história da cidade. “Em um único samba, não seria possível destacar tantas personagens que merecem nossa atenção e lembrança, mas buscamos aqui celebrar, por meio das pessoas citadas, outras tantas esquecidas ou silenciadas”, disse Pedro Henrique, vice-presidente da Capiau.
No samba, são destacadas, por exemplo, as figuras de Eusébio, um dos construtores da Capela São Benedito; Tim, ensacador de café; Seu Dito, eletricista que trabalhou nas instalações elétricas da Catedral de Jacarezinho; Mãe Carmem, militante da cultura negra; Dona Lazinha, a baiana mais velha de Jacarezinho; Mãe Margarida, importante expoente do candomblé da cidade; e Pato Benzedor.

“São pessoas que, cada uma à sua maneira, trouxeram contribuições significativas para o município, mas quase nunca são lembradas. Não figuram enquanto nomes de ruas e avenidas, não constam nos anais da nossa memória oficial”, reflete Pedro Henrique. “É dever de uma Escola de Samba como a nossa reposicionar seu povo na história da cidade. Estamos cumprindo com nossa obrigação”, acentua James Rios.
HISTÓRIA – Fundada em 2019 por integrantes da Bateria Capiau, do Curso de Direito da UENP, e por membros da comunidade do samba da cidade de Jacarezinho, a Escola nasceu Bloco Carnavalesco com o objetivo de contribuir com a manutenção do Desfile das Escolas de Samba, que passavam por um processo de declínio.
Hoje, para além do Carnaval, a Acadêmicos Capiau se constitui enquanto organização social de cultura preocupada com debate sobre políticas culturais para o setor, em especial, para as áreas de patrimônio e memória dos povos e comunidades tradicionais e comunidade LGBTQIAPN+. No período eleitoral, a Escola realiza lives ao vivo, pauta a cultura junto aos candidatos ao legislativo e executivo da cidade. “Nós pensamos a Escola de Samba como um espaço de possibilidades criativas que não se restringe ao desfile e que não se desfaz na quarta-feira de cinzas”, pontua Carol Goulart.
Para acompanhar os trabalhos realizados pela Escola de Samba, siga a Capiau no Instagram @greces_academicoscapiau. Para todas as informações sobre o samba que será cantado na avenida neste ano, assista ao vídeo “Destrinchando o samba-enredo 2025” por meio do endereço https://www.youtube.com/watch?v=Tm_jDFXxhso&t=35s.