Inspirada em sua filha Beatriz, ela criou nove livros que traz crianças atípicas como personagens principais

Regiane Romão

Uma mãe apaixonada pelas palavras e uma criança extremamente tímida. Misture esses ingredientes que nascerá a coleção Leituras Inclusivas da escritora Késsia Oliveira. Em uma entrevista ao jornal Folha do Norte Paranaense ela explicou sobre o ‘nascimento’ da coleção e os seus passos no mundo da escrita.

Tudo começou em uma viagem que Késsia fez com a família para o Rio de Janeiro. A filha Beatriz era pequena e não aceitava o colo de outras pessoas por ser uma criança tímida. A escritora percebeu que algumas pessoas evitavam chegar perto delas, já que a Beatriz não respondia às expectativas dos ‘estranhos’. “Quando isso aconteceu com a gente, eu tive um estalo. Percebi que tinha que escrever sobre as diversidades das crianças, que era preciso falar sobre isso”, comentou.

O primeiro livro da série se chama ‘Beatriz e sua Turma’ e apresenta os personagens. Oito crianças que de alguma forma são atípicas, seja por questões de neurodesenvolvimento, por características físicas ou por questões familiares.   

Késsia explicou que cada livro veio com um objetivo. “Eu fui pensando nas crianças que conheci ao longo da vida. E como eu gostaria de ter incluído essas crianças em minhas brincadeiras ou em minha história”, avaliou. Porém, esse diálogo não poderia ficar apenas com as crianças. “Não bastava pensar nas crianças. Eu queria dialogar sobre famílias, falar sobre diversidade cultural, diversidade familiar e neurodiversidade também. Além disso, busquei e eu trouxe a inclusão em seu total sentido”, afirmou.

De acordo com Késsia, incluir está muito além de criar rampas de acesso para cadeirantes. Para ela, incluir é ter frutas picadas no supermercado para quem não pode cortá-las em casa, é desistir de festas tradicionais para festas que contemplam todas os tipos de família. “É falar sobre crianças que tem apenas os avós como referência, ou que são filhos por adoção, eles não são adotados, a adoção foi o meio apenas”, citou e referendou que as diversidades abordadas por Késsia foram escolhidas por suas vivências, sua sabedoria e conhecimento adquirido ao longo dos anos. E assim surgiu, em apenas uma noite, os oito exemplares que completariam o box de leitura.

No primeiro livro, Késsia contemplou Beatriz e a turma, que apresenta os personagens dos outros livros. É uma apresentação da série.  A Nina, é cadeirante, filha de dois pais e sonha em ser bailarina, ela ensina sobre frustração. O Heitor veio com dupla excepcionalidade, ele é autista e tem AH/SD. O João tem síndrome de Down e veio com a temática de morte e despedida, além de ser um menininho criado pela avó. A Catarina tem perda auditiva e parcial da visão, ela precisa dos sinais para se comunicar, e ensina um pouco desse universo da comunicação para os amigos. O Luciano é o personagem ansioso, ele é um menino diabético que ama instrumentos musicais. A Júlia é albina, ensina um pouco sobre gratidão e sobre a importância de cuidar da pele em relação à exposição solar, também é uma criança vinda por adoção com pai e mãe negros. “Por fim, o Edu, que sou eu, não na minha infância. Ele é um menininho que se alimenta super bem, mas que não ganha peso. Biotipo magrinho mesmo que nos ensina sobre saciedade e respeito aos limites do próprio corpo”, relacionou.

A escritora contou que o primeiro livro, levou cerca de quatro meses para ser elaborado, escrito e definido. E para ilustrar as páginas, Glória Doval foi a responsável para realizar tudo o que imaginou e sonhou, em cada detalhe. “As crianças vibram com a arte dela. A Raquel Benchimol, é a doula de livros, cuidou de toda revisão, e parte burocrática. O Haroldo Brito, é um designer gráfico surreal. O trabalho impecável”, elencou e enfatizou que a coleção foi feita de muitas mãos. “A obra é muito completa e pensei em cada detalhe, desde as cores, até a fonte de fácil leitura para crianças em alfabetização. Rimas, versos pausados, mesmo número de páginas. Tudo veio em minha mente. Prontinho. Daquelas sensações que não podemos deixar escapar. É acreditar e realizar”, relatou animada.

A comercialização dos livros é feita por ela mesma e está disponível no site. “Tudo é feito comigo mesma. Eu recebo os pedidos, separo, empacoto, e conto com meu parceiro de vida para levar para o serviço de entrega. Eu registro no site todos os rastreios e fico junto com as pessoas aguardando que eles cheguem em suas casas. Cada etapa é incrível para mim, e eu amo cuidar de todas elas”, revelou.

Atualmente já são mais de 1.500 livros pelo Brasil. Além dos vendidos, na primeira remessa ‘Beatriz e sua Turma’, para cada livro vendido, um era separado para ser doado. E assim foi um exemplar para escola pública no Distrito Federal, outro para a escola que a filha estudou também no Distrito Federal. Sucessivamente foram doações, por exemplo, de 60 livros para crianças de uma casa de acolhimento em Santa Catarina, outras unidades foram para São Paulo, para uma médica que admira e que destinou às crianças atípicas.

A escritora ainda tem exemplares da coleção disponível. Eles podem ser comprados juntos ou separados e a coleção completa custa R$ 280,00, sendo que o frete é grátis para todo o país. Para finalizar, Késsia deixa uma mensagem para todos.

“A mensagem que eu levo em meu coração o tempo todo é para que as pessoas enxerguem as nossas crianças. Enxerguem a beleza das individualidades de cada uma delas, percebam os sinais de amor em cada diversidade. Lutem pela inclusão, respeito, amor. Ensinem sobre anticapacitismo e busquem sempre informações seguras e sem preconceitos. Sejamos a geração que vai educar as crianças de maneira leve, respeitosa, positiva e inclusiva”.

2 COMENTÁRIOS

  1. Sou estudante de pedagogia, adquiri a coleção inteira de Beatriz e a sua turma, ela foi utilizada por mim no estagio de regência em ensino fundamental I séries iniciais no Pré e 1ºano as crianças adoram a cotação de história de cada personagem foi um sucesso, adorei a maneira com que a escritora Késsia Oliveira apresentou cada personagem e o que cada um nos ensinava .

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