Da esq. para a dir.: Comendador Daniel Meneghel, Paschoal D’Andrea, advogado Valdir Bittencourt e o autor, Walter de Oliveira – ainda nos tempos de cabelos escuros

Águas Yara – A “Deusa Das Águas”

(Décima primeira parte)

Walter de Oliveira*

O passo a passo para o asfaltamento da “Estrada da Yara”
Encerramos o artigo anterior dizendo das mordomias que o Hotel Yara ofertava aos “apostadores” do cassino, mais do que merecidas, pela dinheirama que eles deixavam na casa. Cobrando um “barato” de 10% sobre as apostas feitas, o cassino seria certamente fonte de grandes lucros para D’Andrea, não fosse o caso dele além de ser – segundo se dizia nos bastidores do cassino – um dos seus mais assíduos apostadores, sobretudo nas “paradas dobradas”, não ser o mais hábil no “manejo” das cartas e tampouco um “sortudo” entre os seus pares. Somando-se isso ao custo das excelentes, mas também caras mordomias ofertadas aos apostadores, se lucro havia, era o mínimo. Uma conclusão equidistante é a de que o cassino de Águas Yara ia pouco além de ser apenas um “hobbie” para o seu dono. Um “hobbie” bastante caro, convenhamos.

Porém, D’Andrea tinha em si muito mais que simplesmente o gosto pelas cartas e as altas apostas. Sendo, como já referido, um “gentleman” na acepção do termo, ao primeiro contato com as pessoas, ele as atraía e granjeava a sua simpatia, o que o tornava uma estrela e atração entre as centenas delas que frequentavam a sua cada dia mais aprazível estância balneária, cujos “anos dourados” foram sob a sua gestão. Que o digam seu congestionado espaço de estacionamento, o fumegar das inúmeras churrasqueiras, o fervilhar de banhistas na piscina de água mineral (um raro luxo, convenhamos), as longas filas para a compra de lanches, bebidas e sorvetes. A cozinha do restaurante, a cargo do “chef” Durvalino, preparava as mais finas iguarias, que sob a imponente e cinematográfica figura do “maitre” Timóteo, eram servidas por Antônio (Nicão), Nilton (pai do ídolo Nilmar), Joaquim e Nivaldo, todos diplomados pelo Senac e os melhores garçons que passaram por Águas Yara. À noite, após o jantar, Orlando Senize, deixando de ser o competente gerente do hotel (ele sucedera Rudolf Müller), empunhava o seu violão “Di Giorgio” e brindava os hóspedes e pessoas da casa com os maiores clássicos da seresta brasileira. Conta Dalton Toledo, ex-cartorário de Santo Antônio da Platina e hoje morador de São José dos Pinhais, que mais de uma vez ele veio de Santo Antônio para Águas Yara única e exclusivamente para ouvir Orlando Senize cantar.

Enquanto acontecia tudo o que relatamos, o tempo passou e chegamos ao ano de 1973, quando Jamil Fares Midauar tomou posse como prefeito de Bandeirantes e nós fomos nomeado seu Chefe de Gabinete. Amigo bem próximo de D’Andrea, já na sua primeira semana, este convidou Jamil para um jantar em Águas Yara, cujo convite nos incluía, até pela relação de trabalho que mantínhamos com D’Andrea. E foi nesse jantar que foi dado o “start” para que Termas Yara pudesse contar com o benefício de uma estrada asfaltada (e não apenas Águas Yara, senão todos os que dela se servem, que não são poucos). E foi enquanto jantávamos que D’Andrea falou do seu plano para Termas Yara, que outro não era senão transformá-la numa estância hidrotermal digna desse nome, palavras que soaram como música para Jamil, um dos assíduos frequentadores de Yara (e também do seu cassino). Todavia – prosseguiu D’Andrea –, para que seu plano fosse avante, era imprescindível que a estrada Bandeirantes-Águas Yara fosse asfaltada. Já a segunda parte da conversa de D’Andrea levou Jamil a cerrar o cenho, por saber que tal asfaltamento era uma obra de alto custo e totalmente fora de cogitação de ser bancada pela prefeitura, que tinha sua arrecadação totalmente comprometida com as obras já constantes do cronograma de trabalho do município.

E a preocupação de Jamil ia além, porque sabia que o próprio Governo Estadual, com uma imensa demanda na sua malha asfáltica, teria muita dificuldade para encampar um projeto que seria do interesse de um único município. Nesse instante, Jamil se dirigiu a nós e disse de forma bem clara e firme: – Você, meu Chefe de Gabinete, a partir de agora terá como incumbência prioritária analisar e buscar formas de viabilizar essa demanda do D’Andrea. E prosseguiu: – A prefeitura não tem recursos para realizá-la, mas pode custear estudos e diligências necessárias no sentido de que tal aconteça. A fala do prefeito nos pegou de surpresa, assim como surpreso e quase perplexo ficou Paschoal D’Andrea. Apesar do impacto que a fala do prefeito nos causou, dissemos a ele que apesar da nossa nenhuma experiência no assunto (cartorário que éramos), iríamos encarar o desafio. Tendo aprendido desde cedo que a vida em si mesma já é um desafio, dos quais já havíamos vencido tantos, já no final da semana seguinte botamos o pé na estrada, tal qual e há mais de um século fez o tenente norte americano Rowan, da célebre e mundialmente conhecida história “Uma mensagem a Garcia”, e no final do primeiro dia de viagem chegamos ao belo balneário de Águas da Prata/SP, primeira das cidades que formam o “Circuito das Águas” São Paulo-Minas Gerais, nas quais nossa intuição dizia estar o “fio da meada”.

Ali pernoitamos e ficando até o almoço de domingo, de onde seguimos para Poços de Caldas/MG, a poucos quilômetros dali. Mas, apesar de curta, a nossa estada em Águas da Prata foi do maior proveito, posto que foi ali que realmente encontramos o tão procurado “primeiro passo” rumo à solução da incumbência a nosso cargo: um bem elaborado projeto do futuro balneário Yara. Vamos dar alguns detalhes para que os nossos ilustres leitores possam avaliar quem foi o técnico que projetou o balneário de Águas Yara e que foi um dos fatores determinantes para o asfaltamento da estrada Bandeirantes-Yara. Dizemos um dos fatores, porque além do projeto do balneário, vários outros fatores pesaram para a viabilização de uma tão importante obra. Já dissemos em artigo anterior, mas vale a pena repetir, que Bandeirantes é um dos poucos – senão o único – dentre os 399 municípios paranaenses a contar com uma “rodovia estadual” (PR-519), a estrada da Yara, que começa e termina dentro de seu território (e tudo começou com a incumbência que o então prefeito Jamil Fares Midauar nos deu durante um jantar em Termas Yara, na primeira sexta-feira de fevereiro de 1973).

(Continua na próxima edição)

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