Deputado Estadual Fuad Nacli - representante parlamentar de Bandeirantes entre 1967 e 1984

Águas Yara – A “Deusa Das Águas”

(Décima Quinta Parte)

*Walter de Oliveira

Águas Yara – Autorizado o asfaltamento da estrada

Anunciamos hoje, até para alegria ou alívio dos que nos têm honrado com a sua atenção, que este artigo é o penúltimo que escrevemos sobre a história de Águas Yara. Encerramos o da quarta-feira passada brindando a um asfalto que na opinião do prefeito Jamil Fares Midauar e Paschoal D’Andrea acabava de ser negado pelo governador do estado. Importa, pois, explicarmos aos nossos gentis leitores a razão daquele nosso otimismo, uma razão que se traduzia em quatro singelas palavras: “estradas de escoamento agrícola”, exatamente também o caso da estrada da Yara. Ao lermos essa parte do ofício, já estávamos também vendo todas as propriedades agrícolas que se serviam da estrada da Yara, serem agora beneficiadas por um asfalto que o governo estadual iria fazer, bastando para isso que comprovássemos que a Estrada da Yara era de “escoamento agrícola”, um fato dos mais notórios. O ofício do governo não dizia “textualmente” que o estado iria asfaltar a estrada da Yara, classificada no mesmo documento como “estrada de lazer” (como foi considerado o projetado balneário). Mas, como se diz popularmente, “o peixe morre pela boca”, e uma vez comprovado ser a estrada da Yara de “escoamento agrícola”, o governo acabara de se comprometer em asfaltá-la. Ao explanarmos isso ao prefeito e a D’Andrea, este chamou o nosso até hoje amigo Nilton Honorato, então garçom do hotel, pediu que trouxesse o melhor champanhe da casa e todos, inclusive os funcionários, brindaram ao futuro asfalto da Yara.

Pedro Washington de Almeida – Assessor do governador Jaime Canet Jr, para assuntos do interior

Já no dia seguinte, Iune Salli – autônomo contratado para ajudar na elaboração do projeto do balneário – foi chamado para fazer um novo trabalho: levantar, uma por uma, todas as propriedades agrícolas cujas produções eram escoadas por essa estrada. Diligente como era, em oito dias de serviço, Iune nos entregou o relatório, contendo o número dessas propriedades, sua área de superfície, produção e nomes dos respectivos proprietários. Tal qual uma corrida de bastão, chegou de novo a vez do competente e denodado funcionário Kunio Ochiai (de muito aposentado). Este, em um exíguo prazo de oito dias elaborou um mapa de fazer inveja ao melhor cartógrafo, no qual se viam a estrada da Yara e nos seus dois lados “ícones” representativos das propriedades rurais ali situadas e suas vias de ligação com a estrada; ao lado, um “quadro sinótico” contendo a área em hectares de cada uma, seu volume de produção e o nome do proprietário. Por nosso turno, tendo tudo isso em mãos e como chefe de gabinete do prefeito que éramos, redigimos novo ofício endereçado ao governador do estado. Nele, o prefeito reiterava o pedido de asfaltamento da estrada, anexo ao qual se achava o referido mapa e uma bem detalhada exposição de motivos na qual provava-se que a estrada-alvo, além de ser acesso para milhares de pessoas ao projetado centro crenoterápico já do conhecimento do governo, era também uma “estrada de escoamento agrícola”. Dito expediente chegou às mãos do governador por mercê do deputado estadual Fuad Nacli, representante parlamentar do município e que foi também um grande defensor do asfalto.

Mas como notório, a máquina governamental é, por natureza, de pouca mobilidade e com isso, o tempo foi passando, o mandato do prefeito Jamil Fares Midauar já caminhando para o seu último quadrimestre e nada do governo resolver o caso, mesmo porque não era coisa corriqueira mandar asfaltar nove quilômetros de uma estrada que iria servir apenas a um município, quando outros 398 batiam à porta do Palácio Iguaçú em busca de ajudas assemelhadas. No caso de Bandeirantes, o balneário projetado fazia a diferença sobre as “outras vias de escoamento agrícola”, mas mesmo assim, sentimos que “algo mais” precisava ser feito para tirar o carro do atoleiro. Estava faltando a “alavanca de Arquimedes”. Foi quando nos lembramos de Pedro Washington de Almeida, um alto funcionário governamental de carreira, nomeado assessor do governo para assuntos do interior e que por feliz coincidência se tornara amigo íntimo e compadre do prefeito Jamil. E foi assim que em uma das nossas idas à capital, fizemos-lhe uma visita e como seu amigo que também éramos, indagamos-lhe se gostaria de passar suas férias de janeiro (obviamente que com a família) em Termas Yara, como “convidado” de Paschoal D’Andrea. Ele, que tinha vários amigos em Bandeirantes e conhecia Águas Yara, embora de passagem, agradeceu o convite, ficou de consultar a família e dar o retorno. De volta ao Hotel Yara (onde já residíamos há três anos), informamos a D’Andrea do convite feito em seu nome, o qual de pronto foi por ele confirmado.

Era final de dezembro, quando Pedro Washington confirmou que aceitava o convite e mal passadas as festas de fim de ano, ele e sua família se achavam confortavelmente instalados no Hotel Yara. Aqui gozaram suas férias, findas as quais, após mil agradecimentos a D’Andrea pela gentileza, retornaram à capital e Pedro Washington retomou suas atividades. Escusado dizer que durante sua estada em Águas Yara, Pedro Washington não sofreu qualquer abordagem sobre a “dar um toque” no governador, do qual era assessor, sobre a questão do asfaltamento da estrada. D’Andrea, à parte ser o “gentleman” que era, era também um homem de rígidos princípios morais e jamais ofenderia (ou permitiria ofensa) a um seu convidado com uma tal abordagem ou insinuação, por mais sutil que fosse.

Mas Pedro Washington, um homem experiente e surpreendentemente perspicaz, constatou, “in loco”, o trabalho, as qualidades e a seriedade de D’Andrea e sentiu o quanto aquele asfaltamento beneficiaria Termas Yara e as centenas de propriedades rurais que dele se serviriam. Se Pedro Washington defendeu ou não esse asfaltamento junto ao governador, ninguém ficou sabendo. Mas o fato é que em fins de abril de 1977, três meses após ele haver passado suas férias na Yara e quando Jamil já não era mais prefeito, veio a notícia. O engenheiro civil Florisvaldo Palácios, nosso amigo e diretor regional do DER em Jacarezinho, nos telefonou e disse: “Walter, o governador autorizou o asfaltamento da sua estrada” (que era como esse engenheiro se referia à estrada da Yara: estrada do Walter).

(Continua na próxima edição)

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

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