Um fato novo na nossa história

*Walter de Oliveira

Toda história – de pessoa ou cidade – está sujeita a sofrer alterações no tocante aos fatos narrados, sejam estas “corretivas” ou “aditivas”. E é exatamente disso, e neste caso, de uma alteração “aditiva”, que tratará o presente artigo, o primeiro do recém-iniciado ano, que desejamos seja o mais especial e pródigo em alegrias para quantos lançarem as suas vistas sobre estas linhas.

Em artigo publicado na edição de 21 de agosto de 2021, contamos que a “criação” do nosso município começou pela formação, em 15 de junho de 1934, de uma comissão incumbida de “traçar o roteiro” das diligências que desaguassem na nossa sonhada “emancipação política”. Composta por Ozório Gonçalves Nogueira, Otacílio Arantes Pereira e Asdrubal de Figueiredo Gizzi, o primeiro passo dessa comissão foi dado pelo perspicaz Ozório ao fazer um meticuloso levantamento socioeconômico refletindo a pujança do distrito. O segundo passo, foi marcar audiência com o Interventor Federal Manoel Ribas, que designou o dia 22 do sobredito mês para esse encontro. Dotado de uma visão das mais acuradas, Ozório, jornalista que era – escreveu uma “alentada” reportagem sobre o distrito, a qual, com a ajuda do secretário de estado Raul Vaz, foi publicada na Gazeta do Povo, de Curitiba. Publicada “dois dias antes da audiência”, dita reportagem instruiu a petição que a comissão entregou ao interventor, e a menos de cinco meses daquela audiência, o distrito de Bandeirantes foi elevado a município. Tudo isso de fato aconteceu, segundo o livro de Solano Medina (O Município de Bandeirantes – 1950) e segundo também nos contou o próprio Ozório.

Todavia, o que nem ele e nem ninguém jamais contou ou trouxe a lume, é que “igual tentativa” (pedido de criação do município) já tinha sido feita em “10 de dezembro de 1931”, em petição endereçada ao General Mário Tourinho, então Interventor Federal que governava o Paraná. E para tratar desse assunto também se formara uma “comissão”, conforme decidido em reunião realizada no dia 08 de setembro de 1931, na escola pública do distrito. Presidida por Vito Bassani e secretariada pelo farmacêutico e Juiz de Paz Distrital Alcides Alvim Rezende, essa reunião contou com a presença de grande parte da população do distrito. No desenrolar dessa reunião foram feitas muitas manifestações e apresentadas várias sugestões, as quais votadas, resultaram na formação da referida comissão que ficou assim composta: Vito Bassani, José da Silva Carvalho, João Cravo, Pedro Bellan, Arcênio Ferreira, Sebastião Severino, Alcides Alvim Rezende, Luiz Rabello, Joaquim Cavaleiro Torres, Antônio Rodrigues Mesquita, Antônio Pereira de Menezes, Alli Nége, Sebastião Evangelista, Antônio Martins Pinhão, Ernesto Fischer e Joaquim Eugênio da Silva.

A informação dessa histórica e pioneira iniciativa tivemo-la através de “cópias” desgastadas e amarelecidas de documentos que recebemos de Aldo Francisco Matheus, que por sua vez as recebeu do seu genitor Antônio Francisco Matheus Júnior, de saudosa memória e antigo morador e comerciante da “Invernada”. Essas ditas “cópias”, de reconhecido valor histórico, entregá-las-emos ao Museu Municipal, onde ficarão à disposição do público bandeirantense, além, é claro, de serem citadas e reproduzidas em nosso livro.

O “porquê” do município de Bandeirantes não ter sido criado já em 1932 (o pedido foi encaminhado ao General Tourinho em 10/12/1931), ninguém sabe. Sabemos, isto sim, da importância e dos perfis daqueles dezesseis pioneiros que integravam a comissão formada em setembro de 1931. Dentre eles e para ficar em apenas três nomes (sem demérito dos demais), lembramos João Cravo, a maior liderança do distrito; Alcides Alvim Rezende, como já frisamos, um dos seus farmacêuticos (também o eram Ernesto Fischer e Arcênio Ferreira) e juiz de paz, e Pedro Bellan, um dos maiores batalhadores pela fundação da nossa Santa Casa e do Asilo São Vicente de Paulo. No cômputo final, todos esses dezesseis pioneiros eram homens proativos e prestos no desempenho de quaisquer tarefas a seu cargo. Supomos que a mais provável causa do insucesso daquele histórico pleito, tenha sido a “interferência” (contrária a ele) da prefeitura de Jacarezinho, pois a “criação” do município de Bandeirantes importaria (como importou, a partir de novembro de 1934, com a criação do município) em grande diminuição dos impostos e taxas que o distrito pagava, e que abasteciam os cofres daquela prefeitura.

Em atenção aos mais comezinhos princípios de civilidade, não se pode olvidar o mérito dos esforços daqueles bandeirantenses (uma contínua fonte de inspiração para a posteridade) na defesa dos interesses dos então habitantes do distrito, embrião do nosso pujante município. Embora uma mera abstração, lembramos que fosse aquela tentativa exitosa, a “sede” do nosso município não seria onde é hoje, mas sim, para além da fazenda da saudosa D. Emília Cravo, lugar onde nasceu e prosperou o povoado de “Invernada”, “marco zero” da nossa história. Pelo sim e pelo não, prosperou o pleito conduzido por Ozório Nogueira, reconhecidos e com louvor, os méritos dos esforços de Vito Bassani e seus heroicos pares.

Encerramos agradecendo ao senhor Aldo Francisco Matheus, por nos fornecer essas até agora desconhecidas e tão importantes informações históricas. No próximo artigo trataremos dos pioneiros do “Povoado da Estação”.

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.

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