Profª Ismênia Loretti Nogueira, primeira professora do Povoado da Estação e seus filhos Gerson Ozório e Pérsio Ozório

Pioneiros do Povoado da Estação –  Parte 01

*Walter de Oliveira

“Aqueles que primeiro chegam e se estabelecem num lugar”. Essa é a conotação que pretendemos dar à palavra “pioneiro”. São os casos de Eugênio Macaco e seus contemporâneos da “Invernada” e de João Fernandes da Silva e João Figueiredo (ou João Alagoano) no bairro Perobinhas.

No livro “O Município de Bandeirantes”, 1950, de Solano Medina, Ozório Gonçalves Nogueira nos informa: a) que a nossa estação ferroviária foi inaugurada em julho de 1930 e a ela foi dado o nome de “Bandeirantes”, o mesmo da sede do distrito (antes “Invernada”), situada a três quilômetros da estação (esse nome – é a conclusão mais lógica – a Rede o deu como uma homenagem à laboriosa população do distrito, dos mais pujantes da região); b) que por força da inauguração da estação, surgia ali um povoado, em terras de Juvenal Mesquita, do qual era procurador o seu primo, Eurípedes Mesquita Rodrigues. Este viria mais tarde, comprar de Juvenal as terras adjacentes, onde hoje se encontra a cidade de Bandeirantes; c) que em 1º de julho de 1931, inaugurou-se a primeira escola do povoado da estação, tendo por professora a senhora Ismênia Loretti Nogueira (esposa de Ozório, a qual, apesar de ter sido a primeira professora daquelas crianças pioneiras, nunca foi homenageada por quaisquer uma das nossas administrações nesses quase 88 anos de existência do município); d) que em 27 de setembro de 1931, as lideranças do povoado da estação iniciaram um trabalho de coligação (sic) em favor do seu desenvolvimento e consequentemente a queda da “Invernada”, onde se encontrava (sic) Cartório do Registro Civil, Coletoria Estadual, comércio, hotéis, farmácia, correio e etc.; e) que em 19 de março de 1932, tendo à frente Ozório Gonçalves Nogueira, Eurípedes Mesquita Rodrigues, José Gabeloni, Antenor Moretti, Pedro Rosa Luiz, Antônio e Vitório Storer, Josué Aranha e muitos outros, foi feita a limpeza da quadra 08, para a construção do primeiro rancho, no qual seriam realizadas as primeiras cerimônias religiosas; f) que em 1932, foram fundados os primeiros clubes esportivos e recreativos da estação; g) que em 03 de maio do mesmo ano, o padre João (cujo nome não é citado e que foi o monsenhor vigário (sic) da paróquia de Cambará) celebrou a primeira missa no patrimônio da estação; h) que no dia 03 de outubro de 1933, foi inaugurada a primeira capela (que era situada na quadra onde se acha atualmente o correio e o Palace Hotel), estando presente o Rev. Bispo de Jacarezinho, D. Fernando Tadei. Por fim, Ozório destaca como importantes nomes de lutadores pelo povoado os seguintes nomes: o dele próprio, Eurípedes Mesquita Rodrigues, Otacílio Arantes Pereira, José Pinhão, Hamilton de Oliveira, Joaquim Carreira, José Gabeloni, Pompeo Tomasi, Vicente Forcinetti, Benedito Manso, Antenor Moretti, Josué Aranha, Guilherme Knoll e “muitos outros nomes que resplandecem nesta bela cidade de Bandeirantes” (sic).

Idalino Cipriano Carneiro: o “pioneiro” do Povoado da Estação, ao lado do túmulo de sua primeira esposa

Temos até aqui, o que nos contou Ozório, através do livro de Medina. Todavia, e por havermos nos lançado a um trabalho – reclamado pela população local hodierna – de “atualização” e “resgate” da história do município, nos esforçaremos para aduzir alguns informes mais àqueles relatos. Para tanto, acrescentaremos a eles outros nomes e fatos. Nesse norte, iniciaremos falando da pessoa que pode, justificadamente, ser considerada o “pioneiro” do povoado da estação: Idalino Cipriano Carneiro. Mineiro da cidade de Cana Verde, ele veio para nossa região “antes” que chegasse a estrada de ferro. Quem o trouxe foi Juvenal Mesquita, um dos grandes nomes que por aqui passaram, mercê do seu singular proceder como um grande latifundiário da região e sobre o que falaremos, num dos próximos artigos. Voltando a Idalino, a sua missão como homem de confiança de Mesquita era evitar invasões e esbulhos na área de Mesquita, que perfazia todo o pontal entre os rios Cinzas e Laranjinha, e cuja única divisa por “linha seca” era o início de outro latifúndio, este pertencente ao major Hermes Alves Lima. Pela mesma época, ou pouco depois, Juvenal Mesquita trouxe também para cá o seu ainda jovem sobrinho, Eurípedes Mesquita Rodrigues, o qual ostentava como sua credencial, uma procuração com amplos poderes, para representar Juvenal e sua esposa, dona Conceição Conrado Mesquita. Em aqui chegando, Eurípedes formou dupla com Idalino, com o qual a única semelhança que se notava, era a seriedade no trato e cumprimento das obrigações que cada um tinha a seu cargo.

Eurípedes, bem mais jovem que Idalino, tinha, como este, um permanente ar de sobriedade. Católico praticante, seu rosto, apesar de sério, transmitia muita simpatia e calma, a mesma que tinha ao se mover e falar. Idalino, discreto e reservado, era homem de pouca conversa; só falava mesmo o necessário. Compleição física mediana e esguia, estava em permanente vigília e tinha o mover ágil de um felino, afora a sua aguçada visão, à qual nada se furtava, e dele dizia-se também ter o olfato de um lobo-guará. Já nas primeiras semanas de função, ele despertava a atenção, montando um ligeiro e bem tratado cavalo baio, de cuja lustrosa sela “São Jorge”, pendia um coldre recheado por uma carabina “papo amarelo”, que desencorajava a ação de qualquer mal-intencionado. Abrandava esse aspecto de destemor e valentia, o hábito que ele tinha de “tocar” com uma das mãos a aba do seu chapéu de palhinha, sempre que cumprimentava uma dama ou pessoa mais idosa. De sua carabina, ao que sabemos, nunca houve um disparo sequer contra alguém. Nós, apesar da diferença de idade, o conhecemos bem; não de conversas, uma oportunidade que nunca tivemos, mas de vista, como se costuma dizer. Idalino foi, para o povoado da estação – bem como para as terras de Juvenal e as que este vendeu para Eurípedes – o que foi Eugênio Macaco para a “Invernada”. A seu tempo e de modo semelhante, Eugênio Macaco e Idalino garantiram a ordem, a segurança e a harmonia dentro dos seus limites territoriais.

Eurípedes, para quem seu tio Juvenal vendeu as terras adjacentes à estação e sobre as quais está hoje a maior parte da nossa cidade, deixou para trás e para sempre, São Sebastião do Paraíso/MG, cidade em que morava e onde a família Mesquita tinha propriedade. Aqui conheceu e casou-se com dona Ana Rosa Bonfim (dona Rosinha) e tornou-se a figura lendária que todos conheceram. Sua singular e edificante história de vulto emérito será devidamente relatada nas páginas do nosso livro.

(Pioneiros do “Povoado da Estação” continuará…)

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

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