José Alves Machado da Cunha – “Machadinho” (dono do bar com esse nome), em foto cedida por sua filha Neusa Russo Cunha (Neusinha Russo)

Os Pioneiros, por ramo de atividade no povoado

Oitava Parte

Walter de Oliveira*

Continuando a listagem dos pioneiros donos de bar no povoado da estação (1931/1950), destacamos que além de registrar os nomes dos bares e seus respectivos donos, registraremos também alguns fatos a eles ligados, desde que de interesse histórico.

Voltamos hoje a listá-los a partir da letra h) destacando o Bar do seo Nazário, cujo lugar exato de sua localização não há como se dizer, uma vez que ficava à margem de uma estrada que não mais existe. Mas ainda assim, para que os leitores saibam mais ou menos a região, ele foi construído na estrada que vinha da cidade de Ingá (primeiro nome de Andirá) e que era a mesma estrada antiga que passando pela Usina, vinha pelo meio do canavial e passava em frente onde hoje está localizado o residencial Monterey, na esquina da Avenida Edelina Meneghel Rando, esquina com a Rua João Francisco Ferreira. Aí, declinando levemente à esquerda e descendo por ela uns 150 metros, o seo Nazário construiu o seu bar ou “boteco”, como se dizia à época. Possuidor de uma chácara de bom tamanho, seo Nazário fez uma grande plantação de banana nanica, e o boteco por ele erguido era, na verdade, um “ponto de venda” das muitas bananas que colhia. Sua ajudante nessa lida era a esposa, dona Ana, que para surpresa dele próprio acabou transformando aquela rústica construção num ponto de parada e frequência de muita gente. Dois eram os motivos daquele interesse público: a beleza e a qualidade das amarelas e nutritivas bananas e os “sonhos recheados com marmelada” que dona Ana fazia. Os mais deliciosos “sonhos” que os bandeirantenses da época e as pessoas que ali paravam haviam até então provado. Isto perdurou por quase duas décadas, até que o crescimento da cidade por aqueles lados transformou a chácara do seo Nazário em centenas e centenas de “datas de terras”, acabando com a estradinha, que por ser diagonal, nem como rua pôde ser usada, e acabou também com aqueles deliciosos “sonhos”, que somente a dona Ana sabia fazer; i) Bar do Machadinho – situado na esquina da Avenida Bandeirantes com a Travessa Hélio Gonçalves (onde hoje se situa a Loja Cem), esse bar foi fundado aí por volta de 1940/42, pelo mineiro José Alves da Cunha e Souza. Inicialmente chamado apenas Bar do seo José Alves, o nome “Machadinho” veio a ganhar força a partir de 1945, quando o único filho varão do seo Alves assumiu a gerência do negócio.

Seo Juvenal Corrêa (dono do Bar da Estação), tendo à direita, a esposa Ilda e à esquerda, a filha Idalina Corrêa Cosmo (mãe do advogado Paulo Wilson Cosmo, que cedeu a foto).

Seu nome era José Alves Machado da Cunha, sendo que o sobrenome Machado foi herdado da mãe Elvira. Conta-nos a sua filha Neusinha Russo (sobrenome da mãe, saudosa professora e também Neusa Russo), hoje residente em Praia Grande (SP), que seu pai dizia que dos cinco aos onze anos de idade, ele trabalhou como engraxate de sapatos, donde o apelido Machadinho e a sua espantosa popularidade. Deixando a cadeira (ou caixa) de engraxate, Machadinho começou a trabalhar no bar com o pai e em pouco tempo, tal era a sua garra, competência e habilidade com o público, que seo Alves, abdicou da direção do bar a seu favor. Nascia ali um dos bares mais populares e preferido que a Bandeirantes daquela época conheceu. À Vista e por conta de sua popularidade – conta Neusinha -, Machadinho foi convidado a candidatar-se a vereador, sagrando-se nas urnas, sem sequer se afastar do balcão do seu bar. Tudo foi muito bem – casamento com dona Neusa, nascimento das filhas Dora (Maria Auxiliadora) e ela, Neusinha –, até a primavera de 1963, época em que a rodovia BR-369 passava dentro da cidade, tudo virou de ponta-cabeça.

Um caminhão carregado de combustível perdeu o freio na descida da Avenida Baía (hoje Azarias Vieira de Rezende), e foi chocar-se frontalmente com o bar. Eram 17 horas e por sorte não houve perda de vidas. Mas em minutos, o que se via eram labaredas misturadas ao fumo escuro das nuvens de fumaça e ao final, tanto o bar, quanto as construções contíguas eram escombros, nada mais. Para Machadinho, cujos bens se resumiam ao bar e sua residência, não fora – segundo ele contava, diz Neusinha – a ajuda de duas pessoas de Bandeirantes, aquele incêndio teria sido a sua literal ruína. Uma dessas pessoas, conta Neusinha, foi o usineiro Paulo Antônio Meneghel e a outra, cremos nós, surpreenderá muita gente. Àquela época, a zona do meretrício era instalada à Avenida Minas Gerais (atual Avenida Prefeito Moacyr Castanho), e uma das principais donas das chamadas “casas de tolerância” era uma mulher que era conhecida pela maioria da população por “dona Maura”. Ela promoveu três fins de semana de “festividades” no prostíbulo da cidade e “cedeu seu bar” para ser explorado por Machadinho, que não se fez de rogado e aceitou a ajuda.

O procedimento dessa prostituta bandeirantense nos remete à narração bíblica do Velho Testamento, no livro de Josué, capítulo 2, versículo 3, que conta a boa ação praticada pela prostituta Raabe, ao esconder no sótão da sua casa, dois homens que Josué mandara para “espiar” a “terra de Canaã” e que estavam sendo perseguidos pelo rei de Jericó; j) Bar Marabá – pertencente a José Ayres, esse bar ficava na Avenida Bandeirantes, no exato lugar onde se encontra a Loja Ingazão – Materiais de Construção. Muito gentil e carismático, José Ayres foi outro dono de bar que chegou à vereança municipal e cuja clientela era também da zona rural e por isso, a grande movimentação da sua casa era aos sábados. Para ajudá-lo no dia a dia, mesmo contando com a eficiente ajuda da esposa, dona Pedrina, ele teve que contratar outro empregado.

O jovem que seo José Ayres contratou e sendo aquele o seu primeiro emprego, era Hely S’Antana. E isto, de ser aquele o seu primeiro emprego, foi o próprio Hely (mais conhecido por Hélio) que nos contou. Posteriormente casado com a professora Aparecida Vicente, Hely trabalhou na firma dos irmãos João e Issamu Matida e se aposentou como funcionário municipal, do quadro burocrático. De sua descendência conhecemos o Fernando, da Caixa Econômica e atualmente residindo em Londrina; k) Bar da Estação – como o seu nome sugere, esse bar funcionava num “apêndice” do prédio da estação ferroviária. O seu proprietário era o seo Juvenal Corrêa, cuja esposa, dona Ilda, era o seu braço direito, num trabalho que por décadas, não se falou num dia de folga; era de segunda a segunda, chovesse ou fizesse sol.

Ainda entre nós (embora sob constantes cuidados médicos), dona Ilda se tornou conhecida como a melhor fazendeira de empadas, coxinhas, risólis e pastéis que se possa imaginar. Seo Juvenal dizia com orgulho, que nas estufas do seu bar jamais ficou um salgadinho de um dia para o outro.

(continua…)

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.

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