Eurides Moura. De ex-vendedor-mirim do Bar do seo Juvenal (estação) a deputado estadual e Cidadão Honorário de Bandeirantes

Os Pioneiros, por ramo de atividade no povoado

Nona Parte

*Walter de Oliveira

Voltando ao labor de listar os pioneiros donos de bar no povoado da estação (e já na cidade) entre os anos de 1931 a 1950, retornamos à letra “k)” da ordem alfabética, quando no artigo anterior falávamos sobre o Bar da Estação e paramos com o seo Juvenal Corrêa dizendo, que das centenas e centenas dos salgados feitos por sua esposa Dona Ilda, jamais sobrou na estufa para o dia seguinte, um deles sequer. Engana-se quem pensar – e o afirmamos por conhecimento próprio – que apenas os viajantes nos trens de passageiros eram os únicos consumidores daqueles petiscos. Contavam-se por dezenas e dezenas as pessoas do povoado que já haviam criado o hábito diário de, em determinada hora (como hoje acontece com muitos de nós) descerem até o Bar da Estação e lá fazerem o seu lanchinho. Todavia, o seu grande consumo deles ficava por conta das centenas e centenas de usuários dos trens de passageiros, um fazendo o trajeto São Paulo – Londrina – Maringá e vice-versa, e o outro, Paranaguá – Curitiba – Londrina – Maringá e vice-versa; ambos esses trens faziam “paradas” de 20 minutos em Bandeirantes, para que as locomotivas “maria-fumaça” se reabastecessem de água e lenha, os seus combustíveis. E era nesses minutos que o time do seo Juvenal “entrava em campo”. Esse time, quem o compunha eram entre 08 e 10 garotos, cada um levando uma cesta de alça, de bom tamanho e repleta do melhor que saía da cozinha comandada por Dona Ilda. Mal o trem parava e os garotos do seo Juvenal subiam os degraus das escadinhas dos vagões (geralmente seis), em cujo interior, sem muito trabalho, em pouco tempo tinham esvaziado as suas cestas, tal era a aceitação do seu saboroso conteúdo. Cestas vazias, lá iam eles reabastecer e repetir a operação, que em média eram duas a cada trem que chegava. Era um corre-corre sem fim, porém, compensador tanto para seo Juvenal, quanto para os seus vendedores-mirins, que à tardinha iam para casa levando o dinheiro produto do seu trabalho e que certamente iria reforçar o orçamento doméstico.

Michel Calil Abrão (Michelão) e a esposa Iris Vicente Abrão (foto cedida pelo filho João Abrão)

Por óbvio, não nos lembramos de todos aqueles garotos, que um a um, exibiam boa aparência, roupas limpas e cabelos bem penteados. Dentre todos, um deles chamou a atenção do então telegrafista da estação, Valter Pinto de Souza, até poucos anos em nosso convívio, que chegando ao garoto perguntou se ele gostaria de trabalhar na ferrovia e aprender a operar o Código Morse (código de sinais sonoros usados na telegrafia, que representam pontos e traços) e a resposta foi sim, desde que o seo Juvenal estivesse de acordo (o garoto era grato pelo emprego que tinha). Considerado um pai para os seus vendedores, seo Juvenal concordou, e em pouco tempo a rede ferroviária contava com um novo e dedicado telegrafista em seus quadros. Dali, e também pelas mãos de Valter Pinto de Souza, ele foi trabalhar na agência local do Banco Noroeste de São Paulo (que funcionava na Avenida Bandeirantes, onde hoje está a Loja Serallê Calçados). E assim, em poucos dias, o jovem telegrafista, deixando o uniforme padrão de burocrata ferroviário, noutro e adequado traje era um desenvolto e competente bancário. Tanto isso é verdade, que decorridos menos de dois anos, aquele garoto, ex-vendedor de coxinhas, assumia o cargo de gerente do mesmo banco em Rolândia/Pr, cidade da qual ele foi por duas vezes eleito prefeito e também duas vezes eleito deputado estadual. Seu nome: Eurides Moura (hoje de saudosa memória), bandeirantense, tio do Roberto Moura (o Betinho da Padaria Bengala) e da professora Reni Moura Pires. Eurides figura entre a seleta galeria dos “Cidadãos Honorários de Bandeirantes”. Se narramos aqui a saga do garoto Eurides, não é apenas por ela ter se iniciado num bar pioneiro da nossa cidade e ter, por isso, vínculo com a nossa história, senão pela estimulante história de vida que ela é;

l) Bar do seo Belmiro – Júlio Belmiro foi, por muitos anos (a exemplo do nosso pai), colono na Fazenda Vera Cruz, até que ali pelo ano de 1939 mudou-se para a cidade e montou um modesto bar, o “Bar do seo Belmiro”, que ficava na saída para a mesma fazenda (hoje Avenida Edelina), uma quadra antes de onde hoje está o Sacolão Ueda, ao lado do Bar e Sorveteria do Yanaghi, já listado por nós;

m) Bar Paraná, ou Bar do Michelão. Fundado já no final da década de 1940, seu dono era Michel Calil Abrão, mais conhecido por Michelão e ficava na esquina onde está hoje o Lojão do Queima. Em uma casa contígua residia a família Calil Abrão. Michelão tinha também por seu braço direito, a esposa, Dona Iris Vicente Abrão, que era irmã do ex-vereador José Primo Vicente (Zelão) e da professora Aparecida Vicente Santana. Enquanto Michelão comandava o movimento do bar – no que era um mestre -, Dona Iris comandava a cozinha, de onde saíam as esfihas e quibes mais deliciosos que os bandeirantenses de então já tinham saboreado. Embora gastasse todo o seu tempo atrás do balcão do seu bar, Michelão tornou-se uma das pessoas mais populares da cidade e também das mais conceituadas, mercê do seu modo de tratar o público, da correção mantida em seus negócios e não menos pelo chefe de família que era. Sua esposa era prima de Dona Hane Miguel Richa, que era casada com Assad Khalil Richa. Estes eram pais do ex-governador José Richa e do empresário Jamil Richa e, por conseguinte, avô do governador Beto Richa. O senhor Assad, a pedido da esposa Hane, que queria estar perto de sua prima Iris, mudou-se para Bandeirantes, onde foi comerciante e de cuja loja ainda falaremos em artigo futuro. Como visto, em decorrência de Michelão ter sido um dos nossos pioneiros, nossa cidade já foi moradia de um adolescente que viria a ser governador do Paraná. Michel Calil Abrão e dona Iris tiveram onze filhos, dentre eles, a mais velha, Maria, marcou aqui a história dos Calil Abrão, que continuará no nosso próximo artigo.

(continua…)

* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

1 COMENTÁRIO

  1. Belíssimo trabalho.
    Registrar nossas memórias, é mostrar aos jovens de onde vieram, e com qual garra devem preparar suas histórias, para que as próximas gerações, também sintam orgulho de seus antepassados, como nós sentimos dos nossos.
    Parabéns e obrigado
    Michel Calil Abrão Junior

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