Os Pioneiros, por ramo de atividade no povoado
Décima Primeira Parte
*Walter de Oliveira
Este é o último artigo a listar os bares (e respectivos donos) pioneiros do Povoado da Estação (e cidade), entre os anos de 1931 e 1950.
Antes, porém, e em decorrência de uma observação da leitora Ione Chueire, acrescentaremos o nome de mais um pioneiro na história do Bar Paraná e faremos correção em dois nomes de familiares da nossa leitora, que citamos erroneamente no artigo anterior. Dissemos no dito artigo que o Bar Paraná foi fundado pelos irmãos Abdala e Roosevelt de Oliveira Chueire. Contudo, a leitora Ione nos lembra que o seu pai e seu tio já o compraram em funcionamento. Aí, diante dessa nova situação, fomos buscar informações a respeito, as quais encontramos com o mesmo cidadão que já nos socorreu no caso do Bar do Mário. Esse nosso informante (que insiste em se manter no anonimato) nos lembrou que o Bar Paraná foi, na verdade, fundado pelo nordestino João Lucena, cuja esposa, dona Florisa, fazia deliciosos “bom-bocados, quindins e queijadinhas”. De seo Lucena não temos outras informações e nem fotos. A única coisa que nos lembramos dele é que era irmão de Abelardo Lucena, piloto de avião de pequeno porte, e que aqui foi taxista e chegou a comandar a polícia local, como delegado indicado politicamente, o chamado “delegado calça curta”. Ainda graças à informação da leitora Ione, fazemos duas outras correções: a) uma das filhas de Roosevelt de Oliveira Chueire, o seu nome, ao invés de Isaura, é IVANA; b) a esposa do dentista Mário de Andrade Chueire (irmão de Ione) era IRACI e figura entre as muitas moças que foram “Miss Bandeirantes”.
Voltamos agora à listagem dos pioneiros no ramo em causa, tendo na letra n) o Bar do Pedro Barbieri, ou Bar da Bocha. Esse nome – Bar da Bocha – vem do fato do seu dono ter instalado uma cancha de bocha nos fundos do bar. Situado na hoje Avenida Azarias Vieira de Rezende, ficava ao lado de cima do atual Mercado e Peixaria Santana, em um terreno que fazia frente com a Azarias, a Rua São Paulo e a Travessa Amazonas, atual Rua Vereador Vicente Rodrigues de Matos, e fazia frente tanto pela Azarias, como pela Vereador Vicente Rodrigues de Matos. Era tocado por seo Pedro, no que era ajudado pelas filhas Páscoa, Maria e Tereza, que assavam os mais saborosos “pernis” que à época aqui se podia provar. À noite, o horário de cerrar as portas nunca foi além das 21 horas. Seo Pedro Barbieri foi casado com dona Maria Rizziori Barbieri e tiveram, além das três citadas filhas, os filhos Benedito, Marcelino, Orlando e Paulo. Esse último, ficou conhecidíssimo como pintor de casas e jogador do Guarani Esporte Clube, primeiro time de futebol da cidade.
o) Bar do Monoo. Esse bar situava-se na Avenida Bandeirantes, onde estão hoje a Loja Sol-Ro Modas e a Ótica Visão, mesmo prédio em que anos mais tarde funcionaram o Bar do Zé Enxerga e o Bar do Kojó (já depois de 1950). Esse bar, cujo dono era o japonês Shiniti Monoo, ganhou fama por haver se tornado o lugar onde os “ases” locais do bilhar e da sinuca travavam memoráveis disputas sobre as mesas de pano verde. Os considerados “cabeceiras” (os melhores) eram Antônio Portugal, Adalberto Dutra de Rezende, José Monoo (filho do dono do bar), o Sérgio Fogaça de Souza (o popular Sérgio Barbeiro).
p) Bar do Kaneco. Um bar bastante modesto, o seu nome não tinha nada a ver com o “caneco comum” e sim com o sobrenome do seu dono, Hideo Kaneco, japonês, como era o seu confrade Niyashiki, do Bar do Mário. Se o Bar do Seo Gonçalo – listado em artigo anterior – era chamado de “bar do último gole”, por ficar na saída para Abatiá, o Bar do Kaneco podia ser chamado de “bar do penúltimo gole”, pois situava-se na mesma saída. Para uma melhor compreensão de sua localização, esse bar ficava na Avenida Bandeirantes, logo após o antigo Posto Miyoshi, onde hoje é a loja Robertinho Moto Peças.
q) Bar Tropical. Esse bar situava-se na Avenida Bandeirantes, na esquina onde hoje está o prédio que foi a primeira agência do Banco do Brasil na cidade, e após isso e por quase quarenta anos, foi a sede do União Bandeirante Futebol Clube e “república” dos seus craques. Pois aquela enorme construção – hoje danificada pela ação do tempo, vandalismo e um incêndio – foi, nos anos 50, um dos mais luxuosos bares e ponto de “happy hour” de toda a região. Instalado no pós-guerra, comandava-o o seu fundador, o elegante e diplomático Luiz Rando. Ao contrário dos muitos outros bares pioneiros citados (cuja maior clientela era de moradores da zona rural e a grande demanda era diurna), a “safra” do Bar Tropical era após o entardecer. Foi nele – no Bar Tropical e também no Restaurante do Chico Knoll (a ser listado no momento oportuno) – que muitos bandeirantenses viram pela primeira vez os tais “menus” e “cardápios”, com nomes estranhos e de difícil pronúncia. Porém, esse luxo cosmopolita não teve vida das mais longas, posto que a sua demanda não foi a esperada e após um bom tempo de insistência no ramo, os resultados contábeis minaram a vontade e o otimismo daquele visionário empreendedor. A esse tempo, e certamente por concurso, Luiz Rando ingressou nos quadros do IBC – Instituto Brasileiro do Café –, transferindo-se para Curitiba, onde posteriormente, formado em direito, estabeleceu-se como advogado. Ele aqui casou-se com Margarida Gemba, mais conhecida por “Itinha”, de família pioneira no ramo da ferraria. E assim, com o histórico do Bar Tropical, encerramos a listagem dos pioneiros, do Povoado da Estação e cidade, no ramo de bar e lanchonete, nos anos de 1931 a 1950, a menos que surjam novas informações a respeito.
(continua…)
* Walter de Oliveira, 89, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932