
Walter de Oliveira*
De volta aos nossos lugares no imaginário trem de passageiros que nos conduz à nossa também imaginária viagem no tempo e no espaço, quando revisitamos, através destes relatos, épocas e fatos da história do nosso município e nomeamos seus respectivos protagonistas. Sendo um trabalho de reconhecida utilidade pública (e por isso muito gratificante para nós), é também dos mais espinhosos, por exigir equilíbrio entre a verdade histórica e a sensibilidade necessária para não ferir suscetibilidades.
Por isso, honram-nos muito todas as manifestações que recebemos da parte dos nossos ilustres leitores. Algumas, como a de Aldir Santos de Oliveira Tosti, de Cornélio Procópio, que narra a participação histórica da senhora sua bisavó, Laura Dias de Jesus Ferreira, ainda no início dos anos 30; de Maurício Zulmires, lembrando da atuação de seu pai, Antônio Cândido Zulmires de Campos, como secretário da câmara municipal (por cessão da prefeitura), e as dos vereadores Carlos (Carlão) Demício e Gustavo Luiz dos Santos (Gustavo do Té), professor da rede estadual de ensino e presidente da câmara municipal no biênio 25/26, estas nos cumprimentando pelo que estamos fazendo. Nos dois primeiros casos, a nossa gratidão é por nos fornecerem preciosos subsídios e nos outros dois, pelo conforto do estímulo traduzido em suas palavras. Ao ensejo, agradecemos também o contato do leitor Kelvin Nielsen, de Curitiba.
Continuando com a listagem dos nossos gestores e legisladores, iremos agora aos que foram eleitos no pleito de outubro de 1972.
Prefeito: Jamil Fares Midauar. Conhecido por muitos dos nossos contemporâneos (eis que falecido em anos recentes (2003), o paraense de Altamira (mas descendentes de pais árabes), Jamil Fares Midauar aportou em nossa cidade no início dos anos 50, em companhia de Jacob Elias Issa, da cidade de Londrina, que havia arrendado a Paulo Domingos Regalmuto Coffa, o complexo termal de Águas Yara e também a Cerâmica São Domingos. À época, tanto o complexo termal (hotel, engarrafamento e venda de água mineral) quanto a cerâmica, achavam-se cem por cento em atividade, e Jamil (dinâmico e expedito até seus últimos anos de vida), era o executivo ideal para os planos daquele seu “meio-patrício” e então patrão. Com a cessação do arrendamento (Paulo Domingos Regalmuto Coffa denunciara o referido ajuste), Jamil mudou-se para a cidade, quando adquiriu a Moisés Lupion, a Rádio Cabiúna, integrante da extensa Rede Guairacá de Comunicação. Foi quando, após ter sido vereador, e tentar já (sem êxito) eleger-se prefeito, ele recebeu o convite do Comendador Luiz Meneghel, para compor, como vice-prefeito, a chapa então vencedora no pleito de 68, como narrado em nossos fragmentos imediatamente anteriores.
Em julho de 1972 (último ano da gestão Luiz Meneghel), Jamil é homologado em convenção partidária, como candidato a prefeito, tendo por companheiro de chapa (vice-prefeito), Nelson Santos, radialista e já vereador, inclusive o mais votado no pleito de 1968. Face à sua presente e ativa participação na gestão do Comendador Luiz Meneghel, contou com seu apoio integral, o qual, não podendo estar presente nos atos de campanha (pelo seu estado de saúde), designou para representa-lo, o seu terceiro filho, Daniel, o qual esteve presente nos quarenta e três comícios durante aquela campanha, que a exemplo da que elegera Luiz Meneghel, foi por nós coordenada.
O candidato opositor a Jamil Fares Midauar foi Moacyr Castanho, apoiado por José Mário Junqueira e outras prestigiadas lideranças políticas. Enquanto Jamil, como candidato, tinha por vice-prefeito o já referido vereador Nelson Santos, o candidato a vice-prefeito de Moacyr era o renomado médico (de clínica e cirurgia) Ilton de Souza Guerra. Essa campanha foi, como a anterior (de 1968), das mais acirradas; contudo, tanto naquela quanto nesta, o vencedor teve significativa vantagem de votos sobre seu oponente, diferentemente do que ocorreria nas eleições de 1976, na disputa entre Daniel Meneghel e José Fernandes da Silva, como em breve veremos do seu relato.
Antes de relatarmos alguns detalhes interessantes do pleito que elegeu Jamil Fares Midauar como prefeito (detalhes que nos permitimos narrar até para deixar registradas nuances inimaginadas e que ocorreram naquela oportunidade), vamos à listagem dos vereadores e respectivos suplentes então eleitos. Pela chapa de Jamil Fares Midauar, foram eleitos os seguintes vereadores: Thomaz Nicoletti, Carlos Aparecido Garcia Delicato, Valdir Bittencourt, Olívio Mioto, Sebastião Oliveira Amaral, Geraldo de Souza Guerra, Pedro Ferraz da Silva e José Martins Marinho (Netinho). Pela chapa de Moacyr Castanho, foram eleitos Celso Menandro Silveira Fontes, José Mário Junqueira, Edson Hélio Bernardes da Silva, Jurandir de Souza Guerra e Issamu Matida. E como suplentes foram eleitos José Alves Cabral, Hélio Kajiwara, João Batista de Souza (Batata), José Washington Sant’Ana (Zezé), Walter de Oliveira, Abdalla de Oliveira Chueire (Dalico), Eric Umbehaum, Guilherme Martelli, Pio Belan e José Giovanetti.
Como atrás referido, era nosso propósito narrar fatos inusitados ou pitorescos ocorridos nessas campanhas, o que, todavia, terá mais sentido se feito em capítulo próprio do nosso livro. Por hoje, registraremos apenas – e até por seu inusitado – que foi durante a campanha de Jamil Fares Midauar, que os bandeirantenses (independentemente de sua preferência política) conviveram – ou ao menos os viam com frequência – com artistas da música sertaneja, que embora e então não fossem conhecidos do grande público, viriam a ser dos mais famosos do país, caso das duplas Milionário e José Rico, João Mineiro e Marciano, Mensageiro e Mexicano, Garcia e Zé Matão, Flor da Serra e Pinheiral e outros igualmente requisitados, como o humorista Jeca Tatu e o sanfoneiro e cantor Paulinho Gama (o Gaúcho Trovador), que fazia o público delirar com suas músicas “Para, Pedro”, “O baile da coceira” e “Não aperta Aparício”. Por conta disso, os quarenta e três comícios de Jamil, nunca tinham menos de mil a duas mil pessoas; eram uma festa e sempre terminados com o pronunciamento do candidato, sob intermitentes e calorosos aplausos. Os comícios da campanha do candidato Moacyr Castanho não contavam com atrativos. A propósito disso, cabe narrar aqui um fato pitoresco, protagonizado por Antônio Carlos da Silva (o popular Cacalo), que de futuro seria vice-prefeito. Ele morava no bairro Serrinha, gostava (e ainda gosta) de cantar músicas gaúchas e, diga-se de passagem, com bom desempenho. E assim, bastante comunicativo e divertido como é, ele “era o show” dos comícios de Moacyr, quando dizia: “- Se nos comícios do seo Jamil tem a dupla Flor da Serra e Pinheiral, nos de Moacyr tem o cantor Flor da Serrinha”; o que lhe rendia muitos aplausos.
Uma vez conhecido o resultado das urnas e com a sua ascensão ao cargo, Jamil mostrou a que veio, como o comprovaram as suas muitas realizações, das quais, suscintamente, nos ocuparemos na edição da próxima semana.
Continua.
* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932