
Walter de Oliveira*
De volta ao nosso (para nós, prazeroso) encontro semanal, quando trazendo a lume partes da nossa história, estamos listando os nomes dos nossos gestores e legisladores bandeirantenses e alguns fatos relevantes por eles patrocinados. Ao encerrarmos nosso artigo anterior, o fizemos com o relato de algumas das obras de maior relevância, realizadas nas três gestões do prefeito José Fernandes da Silva, repetimos, até hoje, o político que por mais tempo (14 anos e meio, somando-se as suas três gestões) esteve à frente da administração do município. Lembramos aos nossos ilustres leitores, que voltaremos ainda por mais duas vezes a discorrer sobre pleitos municipais que o elegeram prefeito, quando não mais trataremos das obras por ele realizadas.
Como já dito em “fragmentos históricos” anteriores, José Fernandes não concluiu os seis anos do seu primeiro mandato, posto que ele renunciou ao cargo, seis meses antes do seu término, quando concorreu como candidato a deputado estadual (não obtendo êxito). Foi então sucedido pelo vereador Moacyr Castanho Filho (o popular e tradicional comerciante de tecidos e armarinhos Cyr Castanho), que à época era o presidente da Câmara Municipal, e o primeiro na linha sucessória, ante a renúncia do vice-prefeito, o médico Ilton de Souza Guerra. Como também já dissemos, Moacyr Castanho Filho, dirigiu o município de Bandeirantes pelo período de seis meses, exercendo o chamado “mandato tampão” (um cargo para o qual não foi eleito). Desta forma, e assim como fizemos (e faremos) com os demais chefes do executivo, passaremos ao registro de algumas obras e providências administrativas realizadas (e tomadas) por Moacyr Castanho Filho durante os seus seis meses como prefeito municipal de Bandeirantes.
Pessoa das mais comedidas e pragmáticas na sua maneira de ser e agir, a sua primeira atitude ao assumir o comando do município (anteriormente tão competentemente gerido por seu pai), foi “tomar pé” da situação administrativa, tanto no que tange à parte econômico-financeira, quanto às possíveis obras em andamento; a primeira em prefeita ordem – segundo ele próprio – e a segunda, nada por terminar. A seguir, e embora o pouco tempo de que dispunha, Cyr Castanho fez como que um “raio x” de algumas providências que pudesse adotar, visando ao interesse público (para ele, o fator primeiro a se considerar), e cuidando ao mesmo tempo da preservação da tradição e nome que herdara. E assim, não obstante a exiguidade de tempo, podemos registrar, por lembranças nossas e confirmadas pelo próprio e de quem ora falamos, ao menos três importantes feitos, a saber:

- a) Muitos de nossos contemporâneos hão de se lembrar do triste e desolador cenário presenciado por quem passasse pela antiga Avenida Marechal Floriano (hoje Benedito Leite de Negreiros), ali, defronte onde hoje é o Posto Fera, até o Restaurante Kojó, quando, quiçá, pela desídia do poder público, aliada à pouca civilidade de algumas pessoas, formou-se um depósito de lixo, no decorrer de todo o muro da estação. Sob a sua diária visitação, o prefeito Cyr Castanho determinou a remoção daquelas toneladas de entulho e já na sequência mandou fazer o contrapiso de toda aquela área, que mais tarde, na gestão de João do Carmo Santiago, começaria a abrigar aquela tão bem-sucedida série de lojas, escritórios e estabelecimentos comerciais que ali hoje se vê.
- b) Enquanto isso, e no mesmo sentido e preocupação com o visual e embelezamento da cidade, Cyr Castanho removeu “outro depósito de lixo”, e desta vez ainda pior, eis que em pleno “coração da cidade”. Falamos do depósito de lixo existente bem defronte onde hoje é o Mercado Molini’s. Onde era o indevido depósito de entulhos, após removidos estes, Cyr Castanho construiu aquela pracinha ali ainda existente, conhecida como “Praça da Baixada”.
- c) Ante o bom resultado colhido entre a população por essas duas referidas iniciativas, Castanho voltou-se para a terceira, e que foi de suma importância para a população do Distrito de Nossa Senhora da Candelária (Sertãozinho), que de há muito padecia pela ausência do serviço de água potável. Lutando contra o tempo, mas movido pela necessidade das centenas de famílias ali residentes, que a partir da sensibilidade e sobretudo pela boa vontade política de um prefeito disposto a cumprir seu papel, desde então passaram a contar com aquele tão sonhado benefício.
Essas as realizações dos seis meses de mandato de Moacyr Castanho Filho como prefeito municipal. Seria justo se multiplicássemos esse semestre, por quatro anos; assim teríamos uma base do que Cyr Castanho faria, se prefeito fosse por um mandato inteiro.
E por último, e atendendo a um interesse histórico, convencemo-nos da justiça de registrar um fato bastante sugestivo da maneira pragmática de agir do prefeito Cyr Castanho, que é o seguinte: Enquanto ele se voltava para as suas obrigações de alcaide, por seis meses, os dois principais grupos políticos (o da Usina e o de Moacyr Castanho / Zé Fernandes – que já adquirira considerável status político), se articulavam com vistas às eleições que já estavam às portas, para prefeito e vereadores para o ano de 1983. O grupo da Usina se articulava em torno do nome de Paulo Sidney Zambon para prefeito, e o grupo Moacyr / Zé Fernandes em torno do nome do professor João do Carmo Santiago. O clima reinante prenunciava disputa das mais acirradas, sobretudo pelos resultados do pleito de 1976, que elegeu José Fernandes com apenas 146 votos de vantagem sobre Daniel Meneghel.
Foi quando, valendo-se da boa avaliação que ambos os lados faziam do seu curto (e bem-sucedido) mandato, Cyr Castanho ousou sugerir (e conseguiu) unir os dois grupos, com a proposta de colocar ambos os nomes (Paulo Sidney Zambon e João do Carmo Santiago) numa “cumbuca”, para a decisão. Os líderes dos dois grupos se reuniram no escritório da Usiban e cada candidato teve o seu nome escrito em vinte papeizinhos, os quais foram conferidos por todos os presentes. Colocados na “cumbuca”, e após bem sacudida esta, chamaram o porteiro da usina, o funcionário Luiz Gonzaga, e pediram que ele tirasse um papelzinho; o nome que saísse, seria candidato a prefeito e o outro a vice. Deu João do Carmo Santiago na “cabeça”, ficando Paulo Sidney Zambon por seu vice. Com isso, Cyr Castanho fechou com “chave de ouro” o seu “mandato tampão”.
P.S.: Confessamos nosso equívoco (que será corrigido em nosso livro) ao mencionar eleito vereador em 1976, Ademir Vieira, quando o eleito foi Ademir Torregiani, por sinal o mais votado naquele pleito.
Continua.
* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932