Prefeito José Fernandes da Silva (foto obtida no site da Prefeitura Municipal de Bandeirantes)

Walter de Oliveira*

Eis-nos de volta à nossa imaginária viagem no tempo e na história, quando os protagonistas desta (e alguns – não todos – dos seus feitos) são aqueles a cujo encargo estiveram as gestões e legislaturas do município.

Encerramos o artigo anterior discorrendo sobre a gestão de Jamil Fares Midauar e algumas de suas realizações. É mister ressaltar que até aquele ano, Bandeirantes tinha – segundo o censo do IBGE – 55 mil habitantes, a nossa região rural era densamente povoada (o que levou Jamil a construir 23 escolas rurais), e o comércio local era o de “maior movimento” da região, só perdendo de Ourinhos (SP) e Londrina. E um outro detalhe: o “quadro de servidores municipais ativos de então, não chegava a 700 funcionários (hoje 1.326). Um aumento que começou a ocorrer em 1977, ou seja, depois que Jamil encerrou a sua gestão. Voltamos a afirmar que estamos apenas e tão somente nos atendo a narrar dados históricos.

Voltando a um novo momento do nosso “passeio histórico”, vamos ao relato de um dos pleitos, cujo resultado foi, até hoje, o mais apertado da história da política bandeirantense: as eleições de outubro de 1976, polarizada entre o usineiro Daniel Meneghel (falecido em 2023) e o bancário, professor e advogado José Fernandes da Silva, concorrendo também, como já referido em nosso artigo anterior, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Eurípedes Bonfim Rodrigues (filho do pioneiro e fundador da cidade, Eurípedes Mesquita Rodrigues, tendo como candidato a vice-prefeito, Aldo Mania, então recém-formado engenheiro agrônomo.

O candidato Daniel Meneghel, tido como franco favorito) contava, obviamente, com o apoio de seu pai – e já um mito municipal – Comendador Luiz Meneghel, Jamil Fares Midauar (em final de mandato), dos candidatos a vereador e demais lideranças integrantes do grupo. O candidato José Fernandes da Silva, além do seu excelente e já referido currículo, contava ainda com o significativo apoio dos ex-prefeitos José Mário Junqueira, Moacyr Castanho e dos candidatos a vereador de sua chapa, bem como das lideranças do seu grupo. Afora esses apoios, um outro fator teria influído bastante a favor do candidato vitorioso: dois anos antes, portanto, em 1974, José Fernandes se lançou candidato a deputado estadual (apoiado pelo mesmo e tradicional grupo político. Essa decisão (lançar-se deputado estadual, dois anos antes da eleição para prefeito) foi, certamente, a mais acertada e oportuna de toda a carreira política de quem viria, por três vezes, ser prefeito da “Cidade do Açúcar”.

Acontece que, conversando diariamente com os agricultores do município, ele, como chefe da carteira agrícola do Banco do Brasil, tinha naquele seu posto de trabalho (legitimamente e sem ferir quaisquer dispositivos legais), um dos mais funcionais e produtivos palanques eleitorais. E embora com um dividendo político menor, o mesmo acontecia com a sua presença nas salas de aula, e até em sua banca advocatícia. A tudo isso (que por certo pesou em sua feliz decisão de sair candidato a deputado – embora sem se eleger), some-se o fato de que o candidato seu opositor à Assembleia Legislativa, era de Curitiba, e por isso fácil de ser tachado de um “paraquedista, que só vinha em Bandeirantes para pegar votos, se eleger, e depois trabalhar por Curitiba. Uma estratégia inteligente, eficaz, legítima que lhe rendeu milhares de votos, que foram repetidos na sua eleição para prefeito (fazemos o registro pela sua conotação histórica).

Se dizemos que o resultado dessa eleição de 1976 foi o “mais apertado”, é pelo mero e simples fato de que a vantagem do vencedor foi de apenas 146 votos, num total de 12.288 votos, que foram os sufrágios dos dois principais oponentes. Lembremos que nos dois pleitos anteriores (1968 e 1972), quando as disputas foram entre candidatos do mesmo grupo, em 1968, as diferenças ficaram na casa dos 800 votos.

Segundo nos confirmou o ruralista Roberto Casali Pavan, do grupo apoiador de José Fernandes (e a quem agradecemos), a campanha deste esteve sob a coordenação de Issamu Matida, Moacyr Castanho e Jurandir de Souza Guerra. Já a campanha de Daniel Meneghel, ficou sob a coordenação do então comerciante de atacado (e hoje industrial em Santa Mariana), Idálio da Cruz Inácio, amigo e compadre de Daniel. Nós, que como já foi dito, coordenamos as campanhas do Comendador Luiz Meneghel e Jamil Fares Midauar, na de Daniel Meneghel, ficamos na linha auxiliar.

Iniciada a tensa apuração dos votos, as urnas davam esses dois principais candidatos “cabeça a cabeça”, mas sempre com Daniel Meneghel à frente; isso durante a apuração das urnas eleitorais da cidade, uma vez que as urnas instaladas no Distrito Nossa Senhora da Candelária (Sertãozinho), eram sempre abertas por último. A confirmar a mesma proporção da cidade, Daniel seria o vitorioso. Todavia, já na abertura da primeira das cinco urnas do distrito (hoje, com a redução da população rural, são duas apenas), veio a surpresa, com significativa vantagem de José Fernandes. E assim, urna por urna do distrito, a vantagem de Daniel foi diminuindo, e no final, o resultado, com a vantagem de 146 votos para José Fernandes, que no dia 31 de janeiro de 1977, recebeu de Jamil Fares Midauar, a faixa de chefe do executivo, a qual permaneceria não apenas os previstos quatro anos, mas seis, eis que a Emenda Constitucional nº 14/1980, prorrogou por dois anos, todos os mandatos de prefeitos vencíveis em 31 de janeiro de 1981.

Do exposto, e do que ainda será contado em “fragmentos futuros”, José Fernandes da Silva foi o prefeito que mais tempo, e por conseguinte, mais oportunidades, teve de realizar obras em Bandeirantes e adotar medidas para o seu desenvolvimento e progresso. Ele foi prefeito por 15 anos, sendo seis anos na primeira gestão, cinco anos na segunda e quatro anos na terceira gestão, afora os oito anos de João do Carmo e Alécio Zamboni Neto, eleitos com o seu apoio. E a exemplo das gestões dos seus antecessores, também no seu caso, relataremos as principais obras por ele realizadas, assim como fatos de significado ou consequência, ocorridos em suas respectivas gestões.

Continua.

* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932

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