Primeiro prédio em alvenaria da prefeitura municipal, construído por Ozório Gonçalves Nogueira (foto de acervo pessoal).

SEPTUAGÉSIMA PRIMEIRA PARTE

Walter de Oliveira*

De volta aos nossos lugares do imaginário trem de passageiros na viagem no tempo e na história, retomamos a listagem dos pioneiros de Bandeirantes “já município”, quando o destaque é para aqueles que ocuparam os cargos de prefeitos e vereadores. Diferentemente dos pioneiros nos vários setores de atividades (comerciantes, industriais, profissionais liberais e outros), que listamos dos anos de 1930/1950, os agora listados compreenderão todos os que atuaram no campo político (assim compreendidos, repetimos, prefeitos e vereadores), desde os pioneiros até os atuais.

Dos dez primeiros prefeitos que geriram os destinos do município, com exceção do segundo (Eurípedes Rodrigues), os nove outros, como dito anteriormente, foram “nomeados” por decretos da interventoria federal ou da estadual.
O próximo que listaremos e daremos algumas referências é o oitavo, e que foi Agenor Ferreira dos Santos, que tomou posse em 25 de março de 1946 e governou o município até 07 de outubro do mesmo ano, portanto, por um período de pouco menos de sete meses. Agenor Ferreira dos Santos era coletor estadual de rendas do município.
Depois veio o período de Antenor Moretti, que tomou posse no cargo em 30 de outubro de 1946 e nele ficou até 28 de fevereiro de 1947, durante um período de exatos quatro meses. Ele foi, como já referido anteriormente, também pioneiro no ramo de serrarias e o primeiro provedor da Santa Casa de Misericórdia de Bandeirantes.

Sucedeu-o o cofundador da cidade, Ozório Gonçalves Nogueira, que tomou posse no dia 05 de março de 1947 e ficou no cargo até 09 de dezembro do mesmo ano, governando o município por um período de nove meses e 4 dias. Último dos nove prefeitos nomeados, Ozório pertencia ao restrito grupo de pessoas “que fazem a diferença” por “fazer acontecer”. E se dizemos isso é por tê-lo conhecido o suficiente, e pelo privilégio de havermos trabalhado com ele.

Conquanto fosse uma pessoa educada e pacienciosa, que sabia ouvir, era também expedito, direto e objetivo, jamais transigindo quanto a seus valores e princípios. Tudo isso e mais a sua conhecida probidade, capacidade e disposição para o trabalho, era o que constava do seu currículo. Da sua capacidade como estrategista e de trabalho, basta lembrarmos dois fatos: a) a alentada e bem elaborada reportagem que, – como jornalista que também era – ele fez sobre o então distrito de Bandeirantes, e que publicada na Gazeta do Povo, de Curitiba, em 20 de junho de 1934 (que será reproduzida em nosso livro), foi anexada ao pedido de criação do município, e muito influiu na decisão favorável do Interventor Federal; b) o primeiro prédio de alvenaria que abrigou a sede da prefeitura, até que esta fosse transferida para onde hoje se acha. O prédio construído por Ozório, em um curto e impensável (não para ele) prazo de nove meses, é o prédio de dois andares, na esquina com o Educandário Santa Isabel e o Salão Paroquial Frei Rafael Proner, e que até pouco tempo atrás abrigava a Secretaria de Educação.

E quanto à probidade e escrúpulo de Ozório Nogueira, no gasto do dinheiro do contribuinte, muito embora se trate de um fato já narrado em artigo anterior destes “fragmentos”, permitimo-nos repeti-lo, sobretudo face aos abusos, mau uso e desvios de recursos públicos, que aos poucos foram impunemente ocorrendo e acabando por assumir “feição legal” e “toleráveis” na maioria das administrações públicas do país.
Tendo audiência marcada com o governador Moisés Lupion, Ozório tomou o trem e viajou à capital, onde permaneceu três dias. De retorno, chamou o tesoureiro Archimedes Ferreira, e lhe entregou os comprovantes das “despesas de viagem” de sua ida à capital, dizendo-lhe que os somasse e lhe ressarcisse pelos gastos feitos, que foram pagos com dinheiro dele, Ozório. Archimedes saiu, e minutos depois retornou com a soma das despesas, mas sem fazer o cheque da “devolução”, por achar que “faltavam alguns comprovantes”, uma vez que das notas somadas não tinha uma sequer relativa às refeições feitas por Ozório durante os três dias de viagem. Em resposta, o prefeito simplesmente sorriu e disse: “Não há erro Archimedes. As passagens de ida e volta de trem, assim como as corridas de táxi e os dois pernoites no hotel, não foram despesas minhas como pessoa; foram do prefeito, e a prefeitura tem que pagar.

Mas as despesas com alimentação, essas são necessidades minhas, do meu corpo; sendo eu prefeito ou não, eu tenho de satisfazê-las para “continuar vivo”, e a prefeitura não é obrigada a pagá-las. Então não tem erro. (o fato nos foi contado pelo próprio tesoureiro, de quem também tivemos o privilégio de ser amigo).
Hoje, quando o dinheiro público é visto por muitos como coisa pessoal, essa conduta comprobatória da probidade e escrúpulo no seu manuseio, é possível até se ser vista por muitos, com ar de mofa ou deboche. Mas essa foi a postura de Ozório Gonçalves Nogueira, o último dos prefeitos nomeados daqueles idos.

Passaremos, na sequência, para a listagem dos prefeitos eleitos, consoante estabelecido na legislação eleitoral vigente de cada pleito. Listaremos igualmente, os vereadores e em alguns casos, os suplentes, tudo em conformidade com os dados obtidos do Tribunal Regional Eleitoral.
Continua.

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