SEXAGÉSIMA SEXTA PARTE
Walter de Oliveira*
Embora seja esta quarta-feira já a segunda deste ano, é nela que, após a “virada da folhinha”, temos o nosso primeiro encontro com os nossos ilustres leitores, aos quais, ao ensejo, auguramos votos de saúde, paz e prosperidade em 2025. Será neste ano, permitindo-nos Deus, que concluiremos este trabalho de resgate histórico, talvez dos mais morosos de que se tenha notícia, consequência das muitas interrupções que lhe foram impostas. Mas, com a ajuda de Deus, estamos (juntamente com nosso filho e parceiro de trabalho – Waelson) na reta de chegada dessa prova de resistência. Todavia, não quer isso dizer que se trate este resgate, de um trabalho a apenas “quatro mãos”, e por isso insistimos na maior ajuda e interações possíveis dos nossos leitores e concidadãos; seja com informações e/ou fotografias.
Bandeirantes, é coisa cediça, completou em novembro próximo passado, noventa anos de emancipação política (ou seja, de criação do município). Mas a “sua história”, esta vai para além de cem anos, a contar da embrionária “Invernada”, com a construção do acampamento do engenheiro Carlos Borromei, em 1901, na encosta à margem esquerda do Ribeirão das Antas, que mira a casa-sede da fazenda de João Cravo. Apesar das nossas limitações, esperamos que o trabalho satisfaça à expectativa e o objetivo proposto.
Feito o preâmbulo, voltemos à listagem dos pioneiros do povoado da estação e da cidade (anos 1930/1950), quando, no artigo anterior, tratávamos dos “donos de sorveteria”, com o próximo sendo da letra “f”.
f) Hideo Kaneko. Este pioneiro já foi listado no artigo em que tratamos dos donos de bares e restaurantes (33ª parte destes fragmentos).
g) Manoel Nascimento Trindade. A rua que liga a BR-369 (na esquina da empresa Schimith Pneus) ao Parque do Povo, leva o nome desse pioneiro, que embora fosse um homem bastante humilde, era figura de bastante notoriedade, a partir do seu manifesto interesse em participar do cotidiano da nascente cidade. Tanto isso é verdade, que o pioneiro “Mané Nascimento”, como também era conhecido e chamado, chegou a presidir o diretório municipal do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), fundado por Getúlio Vargas. Ligado à classe dos trabalhadores rurais, o pioneiro Trindade (que nos anos do auge do café, era empreiteiro de turmas de trabalhadores avulsos – os famosos “gatos”), chegou, por isso, a ser preso na revolução de 1964, e liberado em poucos dias, em razão de problemas cardíacos. Em época anterior, ele foi vereador pela mesma legenda, tendo por pares, dentre outros, figuras como o Comendador Luiz Meneghel, Mário Amaral Pacca, Eurípedes Rodrigues, Yves de Oliveira Ribeiro, Mauro Conrado Mesquita, Geraldo Paulino de Carvalho, Antônio Braga Xavier e José Ayres.
A sorveteria de Manoel Nascimento Trindade, ficava à Avenida Bandeirantes, esquina com a antiga rua Quintino Bocaiúva (atual Prefeito José Mário Junqueira), defronte ao prédio onde hoje está a loja Tecidos Castanho. O pioneiro Trindade foi casado com dona Odília Magalhães Trindade e o casal teve os filhos Floriano, Odete, Nelson, Álvaro (também conhecido por Alvim), Pedro, Sebastião e Nilce (Nicinha).
h) Otávio Mariano de Souza. Desse pioneiro, a única homenagem que a história lhe prestará será a menção ao seu nome, porquanto baldados foram os nossos esforços na busca de outras referências à sua pessoa.
i) Paulo Toschiani. Semelhante ao pioneiro anterior, é o caso desse pioneiro, último que a história lista, do ramo de sorveterias.
Seguiremos agora para a listagem dos pioneiros no ramo de “serrarias”, a qual à ausência do nome dos pioneiros, se dará com a citação do nome da empresa.
Dessa forma temos: a) Oliveira e Junqueira Ltda e b) Companhia Territorial Maxwell. Destas duas empresas, sabemos de sua existência por conta de anotações de impostos por elas recolhidos. Todavia, não logramos saber os locais de seu funcionamento, nem tampouco quem eram os seus proprietários.
c) Serraria Moretti. Situada no local onde hoje é a Estação Rodoviária, essa serraria foi fundada pelo pioneiro Antenor Moretti, um dos nomes de grande destaque na nossa história, conforme já dito em parte anterior deste trabalho.
Diferentemente das serras-fitas, usadas nas regiões de ocorrência de araucárias (pinho), as serrarias da nossa região (de espécies de madeiras duras, como perobas, cabiúnas, marfins e outros), usavam serras de “golpes” e “circulares”, que iam desde a “desdobradeira – vertical” (que recebia a tora bruta e a desdobrava em blocos), a “francesa”, que era formada por várias e pequenas folhas de serras, que transformavam os blocos de madeira em várias bitolas (tábuas, caibros, ripas e etc.). Afora esses mecanismos, havia vários outros: serra-circular, destopadeira, plaina (para a produção de assoalho e forro) e outros mais, dependendo da criatividade do gerente operador da indústria.
Outra coisa que diferenciava as serrarias de então, era a “origem da sua força motora: elas eram movidas a “força-vapor”. Nada menos que uma potente locomotiva, apta a puxar vinte ou trinta vagões, fixada sobre sólida base de concreto armado e alimentada pela queima dos resíduos de madeireira. Afora a serraria propriamente dita (o imenso e bem construído barracão, o “colosso de aço” que a movia e todas as suas máquinas), tínhamos a “esplanada”, um imenso terreno reservado para “estaleirar” as toras vindas da mata. Esta, a parte física. Mas para quem, como nós, que trabalhou por cinco anos ligados à essa atividade, outras memórias acodem à mente, como a movimentação de duas dezenas de pessoas na busca do seu ganha-pão.
Um trabalho perigoso, onde um pequeno descuido poderia custar a perda de um dedo ou de um braço. A comunicação entre os operários, mais gritada do que falada, ainda assim era prejudicada pelo resfolegar do locomóvel e pelos mais diversos sons e ruídos, produzidos pelo funcionar de cada máquina e da própria madeira ao ser cortada por estas. Às onze em ponto, o grave apito do vapor anunciava a esperada hora do almoço, com quarenta minutos de silêncio para se fazer o “quilo”, e poder, enfim, falar alguma coisa sobre a vida.
Continua.
* Walter de Oliveira, 92, articulista desta Folha, é bandeirantense, nascido em 1932.