Estudantes de Assaí conquistam prêmios da Fundação Oswaldo Cruz

Boas práticas desenvolvidas a partir da transformação de óleo de cozinha em produtos sustentáveis e economicamente viáveis por alunos da rede estadual de ensino de dois colégios do Paraná foram reconhecidas e premiadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no mês passado durante a Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (OBSMA). Um grupo do Colégio Estadual Conselheiro Carrão, de Assaí, e outro, do Colégio Estadual Jardim Independência, de Sarandi, respectivamente das regiões Norte e Noroeste, foram os contemplados.

As alunas de Assaí, sob a orientação do professor Matheus Souza, da disciplina de Ciências, conseguiram produzir biodiesel a partir do óleo de cozinha, e conquistaram o pódio na ‘Regional Minas Gerais Sul’. Vão receber o prêmio nos próximos dias na sede da instituição no Rio de Janeiro. “Ver o projeto sendo reconhecido e, ainda mais, um produto desenvolvido por alunas do Ensino Médio, incentiva outros jovens a seguirem nesse caminho”, comemora o professor.

Concebido desde o ano de 2022, durante as aulas de Física e Química, o projeto das alunas de Assaí deu origem à startup júnior chamada de Biosun, que acentua o protagonismo feminino na ciência e na tecnologia ao aceitar apenas alunas como integrantes. Em 2023, após ser a única escola a conquistar um estande próprio no evento Green Nation, que promove a reflexão sobre questões ambientais, que acontece há uma década em São Paulo, a equipe se sentiu motivada a criar outros projetos, garantindo a continuidade da Biosun, com a chegada de novas estudantes.


BIOSUN – Atualmente, três das cinco idealizadoras originais do projeto estão na universidade, enquanto as outras duas, Fabiane Hikari Kikuti e Eduarda Pietra Santos Paixão, concluirão o Ensino Médio em 2024, e à frente da startup, que hoje conta com 40 alunas. “A Biosun tornou-se um símbolo de transformação ambiental, social e educacional em Assaí”, garantem.

A iniciativa das estudantes do Colégio Conselheiro Carrão, que teve como ponto de partida a busca por uma alternativa menos usual que a produção de sabão a partir do óleo de cozinha, contou com muita pesquisa e mentoria para se chegar a um biocombustível viável. Tão viável que, com o apoio da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Câmpus de Jandaia do Sul, que cedeu laboratórios para a produção em maior escala, passou-se a gerar mais biodiesel, que foi testado – e aprovado – em um ônibus escolar da Prefeitura de Assaí durante o desfile de aniversário do município. Além de circular pelo evento, o veículo funcionou por uma semana com o combustível sustentável, um marco para o projeto.

USINA – O impacto do trabalho impulsionou novas conquistas. Atualmente, está em fase de instalação uma usina de biodiesel dentro do colégio viabilizada em parceria com a prefeitura. O objetivo é que, no futuro, todo o combustível para a frota de ônibus escolares do município seja produzido no próprio colégio. “Isso mostra o poder transformador da ciência quando aplicada à realidade local”, destaca Matheus, e reforça que é perceptível a visão dos próprios moradores sobre Assaí por seus ideais sustentáveis. “Com destaque na promoção de uma educação ambiental difundida entre os alunos, e isso possibilitou a valorização de projetos criados por estudantes”, observa Eduarda Paixão, de 18 anos, uma das participantes do projeto.

SARANDI – Outro destaque da Olimpíada que recebeu certificação da Fiocruz foi o sabão líquido produzido também a partir do reaproveitamento do óleo, por um grupo de alunos de Sarandi, gerando impacto positivo para o meio ambiente e na economia da escola. “A ideia surgiu a partir do conhecimento popular da produção de sabão em barra, mas com o pensamento de criar uma versão líquida, que seria mais adequada para o ambiente escolar, por causa do tamanho da edificação”, conta a professora Juliana Antoniassi, responsável pela Sala de Recursos para Altas Habilidades da instituição, uma das idealizadoras da ideia.
O projeto, criado em conjunto pelos alunos de 15 anos Lara Vitória Ferreira e Luiz Fernando Alcântara, do 1° ano do Ensino Médio, recebeu o nome de “Poluição pelo óleo de fritura – principais problemas e possíveis soluções disponíveis”, e uniu o saber popular e o conhecimento científico para enfrentar o descarte inadequado do óleo de cozinha.

Para Lara de Souza, o maior legado do trabalho é justamente a transformação que ele proporciona na comunidade. “Me sinto muito orgulhosa, privilegiada e realizada por cada conquista, porque representa muito para o nosso colégio, para nossa vida acadêmica e para a nossa comunidade como um todo”, acrescenta.
Mais que receber prêmios, as duas propostas colocadas em prática estão gerando benefícios para as próprias instituições de ensino e para a comunidade escolar dos seus municípios. Tanto que no entorno do Colégio Independência, os moradores se envolvem doando o óleo de cozinha que sobra. Outra parte vem da cantina da instituição, coletada por um funcionário. O resultado é que, desde que o projeto foi colocado em prática, no ano passado, toda a limpeza do prédio é feita com o sabão líquido. A economia mensal chega, em média, a R$ 700. “Isso demonstra o poder de aliar o conhecimento à prática, especialmente em projetos que têm continuidade e propósito dentro do ambiente escolar”, destaca a professora.

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