Perspectivas de Mulheres Vaqueiras
A professora e advogada Eliana Pedroza, da Paraíba, está construindo uma pesquisa bastante instigante no programa de Pós-Graduação Stricto Senso (Mestrado em História Pública) da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) visando ampliar compreensões sobre a cultura e a representação social das mulheres vaqueiras que participam das vaquejadas nordestinas. Ela menciona que a prática da derrubada do boi era dominada por homens desde de sua origem, ainda nas festas de apartação. Esse esporte equestre de origem essencialmente nordestina, hoje, é um espaço dividido com as mulheres.
A partir de entrevistas e referências memoriais, além de uma intensa imersão aos autores que também investigam o campo temático, ela tem descoberto personagens muito especiais. Uma delas é a campinense Sthefani Cardoso, de 21 anos. Com suas botas calçadas, batom, luvas de proteção e unhas feitas, ela se destaca em derrubar o boi na faixa, quebrando a tradição feminina da família e seguindo os passos de seu pai, em busca do sonho de ser sempre campeã nas vaquejadas por onde caminha.
A pesquisadora explica que, “A gênese da vaquejada é por volta dos séculos 17 e 18, no sertão brasileiro. Esse esporte consiste em dois cavaleiros (bate esteira e vaqueiro), montados a cavalo, derrubar o boi na faixa, o puxando pelo rabo, como, ainda, era feito no passado, onde a pecuária era extensiva, para trazer o gado bravo da caatinga para fazenda e apartar, dividir entres seus donos”, explica Eliana.
Outra personagem que integra os relatos memoriais levantados para a pesquisa é a Rosimeire Santos, de 26 anos, que diz, “Acho lindo as mulheres ocupando novos espaços, gostaria de ter mais tempo e dinheiro para poder me dedicar totalmente ao que gosto”. Rosimeire é acadêmica de medicina veterinária, associada à ASSOVA-PB (Associação das Vaqueiras da Paraíba). Em seus relatos, a vaqueira conta para historiadora que ainda não tem patrocínio para correr nas vaquejadas e corre na categoria amadora enfrentando várias dificuldades.
Entendendo que produção historiográfica pode ser realizada em espaços ditos como não convencionais, a historiadora e mestranda Eliana, vai tentar compreender melhor a vaquejada pela ótica de três vaqueiras paraibanas ligadas a ASSOVA-PB. Para isso, irá acompanhar as vaqueiras em seu dia-a-dia dos treinos até o dia do grande espetáculo, a festa de vaquejada, com a partilha da oralidade colaborativa, manifestação cultural e história pública .“Quero compreender o que é ser vaqueira, quais as relações e as tensões constituídas neste espaço” menciona a professora, que pretende entender qual a relação com o masculino, acústicas, amores, frustrações, rotina do dia-a-dia, lembranças, relação com os bichos, assédios, sonhos, valores financeiros gastos, medos, relação com o público, família. “Quem são as vaqueiras paraibanas, pela perspectiva de três jovens, que “corre boi” com tanto amor e bravura. Quero lhes conceder vozes até então, silenciadas. Com isso, esperamos apontar, contribuir com novos horizontes na produção de história pública”, conclui.