O Sistema FAEP repudia com veemência a decisão do Carrefour de não vender carnes provenientes do Mercosul – bloco que tem como membros Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, além de outros países associados. A suspensão foi anunciada na quarta-feira (20), por meio de um comunicado divulgado pelo CEO do Carrefour, o francês Alexandre Bompard. Posteriormente, a rede varejista emitiu uma nota afirmando que a decisão de não comercializar carnes do Mercosul só vale para as unidades do grupo na França.
O presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, classifica a decisão do Carrefour como absurda, já que a carnes brasileiras são produzidas observando rígidos protocolos sanitários e de qualidade. Em razão disso, os produtos da pecuária brasileira são reconhecidos por sua excelência, por adotar severas exigências sanitárias, e exportados para nações como o Japão e outros países da União Europeia. Em 2023, o Brasil exportou 8,8 milhões de toneladas de carnes (bovina, suína, de frango e de peixe) para 188 países, totalizando 23,5 bilhões de dólares. No ranking, a França está na 117º posição.
No caso do Paraná, o sistema sanitário é robusto e os pecuaristas têm compromisso em produzir carnes de qualidade tanto para o mercado interno quanto para as exportações. Prova disso é que, em maio de 2021, o Paraná foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal como área livre de febre aftosa sem vacinação – chancela internacional que reconhece a eficiência e a segurança do serviço sanitário do Estado. No ano passado, o Paraná exportou 2,3 milhões toneladas de carnes para 52 países, o que resultou na receita de US$ 4,3 bilhões.
“O Paraná tem a mais alta chancela de sanidade. Diante disso, o Carrefour desacredita essa certificação internacional e também o fato de que outros 187 países comprar nossas carnes”, destaca Meneguette, que também é o presidente do Conselho Deliberativo do Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Estado do Paraná (Fundepec-PR), que participa da estruturação de políticas públicas voltadas à defesa agropecuária do Paraná.
“O nosso status sanitário reforça o compromisso com a sanidade animal. Dentro da porteira, os nossos produtores rurais fazem seu papel com rigor e excelência, seja na produção de carne bovina, suína, de frangos ou de peixes. A decisão do Carrefour não está amparada por qualquer motivação técnica”, complementa.
O CASO – Na quarta-feira (20), o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, usou suas redes sociais para emitir um comunicado endereçado ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA) da França, Arnaud Rousseau. O executivo do Carrefour disse que, após ouvir o “desânimo e a raiva” dos produtores rurais franceses, decidiu deixar de comprar carnes do Mercosul, independentemente dos “preços e quantidades de carne” que esses países possam oferecer.
A decisão tem como contexto um cenário de amplas manifestações que produtores rurais franceses vêm promovendo contra uma proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Iniciadas na última segunda-feira (18), os atos organizados pela FNSEA e pelo grupo Jovens Agricultores incluem bloqueios de rodovias e fogos em objetos.
Diante da reação de diversas entidades brasileiras, incluindo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Carrefour emitiu uma nota na quinta-feira (21), afirmando que a suspensão da compra de carnes do Mercosul se restringe à França e que a medida não afetará as operações do grupo em outros países, incluindo as no Brasil. O comunicado também enfatizou a que a decisão não está relacionada à qualidade dos produtos do Mercosul, mas que tem vínculo apenas com o atendimento de uma demanda do setor agrícola francês.